Vi, pelo pequeno ecrã, mais um atentado
à vida humana, perpetuado por… humanos!...
Vi pedaços de carne, ossos embebidos em
sangue, espalhados pelo chão, como usualmente vejo sobre os tabuleiros dos
talhos -pensei cruelmente -a verdade é que também é carne, osso e sangue... a
espécie é que é diferente!…
Choca toda esta indiferença do homem sobretudo
com a sua espécie...
Choca toda esta falta de sensibilidade,
de respeito pela dor e pela vida sobretudo dos semelhantes!...
Choca toda esta fratricida
irracionalidade...
Chocam todos os sinais de animalidade
humana quando transformados em horríveis imagens de realidade: homens, mulheres
e crianças, mortos, mutilados, despedaçados, perdidos impunemente num qualquer
pedaço de tempo… -infelizmente já tomados como rotina, como mera banalidade
típica dum qualquer vulgar filme de terror...
Até que ponto poderá chegar o desprezo
pela vida?
Se sentissem as autênticas dores…
Se, pelo menos, impotentes textos como
este pesassem na consciência dos que tal fizeram ou fazem e dos que realmente
algo podem fazer para o evitar… pelo Homem...
Assumo a minha parte de culpa, como ser...
Assumo parte da minha cobarde
indiferença por, tão-somente, me limitar a escrever as dores que eles nem
sequer sentiram; a inventar palavras que doam, a pintar pequenos “Guernicas”[1]
literários, submerso na minha triste e distante dor intelectual, na minha
ignóbil mágoa...
Sonhar com um mundo de seres humanos a
viver em paz, sem fronteiras, sem religiões,
racional e equilibrado... talvez seja sonhar demasiado à luz da realidade atual
e de todo este falso progresso, mas, pelo menos apraz-me continuar a sonhar...
apraz-me sobretudo continuar a vivê-lo na realidade e sobretudo tentar fazer
com que outros também atuem como tal…
Não serei decerto o único!
*
Somos diferentes…
Somos mais
expeditos…
Conseguimos executar,
sobretudo em termos mentais, ações que nenhum outro animal consegue…
Mas matamos como
nenhuma outra espécie -e não apenas para nos alimentarmos!...
Lutamos pela
sobrevivência, procriamos como as outras espécies ainda que tenhamos evoluído
de maneira diferente; mas a verdade é que…
Temos a mesma carne, o mesmo
osso, o mesmo sangue!
Temos o mesmo cérebro (por inerência à própria evolução da espécie algo
maior e mais desenvolvido) o que, de certa forma, nos autocoloca no topo e nos
permite analisar comportamentos... bárbaros como este!
Somos animais… uma
espécie entre muitas...
Temos laços,
família… sentimento… prazer… e dor!
Temos as mesmas cinzas!
Como podemos ainda
hoje matar-nos assim?
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Autor:
Carlos Silva
Data: 1995-12-17
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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