2020-05-18

0178. Despertar




Na adolescência…

Entretido com namoros e namoricos…
Entretido com corridas e bailaricos…
Não senti qualquer fascínio pelo “sagrado” ou pelo “divino” …

Confesso que ainda tentei ler o dito livro “A Bíblia” …
Mas não consegui!
O que lia, já naquele tempo me feria e ofendia…
O que lia, já naquele tempo nada me dizia…


Na maioridade…
Fui à mesma estante onde o livro ainda se encontra e li…

“Então o Senhor modelou o ser humano do pó da terra, feito argila, e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.”

(…)

“… o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem:
Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!
Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada".


Agora questiono:

Estas afirmações cabem na cabeça de algum ser minimamente racional?!
Estas afirmações cabem na cabeça de algum ser minimamente pensante sem lhe causar a mínima rejeição?!

Como é que é possível que, em pleno século XXI, seres humanos ainda acreditem que o “homem foi feito do barro e a mulher de uma sua costela”?!


Já vi alguns seres humanos nascerem das entranhas de uma mulher…, mas confesso que da terra ou de uma costela nunca!

Hoje, felizmente…
Pensar um pouco… questionar… já não implica ser queimado em plena praça pública!
Expressar o que pensamos ou sentimos já não implica um passaporte com destino ao “fogo do inferno” …

Tal como rezar incessantemente ou sacrificar toda uma vida não implica a eternidade ou um lugar reservado num cantinho do “céu”!

Cada um que pense o que entender…

Afinal…
Vivemos em plena liberdade!
Vivemos em plena liberdade de pensamento!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-20
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0177. "Fátima S.A."



https://www.jn.pt/artes/santuario-de-fatima-e-uma-mafia-poderosa-4821757.html

 

Não li o livro “Fátima S.A.” do Padre Mário Oliveira, mas sim, por curiosidade, uma entrevista que deu ao Jornal de Notícias em outubro de 2015…

Perguntei-me o que é que levaria um padre a criticar impiedosamente a igreja católica (em particular, “Fátima”) formulando opiniões que mais parecem críticas do mais fervoroso dos ateus…

Disse, o Padre Mário Oliveira, que “Fátima é uma aldrabice!”

Muita gente atualmente já terá chegado a essa evidente conclusão… ainda que fisicamente seja impossível lá ter estado (como é o meu caso) pelo que lê e investiga pessoalmente…

Factos e informação fidedigna sobre esta verdadeira farsa é o que não falta…

É preciso é procurar… é claro!

Basta lermos a impressa da época…

Basta ler os comentários das personagens principais da história da altura (crentes e não crentes) … dos atores secundários e principais (os “pastorinhos”)...

Basta situarmo-nos no local do “milagre” na dita Cova da Iria, na altura… contextualizar… e pensar um pouco!…

Para tal, também é preciso fazer com que quem crê… (e quem não crê) leia a informação…

Por exemplo, entre inúmeros factos, consta nessas informações o seguinte:

 

“A Virgem falou sem mexer os lábios, sem modificar a expressão do rosto, sem fazer o mínimo gesto”;

A Virgem media um metro e dez centímetros de altura…”;

Lúcia, disse que a “Virgem” lhe dissera: “O meu lugar é o do céu”;

Lúcia, disse que a “Virgem” tinha “argolas de oiro nas orelhas…”;

Lúcia disse ao cónego Nunes Formigão que “não via a Senhora em nenhuma parte… e depois ao Padre Ferreira Lacerda que a Virgem aparecia vindo do lado Nascente”;

Lúcia, foi incapaz de reproduzir posteriormente algumas frases curtas por ela atribuídas à Virgem… depois quando mulher, as “longas falas do anjo e da Virgem”, continham numerosas palavras cujo significado ela própria ignorava completamente;

O Sr. Oliveira Santos, (administrador do concelho que, em agosto de 1917, interrogou Lúcia, Jacinto e Francisco) contou que o Sr. António Santos, (o “Abóbora”, pai de Lúcia) na altura se referiu à filha, nos seguintes termos:

“O Sr. administrador não acredite na minha filha, que ela é uma intrujona!”.

Além da maior aldrabice que a humanidade já conheceu e conhece… a religião…

(só não a enxerga quem não a consegue ver)

Agora em Portugal, como se também não bastasse, também temos… “A aldrabice de Fátima” - e não há outra forma de lhe chamar, porque “aldrabice” é mesmo o adjetivo mais adequado.

Tal como o todo-poderoso “Ser Celestial”, também a dita “Senhora de Fátima”, ameaçou os desgraçados seres humanos, com alguns “castigos” … no mínimo, perversos…

Ver tanta gente a sofrer, agita-me a consciência…

Quem são realmente os culpados?!

Transcrevo excertos de uma entrevista ao Padre Mário de Oliveira (talvez aqui se obtenha alguma resposta… tal como ele a obteve):

Como se explica que, perante as denúncias feitas, os donativos ao Santuário continuem a bater recordes?

“(…) As populações, milenarmente subjugadas, humilhadas, desamparadas, são criminosamente levadas a pensar-acreditar que, por si próprias, não podem fazer nada e que o alívio para os seus quotidianos de dores só pode vir de fora delas. As populações deixam-se arrastar para aqueles locais e aquelas instituições que lhes são criminosamente apresentados como libertadores. O desastre humano é total. Se repetido, ano após ano, geração após geração, o estado de degradação e desamparo agrava-se e as populações acabam por morrer no seu inferno de dores.”

Mesmo perante as provas mais irrefutáveis, julga que a atitude dos crentes face às aparições não se alteraria?

“Enquanto não desaparecerem as causas que produzem multidões e multidões de vítimas, de desempregados, de escravizados, de migrantes-refugiados, de assalariados, de analfabetos políticos, culturais, artísticos, as provas mais irrefutáveis apenas servem para radicalizar ainda mais os fanatismos religiosos, fruto de ancestrais e inconscientes medos que elas trazem nos genes, como outros tantos demónios mudos, que lhes roubam continuadamente a voz e a vez. A própria Ciência, se não é humilde e intrinsecamente cordial, acaba por se tornar perversa. Agride ainda mais as multidões condenadas pelo sistema de poder a terem de viver em labirintos sem saída.”

Acredita que, desta vez, foi muito mais longe na desmistificação das aparições?

“É, agora, sobejamente claro que Fátima e a sua senhora não têm nada a ver com Maria, a mãe de Jesus. Que tudo aquilo é negócio, pura idolatria. (…)”

Mesmo para um cético, como é o seu caso, não acha que Fátima desempenha um papel fulcral na sociedade portuguesa?

“Quem o não reconhece? A questão que nos havemos de colocar é o tipo de "papel fulcral na sociedade portuguesa" que Fátima representa. E aqui tenho de dizer, sem que a voz me trema, que no que respeita à igreja católica romana, Fátima é a vergonha das vergonhas. E se a fé católica romana é assim tão rasca, como a dos fatimistas, então, é muito mais digno ser-se agnóstico ou ateu. Já no que respeita ao turismo religioso, propriamente dito, é óbvio que, sem Fátima, as empresas que têm o mau gosto de se lhe dedicarem, sofrerão um rombo sem igual, se Fátima vier a cair em descrédito. Mas, também aqui, é bom sublinhar que se o turismo religioso é tão rasca como o que Fátima proporciona, os turistas só terão a ganhar, se passarem a viajar para o ar puro das montanhas, onde o veneno do Mercado ainda não chegou, e para a simplicidade das aldeias do interior. Este tipo de turismo alternativo ao religioso faz muito melhor à saúde e sai muito mais barato. Mas não sou ingénuo. Sei perfeitamente que o Mercado financeiro jamais vai por aí, tão pouco está interessado em que as populações vão por aí. De modo algum, quer populações com saúde e bem-estar, alegres e em relação umas com as outras. É por isso que, para as agências de turismo religioso do Mercado financeiro, Fátima é o local ideal para manter populações deprimidas, tristes, alienadas, humilhadas, autoflageladas, geração após geração. O que não deixa de constituir um crime de lesa-humanidade que polícia alguma do mundo investiga, tão pouco, desaconselha. Até estimula e protege.

Sem Fátima, a orfandade ou o desamparo espiritual não seriam ainda maiores?

“Pelo contrário. Tudo em Fátima é altamente deprimente. Orfandade. Desamparo espiritual. Só gente deprimida, órfã, desamparada espiritualmente, é capaz de dizer que se sente lá bem. (…)

 Fátima é a negação de todos estes valores humanos. Em Fátima, o sofrimento é rei. A depressão é regra. O viver de joelhos é o objetivo último. Uma vergonha, uma degradação humana a céu aberto.”

Após este livro sente que pouco mais ficou por dizer sobre Fátima?

“As "aparições" só têm servido para ludibriar as populações mais desamparadas. São erradamente levadas a pensar que a solução para os seus graves e dolorosos problemas se resolvem com peregrinações a pé ou de carro para lá. Fátima não faz parte da fé católica, pelo que nenhum católico deixa de o ser, por não acreditar em Fátima. (…)”

 


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-05-13
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0176. Vergonha




 

Não pretendo mudar nada nem ninguém!

Não pretendo trocar argumentos com ninguém!

Não pretendo, sobretudo, trocar argumentos com quem o argumento “deus” é uma hipótese colocada como conclusão.

Seria perder tempo!

Quem tem fé… que tenha fé!…

Quem não tem fé… que não tenha fé!

Cada um que pense e diga o que entender!

Esta é uma das grandes conquistas do nosso 25 de Abril!

Liberdade de expressão!

Podendo eu, então, expressar LIVREMENTE o que penso, sem que tal implique ser fisicamente queimado em praça pública…

Eis a minha simples e modesta opinião que vale o que vale… (o mesmo que outras!) sobre o 13 de maio e as comemorações que mais uma vez hoje ocorreram em Fátima.

Sei que ultimamente o adjetivo tem andado muito na moda na nossa Assembleia da República, mas não será por isso que neste momento é precisamente o que penso e sinto:

VERGONHA!

 

Sem ofensa para o Sr. Presidente da República… também para o Sr. Presidente da Assembleia da República… é claro!

O que hoje vi ao mudar os canais de televisão, foi…

UMA AUTÊNTICA VERGONHA!

 

Como é possível em Portugal, em pleno Século XXI, praticamente todas as televisões… (inclusivamente, a estatal para a qual sou obrigado a pagar uma taxa!) transmitirem em direto uma cerimónia de um culto religioso (desta vez sem público a assistir… por causa da pandemia) que é um autêntico hino à cegueira humana!

O fenómeno já está de tal forma enraizado… que já teve direito a filme ao bom estilo português… e a dita “imprensa livre portuguesa” em nome das audiências e da ganância económica presta-se a divulgar (o que já não se pode sequer questionar ou discutir na praça pública por ser ofensivo) este tipo de espetáculo absolutamente falacioso, que mais do que violar os princípios do estado laico e democrático, viola essencialmente a inteligência de qualquer ser humano que minimamente se digne a observar atentamente a realidade e a raciocinar um pouco mais…

Passa pela cabeça de alguém minimamente consciente que três crianças entre os sete e os dez anos (pastorinhos) visionaram aparições de uma dita “Nossa Senhora do Rosário de Fátima”, na Cova da Iria em Fátima... e o fenómeno viria a repetir-se durante seis meses?

 

“Francisco e sua irmã Jacinta… “eram rudes, ignorantes e analfabetos [1]”… “inconscientes e crendeiros no mais alto grau, tanto pela idade, como pelo meio social em que foram criados”. [2]

Lúcia tinha um especto duma “serrana rude: face trigueira, boca larga, lábios grossos, as sobrancelhas espessas e quase travadas, sobre o olhar duro, davam-lhe um aspeto trombudo de arreganhada”[3]. “Quem a estudar naquele documento vivo que é a fotografia, tirada no dia 13 de outubro de 1917, não necessita possuir grande intuição psicológica para lhe preencher a ficha, sem medo de errar: tipo grosseiro; esperteza medíocre; dureza, obstinação”.[4]

 

“MILAGRE!”

Referiram alguns dos presentes que numa destas ditas aparições, estavam aos milhares e constatarem o dito fenómeno… ainda que, jornalistas que também presenciaram tenham afirmado que “nada viram” … e alguns outros referirem que se tratava apenas de um fenómeno meteorológico…

O que me oferece dizer sobre mais este “milagre” é que…

Não existe uma única prova científica de qualquer milagre!

Não existe uma única prova científica da existência de qualquer divindade!

Não existe uma única prova científica de que alguma pessoa tenha sido curada duma doença por obra de uma divindade!

Tudo o que tem sido imputado a divindades, não tem uma única resposta coerente e constatável!

E… normalmente o que ainda não é do conhecimento científico é obra de uma divindade!

Na altura do dito “milagre”, Portugal era um país muito pobre, com uma população vincadamente analfabeta e católica… que vivia sobretudo do campo. A Monarquia tinha acabado de dar lugar à República que já permitia alguma liberdade de pensamento… o que vinha, de certa forma, colidir com alguns dogmas e sobretudo com o enorme poder que a igreja ainda tinha em Portugal…

Se hoje, o seu filho de 7 anos ao chegar a casa lhe dissesse que depois de ter ido passear pelo campo vira uma “virgem no cimo de uma azinheira”, o que é que lhe respondia?!

 

Por favor…

Pelo menos sejam rigorosos…

A igreja católica corrigiu recentemente “Fátima” … de “aparição” passou para “visão” …

O termo “visão” dará azo a uma infinidade de interpretações…

De certa forma permitirá satisfazer crentes e não crentes… os crentes “viram” e continuam a viver a sua fé… os descrentes “não viram” e continuam a referir que foi apenas uma “visão…

Mas os média…

Não me falem em “APARIÇÕES DE FÁTIMA”!

No mínimo escrevam “ALEGADAS APARIÇÕES DE FÁTIMA”!

 

É UMA VERGONHA!



[1] Padre Ferreira Lacerda, em o “Mensageiro” de Leiria, 18-10-1917

[2] João Ilharco, Fátima Desmascarada, pág. 25

[3] “Fátima” pág. 29

[4] João Ilharco, Fátima Desmascarada, pág. 39


Autor: Carlos Silva
Data: 2020-05-13
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