sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

0120. Papa bate na mão de fiel



O Papa bateu na mão de fiel depois desta o ter agarrado e puxado com alguma veemência.
Posteriormente viria a público pedir desculpa pelo ato.

A maior parte das pessoas dirá obviamente que o papa é humano e que toda a gente perde a paciência em algum momento da vida…
Mas a verdadeira questão não é esta.
A verdadeira questão é o gesto e a sua simbologia.

O gesto teve repercussão a nível global… praticamente em toda a comunicação social… e compreende-se porquê. O papa é o representante máximo de uma das maiores crenças religiosas, o que, decerto, terá deixado muita gente a pensar… religiosos e não religiosos.

Eu próprio pensei um pouco e escrevi estas palavras depois de ver as imagens num noticiário.

O papa como máximo representante de “Deus”, deveria estar num grau de paciência exemplar, acima de qualquer comum mortal, uma vez que é ele que aconselha a não agir de tal forma.

Mas, na realidade, o papa é apenas um ser humano, como qualquer outro ser humano.
O papa também perde a paciência e também erra, como qualquer outro ser humano.
O papa também morre como qualquer outro ser humano.

Se observarmos mais atentamente o gesto, talvez consigamos perceber que não será mais do que uma reação espontânea e natural, típica de qualquer ser vivo ao sentir-se acossado…
Todo os seres o fazem para se proteger.

Quem nunca fará ou reagirá a tal gesto será, obviamente, uma suposta divindade!


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-01
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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0119. Auschwitz




Ouvi[1], a propósito dos 75 anos da libertação de Auschwitz, que…

“Um homem não é homem sem visitar Auschwitz…” que “não se compreende o Holocausto sem visitar Auschwitz…”  e que “só assim se pode compreender a Natureza humana e os seus lados mais sombrios…”[2]

Auschwitz não se compreende.
Auschwitz nunca se compreenderá.
Compreende-se o que cada um compreende sobre Auschwitz.

Só quem, nessa altura, lá esteve,
Terá verdadeiramente compreendido,
Tendo ou não sobrevivido.

Ir lá,
Ver com os próprios olhos,
Ver aquele arrepiante local de morte e extermínio…
Ver aquela “máquina de triturar ser humanos…”[3]
Ajudará certamente a imaginar.

Ir lá,
Presenciar e pisar com os próprios pés,
Presenciar e sentir os destroços daquele passado,
Presenciar e pensar os monstros daquele pesadelo,
Ajudará certamente a imaginar.

Ir lá,
É precisamente, por enquanto, a minha intenção.

Quero sentir toda aquela dimensão,
Quero imaginar aquele horrível massacre,
Quero pensar aquele ignóbil genocídio,
Quero confirmar toda esta medonha história da humanidade.

Preciso realmente compreender melhor a natureza humana.
Preciso realmente compreender a mente de alguns humanos.
Preciso realmente compreender como e porquê, ali, naquele local,
Seres humanos,
Matavam vinte mil seres humanos por dia?
Matavam vinte mil semelhantes por dia?
Sem que sequer um alarme
Surgisse na sua mente, demente...

Auschwitz foi “levado a cabo por homens absolutamente comuns…”[4]
Auschwitz foi executado por “pessoa educadas… bons pais de família”[5]

É verdade!
Mas “cegaram”.
Cegaram absolutamente.

Cegaram pelo racismo entranhado…
Cegaram pela obediência indiscutível…
Cegaram pela disciplina férrea…
Cegaram pela crença inabalável…
Cegaram e transformaram a natureza humana,
Em natureza desumana.

“Não estamos livres que um dia tal se repita…”
É verdade!

Não estamos livres que um dia tal se repita!

Agora mesmo,
Neste momento presente,
Vemos seres humanos matar os seus semelhantes.

Por isso é preciso contar a toda a gente o que ali aconteceu.
Por isso é preciso que toda a gente saiba o que ali aconteceu,

Citando Saramago:
Auschwitz não está fechado, continua aberto e as suas chaminés continuam a soltar o fumo do crime que todos os dias se perpetra contra a humanidade mais débil. E posso assegurar-te que não quero ser cúmplice, com o meu cómodo silêncio, de nenhuma fogueira."[6]

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-27
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1] Observador
[2] Observador
[3] Observador
[4] Observador
[5] Observador
[6] José Saramago, in "Conversaciones con Saramago", de Jorge Halperín


quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

0118. Carta ao Pai Natal





Era uma vez um menino de 10 anos de nome Gabriel que decidiu escrever uma carta ao Pai Natal.
A imagem que o Gabriel tem do Pai Natal, tal como a maioria dos meninos da sua idade, é a de um senhor velhinho de barba longa branca, simpático e gorducho, vestido de vermelho, que na véspera de Natal, conduz um trenó puxado por renas, voando através do céu, carregado de prendas para distribuir pelos meninos que durante o ano se comportam bem. Entra pela chaminé e passa pela casa de todas as crianças deixando presentes na árvore de Natal ou nas meias normalmente penduradas na lareira.
Esta é a imagem que o menino Gabriel tem do Pai Natal.
É, pois, perfeitamente normal e natural, que o menino Gabriel escrevesse uma carta ao Pai Natal a pedir brinquedos, jogos, ou até mesmo um telemóvel de última geração.
Mas, não!
Na realidade, o Gabriel não pediu nada disso!
O Gabriel pediu uma cesta com alimentos, roupa e dois pares de chinelos. Um par para si e outro para o seu irmão Lucas, que é autista.
O Gabriel inclusive convidou generosamente o Pai Natal a passar o Natal com ele e com a sua pobre família.
O Gabriel enviou beijos ao Pai Natal e desejou um feliz Natal a todo o mundo, com muita paz, saúde e amor, sobretudo para as crianças como o seu irmão Lucas, que são as que mais precisam. Ele não precisa de muito.
Este é o conto de natal que contamos a todos os meninos como o Gabriel.
Felizmente, na realidade, muitos meninos acabam por realizar os seus desejos, ou pelo menos aqueles que melhor se comportarem.
O Pai Natal passa mesmo pelas suas casas.
O Pai Natal passa sobretudo pelas casas e mesas onde não há pobreza.
O Pai Natal passa pelas ruas entoando músicas de Natal, distribuindo prendas para colocar debaixo do pinheirinho.
O Pai Natal passa até pelos locais de culto onde acorrem os mais pobres e necessitados.
O Pai Natal consegue fazer sorrir e encher de felicidade o coração do Gabriel e os corações de tantos outros meninos como ele.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu enviei cartas ao Pai Natal. Na verdade, quase sempre satisfez os meus desejos.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu perguntei ao Pai Natal porque é que só alguns meninos têm um lar, comida, roupa, amor.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu perguntei ao Pai Natal porque é que só alguns meninos celebram o natal com alegria, em paz e harmonia com os seus familiares.
Na verdade, nunca me respondeu.

Mas sei que o Pai Natal, por vezes, também fica muito triste, porque o sonho maravilhoso do Gabriel, para a maior parte dos meninos como ele, não se transforma em realidade!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2019-11-19
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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Notas:
1. Este texto faz parte da obra “Natal em Palavras - Colectânea de Contos de Natal - Vol. II da editora Chiadobooks e foi restruturado na parte final para ser enviado.


2. O texto original (em baixo em itálico) não foi enviado.




Carta ao Pai Natal

Era uma vez um menino de 10 anos de nome Gabriel que decidiu escrever uma carta ao Pai Natal.
A imagem que o Gabriel tem do Pai Natal, tal como a maioria dos meninos da sua idade, é a de um senhor velhinho de barba longa branca, simpático e gorducho, vestido de vermelho, que na véspera de Natal, conduz um trenó puxado por renas, voando através do céu, carregado de prendas para distribuir pelos meninos que durante o ano se comportam bem. Entra pela chaminé e passa pela casa de todas as crianças deixando presentes na árvore de Natal ou nas meias normalmente penduradas na lareira.
Esta é a imagem que o menino Gabriel tem do Pai Natal.
É, pois, perfeitamente normal e natural, que o menino Gabriel escrevesse uma carta ao Pai Natal a pedir brinquedos, jogos, ou até mesmo um telemóvel de última geração.
Mas, não!
Na realidade, o Gabriel não pediu nada disso!
O Gabriel pediu uma cesta com alimentos, roupa e dois pares de chinelos. Um par para si e outro para o seu irmão Lucas, que é autista.
O Gabriel inclusive convidou generosamente o Pai Natal a passar o Natal com ele e com a sua pobre família.
O Gabriel enviou beijos ao Pai Natal e desejou um feliz Natal a todo o mundo, com muita paz, saúde e amor, sobretudo para as crianças como o seu irmão Lucas, que são as que mais precisam. Ele não precisa de muito.
Este é o conto de natal que contamos a todos os meninos como o Gabriel.
Felizmente, na realidade, muitos meninos acabam por realizar os seus desejos, ou pelo menos aqueles que melhor se comportarem.
O Pai Natal passa mesmo pelas suas casas.
O Pai Natal passa sobretudo pelas casas e mesas onde não há pobreza.
O Pai Natal passa pelas ruas entoando músicas de Natal, distribuindo prendas para colocar debaixo do pinheirinho.
O Pai Natal passa até pelos locais de culto onde acorrem os mais pobres e necessitados.
O Pai Natal consegue fazer sorrir e encher de felicidade o coração do Gabriel e os corações de tantos outros meninos como ele.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu enviei cartas ao Pai Natal. Na verdade, quase sempre satisfez os meus desejos.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu perguntei ao Pai Natal porque é que só alguns meninos têm um lar, comida, roupa, amor.
Quando era criança, como o Gabriel, também eu perguntei ao Pai Natal porque é que só alguns meninos celebram o natal com alegria, em paz e harmonia com os seus familiares.
Na verdade, nunca me respondeu.

Certamente, quando for grande, também o Gabriel irá pedir, não ao Pai Natal, mas a Jesus Cristo uma cesta com alimentos, roupa e dois pares de chinelos.
Certamente, quando for grande, também o Gabriel se irá ilusionar e emocionar, não com o Pai Natal, mas com Jesus Cristo… ofertará, comungará, rezará bastante e enviará muitos beijos, para que todos tenham um feliz e santo Natal, com muita paz, saúde e amor, sobretudo para as crianças como o seu irmão Lucas, que são as que mais precisam.
Agora que sou adulto (como um dia o será o Gabriel), tal como um dia o fiz ao Pai Natal, também eu cheguei a fazer essa pergunta a Jesus Cristo.
Na verdade, também nunca me respondeu.

Não me respondeu o Pai Natal!
Não me respondeu Jesus Cristo!

Compreendemos isso quando descobrimos que só os homens podem dar uma cesta com alimentos, roupa e dois pares de chinelos.
Compreendemos isso quando descobrimos que só depende dos homens que todos tenhamos um feliz Natal, com muita paz, saúde e amor… sobretudo para as crianças como o seu irmão Lucas, que são as que mais precisam!


0117. Pai Natal




Um dia vesti-me de pai natal para criar na minha filha a ilusão de um ser mágico que lhe trazia prendas e emoções…
Batizei-a porque esse era o desejo da família… sem nunca sequer lhe perguntar se era o dela! (era demasiado pequena!)

Mais tarde, arrependido, acabaria por lhe contar toda a verdade.
Não queria que ficasse na ilusão nem que perdesse a emoção de receber as prendas por ser o próprio pai que as trazia.
Curiosamente ficaria ainda mais feliz!
A maior prenda seria mesmo a verdade!
Tal era a emoção de receber!…
Tal era a sua emoção de saber!…
Tal era a minha emoção de contar!…

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Autor: Carlos Silva
Data: 2013-10-05
Imagem: Internet
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

0116. Missa




Fui acompanhar a Luísa e a mãe à missa[1] por “alma do meu falecido sogro” …
Ás vezes entro na igreja com elas, como entro em qualquer lugar, mas desta vez ficaria à porta a falar com um amigo que, entretanto, me abordara.
No final, mostrando algum desagrado, a Luísa comentou comigo:
“Durante a missa pediram-nos dinheiro duas vezes… e à saída, outra vez!”
Não respondi, mas pensei… 4 vezes! -uma vez que para mencionar o nome dos defuntos em memória de quem a missa se realiza, cada familiar paga uma determinada quantia. Tal significa que, numa missa, um paroquiano, pode ter que pagar, pelo menos 4 vezes uma quantia em dinheiro.

Observei que a Luísa também trazia na mão um “Boletim Paroquial da Unidade Pastoral”[2], onde, curiosamente, na capa constava o texto “distribuição gratuita”. Sem perceber bem porquê, entregou-mo. Passando consequentemente os olhos por cima, dois títulos do mesmo despertaram-me a atenção:
O primeiro, dizia…
“Maria não veio a Fátima para que a víssemos, mas para avisar sobre o Inferno que é a vida sem Deus”.
Pareceu-me uma espécie de ameaça encapotada aos que encararem a vida sem o dito “Deus”. Decerto que na eternidade serão encaminhados para o dito “inferno”, em detrimento dos que na terra “vivem com Deus”, (ou pelo menos pensam que vivem!), esses certamente com lugar certo no dito “paraíso”.
Os que na terra “vivem sem Deus”, obviamente que nunca poderão ser boas pessoas!
Mais curioso ainda é que a dita “Maria” tenha vindo a Fátima não apenas para ser vista pelos que a avistam, mas para avisar sobre esse “inferno”!

O segundo dizia…
“Domingo do Bom Pastor”. Dedicado aos sacerdotes…
“Ao entrar na sacristia (cito), o pároco encontra um envelope que por fora dizia “Bom Pastor” e dentro continha alguns euros” de um grupo de anónimos paroquianos que assim quiseram mimar o seu Pastor”.

Afinal também há ofertas em dinheiro aos “Bons Pastores”!
5 vezes! -pensei. Tal significa que numa missa se pode pagar 5 e não apenas 4 vezes!

Há pouco ouvi o Papa Francisco, também numa missa[3] dizer que “não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Ou um ou outro. O dinheiro faz adoecer o pensamento e a fé faz-nos ir por outros caminhos…”


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Autor: Carlos Silva
Data: 2017-05-??
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[1] Igreja de Borba
[2] De Borba, Ano 1 Nº 3 Maio 2017
[3] Santa Marta