2020-05-02

0163. Celebração (25 Abril)



O Presidente da República esteve ao lado do Presidente da Assembleia da República na que foi, eventualmente, a mais polémica celebração da Liberdade…

A maior parte do seu discurso foi dedicado a justificar a celebração em detrimento da dramatização da pandemia Covid-19…

-   “Não comemorar o 25 de Abril no tempo, provavelmente, em que mais precisamos dele seria um absurdo cívico”;
-   “Seria um péssimo sinal de falta de unidade nacional”;
-   “Seria verdadeiramente incompreensível e vergonhoso a Assembleia da República demitir-se de exercer todos os seus poderes”;
-   “É precisamente em situações excecionais que se impõe costumes e rituais”;
-   “Não se trata de uma festa de políticos alheia ao clima e de privação vivido na sociedade portuguesa”;
-   “Evocar 25 de Abril é falar deste tempo, não é ignorá-lo”;
-   “Os políticos nesta sala não vieram de outra galáxia, foram uma livre escolha dos portugueses”;
-   “O Parlamento nunca deixou de funcionar, seguindo as indicações sanitárias”;
-   “Quanto maiores os poderes do Governo, maiores os poderes da Assembleia da República para o controlar”;
-   “Esta sessão é um bom e não um mau exemplo”;

Será que é mesmo um bom exemplo, Sr. Presidente?!

O exemplo que o Sr. Presidente me está a dizer é:

“Faz o que eu digo… não faças o que eu faço!”

Estou certo que inúmeros portugueses como eu fizeram esta questão…
Esta, Sr. Presidente, é que é realmente a questão principal:

É correto (não direi “legítimo” pois estou certo que será) os deputados e os convidados estarem ali a comemorar o dia da Liberdade?! Mesmo em número reduzido… mesmo respeitado a distância de segurança e as medidas da Direção Geral de Saúde…

Era realmente imprescindível celebrar o 25 de Abril?
Era realmente imprescindível como imprescindível foi o funcionamento da AR para fazer aprovar medidas que permitiram fazer face ao estado de calamidade pública?

Perderíamos… ou desrespeitávamos a nossa liberdade se nesta situação gravíssima de pandemia não a tivéssemos evocado?

Atendendo à presente situação de risco de agravamento da pandemia em que ainda vivemos… 
Permita-me Sr. Presidente…
Na minha humilde opinião de cidadão português, penso que…  talvez não!

Quando a maioria dos portugueses têm que estar confinados às suas casas…

Quando naquele momento, outros tantos portugueses, noutros campos de batalha estão a lutar por nos salvar… por salvar a vida de tantos outros portugueses… que realmente estão a lutar pela vida?

Quando centenas de portugueses já morreram (sem poderem celebrar!) às mãos deste terrível inimigo… e outros tantos, estão desesperadamente a lutar pela vida…

Estar ali a comemorar… a liberdade… será o mais correto?

Sr. Presidente…
Por mais convincente que tenha sido toda a sua extensa argumentação…
Por muito boas que tenham sido as suas…
Por muito bonito que tenha sido, no final do discurso ter incitado o Sr. Presidente da AR e os deputados…
“Vamos ao essencial, vamos vencer as crises que temos de vencer"…

Sem menosprezo pelos militares de abril…
Sem menosprezo pela liberdade, sem a qual decerto não estaria aqui a escrever estas palavras…
Na minha opinião de mero cidadão…
Creio que…
Foi sobretudo uma grande falta de responsabilidade!
Foi sobretudo uma falta de respeito pelos que agora estão na frente de batalha (médicos, enfermeiros, auxiliares…) a lutar precisamente pela nossa liberdade… pela nossa vida!
Foi sobretudo uma falta de respeito pelos que já morreram!

Telmo Monteiro disse que “discordava desta cerimónia…”
André Ventura afirmou que “não devíamos estar aqui” …

Devíamos estar TODOS em casa nesse dia a comemorar o 25 de Abril e a Liberdade!

Foi afinal isso que pediu aos TODOS os portugueses:

“FIQUEM EM CASA!”



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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-04-25
Imagem: Internet
Obs:
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