Comentei
com um amigo que “discordava da região no seio da GNR”.
Para
meu espanto fui imediatamente acusado de “não respeitar quem era religioso” e de
ser um “privilegiado que nunca passou por qualquer tipo de dor ou privação…” e
que, “se tal acontecesse, de certeza que seria também…”.
Que tenha
conhecimento, não existe qualquer relação direta entre “dor ou privação” e o
facto de ser, ou não, religioso… ou com a minha “discórdia da religião no seio
da GNR”.
Acabaria
por ignorar as suas palavras para eventualmente não quebrar a amizade que nos
une…
Respeito
a opinião de quem acredita nesta e noutras crenças…
Gostaria
que respeitassem também quem simplesmente acredita no que vê.
Se bem
me lembro, tudo terá começado[1] por volta dos
meus quentes doze ou treze Verões…
Se bem
me lembro, tudo terá começado num comboio oriundo do Barreiro, quando
regressava de férias... umas férias solitariamente desfrutadas na companhia de
meus pais entre a límpida linha do meu azul horizonte e o poluído azul do
horizonte da Linha[2]… Parede...
Carcavelos... Cascais[3]... vagos portos
do meu infantil-mar, cujo quartel geral se situava algures numa velha casa de aspeto
ruinoso situada no Alto de S. João, mais precisamente na Quinta dos Peixinhos
(a casa dos meus tios!) -quando meus pais encontram uns amigos de sua infância.
Os pais do meu, então, inocente, Primeiro Amor...
As
remotas referências que agora poderão aflorar pecariam por intemporalidade...
parte delas perderam-se no seio do Diário I -um pequeno bloco de notas por mim
próprio mal encadernado, que morreria às mãos da minha vergonha (queimara-o por
considerar não possuir grande valor literário). Adorava-o por ser o meu
primeiro Diário... e só mais tarde descobri que, afinal, quem ficara mais pobre
fora eu...
O teu
cabelo curto, coberto por um boné de pala, a roupa diferente do habitual,
transformava-te no companheiro de brincadeira ideal.
-Dominó,
ganhei! -gritavas saboreando exuberantemente o doce prazer da vitória; e
explicavas modestamente: -para se ganhar é preciso juntar as frutas certas, não
esquecendo as repetidas...
-Meninos!
-gritava a minha mãe; não, creio que era a tua -sentada do banco do fundo da
carruagem -portem-se bem!
Eis
que mais uma gargalhada surgia. Tínhamos acabado de efetuar uma travessura ao
velhote que seguia no banco à nossa frente dormindo como uma pedra.
Essa
foi talvez a mais bela viagem da minha vida. Porquê?!... Porque era criança e
essencialmente porque tu lá estavas!»
Foi
com este olhar juvenil que então vira o primeiro encontro.
Não existe verdade
na religião porque não existe religião!
Existe um
conceito abstrato de religião enquanto imagem mental.
É hipocrisia não
distinguir abstração duma representação física ou mental, ou não ter
consciência da sua inexistência tal como é supostamente apresentada!