quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

0045. Atentado






Vi, pelo pequeno ecrã, mais um atentado à vida humana, perpetuado por… humanos!...
Vi pedaços de carne, ossos embebidos em sangue, espalhados pelo chão, como usualmente vejo sobre os tabuleiros dos talhos -pensei cruelmente -a verdade é que também é carne, osso e sangue... a espécie é que é diferente!…
Choca toda esta indiferença do homem sobretudo com a sua espécie...
Choca toda esta falta de sensibilidade, de respeito pela dor e pela vida sobretudo dos semelhantes!...
Choca toda esta fratricida irracionalidade...
Chocam todos os sinais de animalidade humana quando transformados em horríveis imagens de realidade: homens, mulheres e crianças, mortos, mutilados, despedaçados, perdidos impunemente num qualquer pedaço de tempo… -infelizmente já tomados como rotina, como mera banalidade típica dum qualquer vulgar filme de terror...
Até que ponto poderá chegar o desprezo pela vida?
Se sentissem as autênticas dores…
Se, pelo menos, impotentes textos como este pesassem na consciência dos que tal fizeram ou fazem e dos que realmente algo podem fazer para o evitar… pelo Homem...
Assumo a minha parte de culpa, como ser...
Assumo parte da minha cobarde indiferença por, tão-somente, me limitar a escrever as dores que eles nem sequer sentiram; a inventar palavras que doam, a pintar pequenos “Guernicas”[1] literários, submerso na minha triste e distante dor intelectual, na minha ignóbil mágoa...
Sonhar com um mundo de seres humanos a viver em paz, sem fronteiras, sem religiões, racional e equilibrado... talvez seja sonhar demasiado à luz da realidade atual e de todo este falso progresso, mas, pelo menos apraz-me continuar a sonhar... apraz-me sobretudo continuar a vivê-lo na realidade e sobretudo tentar fazer com que outros também atuem como tal…
Não serei decerto o único!

*

Somos diferentes
Somos mais expeditos…
Conseguimos executar, sobretudo em termos mentais, ações que nenhum outro animal consegue…
Mas matamos como nenhuma outra espécie -e não apenas para nos alimentarmos!...
Lutamos pela sobrevivência, procriamos como as outras espécies ainda que tenhamos evoluído de maneira diferente; mas a verdade é que…
Temos a mesma carne, o mesmo osso, o mesmo sangue!
Temos o mesmo cérebro (por inerência à própria evolução da espécie algo maior e mais desenvolvido) o que, de certa forma, nos autocoloca no topo e nos permite analisar comportamentos... bárbaros como este!
Somos animais… uma espécie entre muitas...
Temos laços, família… sentimento… prazer… e dor!
Temos as mesmas cinzas!
Como podemos ainda hoje matar-nos assim?
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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-12-17
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Guerras”




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