Disse-me um
dia o meu avô que o seu avô também se chamava Alturas, que falecera quando
tinha apenas 2 anos e que dele não guardava qualquer memória.
Recordo que o
meu avô a ele se referia como pessoa de bem porque o seu pai assim lhe dissera.
Tenho ainda
hoje memória bem viva do meu avô… do ser extremadamente protetor da sua única
filha e sobretudo bastante amigo do seu único neto… o neto que neste preciso
momento evoca a sua memória.
O local onde
fisicamente hoje se encontra, eu sei… sei porque lá vou com regularidade e é
precisamente o mesmo local onde, agora, também se encontra o meu pai.
Recordo-o,
não apenas por ser o meu avô, mas por ser o melhor avô do mundo!... tal como
agora recordo o meu pai… porque também ele foi o melhor pai do mundo!
Daqui por uns
anos ninguém se recordará deles… ninguém saberá deles… não serão sequer memória
de alguém… tal como eu no futuro, não serei de ninguém…
Futuramente,
outras pessoas por aqui estarão, vivendo no local onde agora vivo, onde agora
escrevo a memória de alguém que por aqui esteve…
Nenhuma
dessas pessoas de mim terá memória; nenhuma se lembrará de mim porque nem
sequer saberão que existi… nem sequer saberão que por aqui fui feliz… e muito
menos do meu pai, do meu avô, ou do avô do meu avô que por aqui passaram e
possivelmente também terão sido muito felizes.
Daqui por uns
anos serei apenas parte da história da terra, tal como todos os nomes e todas
as formas de vida…
Daqui por uns
anos todos seremos memória do presente dos que por cá estarão…
Deste mundo,
apenas levamos o que agora somos, o que agora vivemos!...
Importa,
pois, que, em tempo útil, tenhamos a perceção da importância do Agora… e não
nos limitemos apenas a recordar o passado ou a projetar um hipotético futuro
que poderá nunca chegar…
A vida é
demasiado curta e preciosa para ser desperdiçada com crenças fúteis e inúteis,
com lutas, guerras e ganâncias sem sentido…
A vida é
simplesmente desfrutar o dia a dia… e superar a mágoa dos momentos menos bons…
Vida que
perdura na memória dos que cá estão enquanto memória tiverem dos que já
foram…
Vida que perdura
na memória das palavras…
Bem sei que
“recordar é uma traição à Natureza”
Tal como a
memória, a “natureza de ontem não é Natureza”, não é nada!
“O que foi
não é nada, e lembrar é não ver.”
Autor: Carlos Silva
Data: 2022-11-26
Imagem: Avô
Obs.:
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