2020-04-12

0148. Abraço imenso



De quatro tenras primaveras, a minha filha acorda… e acende ainda mais a luz do luar que irrompe de forma dispersa pelo quarto dentro...
Por momentos acaricio suavemente o seu rosto… e de forma praticamente instintiva eis que se solta o que me vai na alma…

“Lisa… feliz?!”

Encheu o peito num sorriso ofegante… contagiante… olhos vibrantes… brilhantes…
Na mais plena e ingénua sinceridade dos seus lábios irrompe uma espécie de resposta…

“Sim… Lisa feliz!... gosto muito de vocês…[1]” -culminando todo o seu êxtase num imenso abraço que encheu o coração e elevou todos os poros em extasiante emoção... tal intensidade que ainda persiste em mim… ainda sinto necessidade de a reter...  ainda sinto necessidade de a descrever…

De tanto sentir, porém, mal consigo raciocinar…
Como transformar simples morfemas nestas minhas lágrimas… lágrimas de alegria?
Como conter tão sensíveis emoções sem as desvirtuar?
Como podem tais lágrimas chegar a outras faces?

Talvez apenas reter o momento que ainda fervilha à flor da pele… que percorre todo o meu corpo numa autêntica tempestade de incontroláveis impulsos...

Sinto necessidade de reter o momento…. de o artificiar… por temor de o perder para sempre na indiferença do tempo.

Resta a emoção de o pensar…
Resta o conforto de o tentar unir o mais possível à emoção original...
Quanto mais perfeito, mais perto ficará do abraço... mais perto ficará da lágrima[2] de outrem…
Quem sabe se da sua interiorização outras asas se soltarão… outras emoções surgirão…  outros imensos abraços!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-15
Imagem: Carlos Silva
Obs:
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[1] Pais
[2] Lágrima de emoção

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