2024-11-14

1044. Impressões de um poeta


 

Era uma vez a vida

Brinca o poeta fingindo

Que a vida não é nada

Chorando a dor sorrindo

 

Sorriso artificial

Dum sonho de beleza dor

Real e imaginária

Que guardas no interior




Nota:

Um poeta vive, na generalidade, de uma forma intensa, procurando sempre Algo... o porquê da sua própria vida, a razão do seu ‘Ser’. No entanto, ante a incapacidade de realização e a frustração de não alcançar esse ‘Algo’, brinca com a própria vida (“Era uma vez a vida”), “fingindo que a vida não é nada”. Mas, apesar de fingir, sentiu, e continua a sentir essa sua frustração e incapacidade que tenta sublimar (“Chorando a dor sorrindo”) que, no fundo, é a pura realidade. “Nada” é a ‘falsa imagem’ que o poeta nos oferece da vida, porque ao que sente na realidade, o leitor jamais terá acesso.  É, pois, através desse “sorriso” falso, “artificial” que o poeta procura transmitir o verdadeiro (“Sonho de Beleza”), “chorando” interiormente essa sua incapacidade de materializar, de artificar, de oferecer ao leitor a sua própria realidade. O “chorar” e o “sorrir”, serão, pois, o reflexo dessa sua dor (a “Real” -que realmente sente -e a “Imaginária” a que o leitor também já não terá acesso, por não passar duma representação mental da primeira -não existe!). Ao leitor está reservado apenas o que lê, ou seja: a representação dessas duas dores que se transformará numa terceira (mental, intelectual); a sua!


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