2018-02-16

0047. Acidente






Que Verdade[1] para esta vida?!
A verdade é que hoje vi uma jovem perder a vida num brutal acidente de viação... -nem sequer sei como se chamava, tal como não sei como se chamam todas as pessoas que inacreditavelmente perdem a vida em acidentes…
Dói-me a perda da sua Vida.
Dói-me a visão desta horrenda Verdade.
A verdade, é que às vezes pergunto:
Valerá realmente a pena tão desmedida luta por tão efémera glória?
Valerá realmente a pena entender a Verdade da Vida?
Valerá realmente a pena presumir possibilidades sobre esse eterno dilema humano, em que, por fidelidade à própria consciência, não acredito[2]… -sofreria se ofuscasse o que sinto, ainda que uma qualquer científica esperança more nas futuras gerações da minha longínqua compreensão.
Todas as respostas de Vida moram nesta vida... as restantes, já foram e não são nada! Apenas respostas mortas. Os seus cadáveres jazam inertes ao sabor da transformação temporal.
Ela perdeu a Vida. Esta é a Verdade nua e crua. Absoluta. Não posso ignorar porque pude constatar… e é a mais consistente que tenho.
A verdade da minha experiência de vida diz-me que o mais importante é este Agora. Todas as respostas estão na nesta vida… em Mim Agora... ainda que à minha desconsolada ignorância falte a profundidade da verdade plena e sobretudo a plenitude da racionalidade...
Eis porque sou humano!
Eis a Verdade-Presente das minhas palavras!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-03-19
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[1]Significado
[2]Eternidade…





2018-02-15

0046. Dor-de-nada






Que fazer com esta pequena dor-de-nada[1]?
Que fazer com esta ténue ferida mental de quase-nada?
Que fazer com esta momentânea dor de quase-nada que perdura enquanto conscientemente retida?
Dar forma literal a uma pequena dor-de-nada, que nem ‘dor’[2] chega a ser…
É como dar corpo a uma qualquer vida… a uma qualquer gota de água…
É como gerar uma qualquer Barca de Noé ou lutar com um qualquer gigante ‘Adamastor’…
É como aventurar-se num qualquer universo mental em que invariavelmente se acaba por ficar perdido...
É como acariciar os sentidos, sem saber o que verdadeiramente se sente…

Esta suposta e relativa imagem dessa leve sensação de dor-de-nada… “creio nela como num malmequer” … não porque a tenha visto… mas simplesmente porque realmente a tenha sentido…

*

Suave dor-de-quase-nada neste longo e árduo caminho metafísico, ainda que no fim só fiquem dolorosas e desordenadas palavras ao sabor do pensamento…
Importa perpetuar a racionalidade… e não apenas dores-de-nadas… que no final nada serão!
Pensamentos!
Pensamentos de dor-de-nada[3]!...
De tal forma me sinto bem que chego mesmo a alcançar alguns momentos de quase-plenitude, inimagináveis na exterioridade...
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-02-05
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[1]Dor mental
[2]Dor física
[3]Pensamentos de outrem (leitor)


 

2018-02-14

0045. Atentado






Vi, pelo pequeno ecrã, mais um atentado à vida humana, perpetuado por… humanos!...
Vi pedaços de carne, ossos embebidos em sangue, espalhados pelo chão, como usualmente vejo sobre os tabuleiros dos talhos -pensei cruelmente -a verdade é que também é carne, osso e sangue... a espécie é que é diferente!…
Choca toda esta indiferença do homem sobretudo com a sua espécie...
Choca toda esta falta de sensibilidade, de respeito pela dor e pela vida sobretudo dos semelhantes!...
Choca toda esta fratricida irracionalidade...
Chocam todos os sinais de animalidade humana quando transformados em horríveis imagens de realidade: homens, mulheres e crianças, mortos, mutilados, despedaçados, perdidos impunemente num qualquer pedaço de tempo… -infelizmente já tomados como rotina, como mera banalidade típica dum qualquer vulgar filme de terror...
Até que ponto poderá chegar o desprezo pela vida?
Se sentissem as autênticas dores…
Se, pelo menos, impotentes textos como este pesassem na consciência dos que tal fizeram ou fazem e dos que realmente algo podem fazer para o evitar… pelo Homem...
Assumo a minha parte de culpa, como ser...
Assumo parte da minha cobarde indiferença por, tão-somente, me limitar a escrever as dores que eles nem sequer sentiram; a inventar palavras que doam, a pintar pequenos “Guernicas”[1] literários, submerso na minha triste e distante dor intelectual, na minha ignóbil mágoa...
Sonhar com um mundo de seres humanos a viver em paz, sem fronteiras, sem religiões, racional e equilibrado... talvez seja sonhar demasiado à luz da realidade atual e de todo este falso progresso, mas, pelo menos apraz-me continuar a sonhar... apraz-me sobretudo continuar a vivê-lo na realidade e sobretudo tentar fazer com que outros também atuem como tal…
Não serei decerto o único!

*

Somos diferentes
Somos mais expeditos…
Conseguimos executar, sobretudo em termos mentais, ações que nenhum outro animal consegue…
Mas matamos como nenhuma outra espécie -e não apenas para nos alimentarmos!...
Lutamos pela sobrevivência, procriamos como as outras espécies ainda que tenhamos evoluído de maneira diferente; mas a verdade é que…
Temos a mesma carne, o mesmo osso, o mesmo sangue!
Temos o mesmo cérebro (por inerência à própria evolução da espécie algo maior e mais desenvolvido) o que, de certa forma, nos autocoloca no topo e nos permite analisar comportamentos... bárbaros como este!
Somos animais… uma espécie entre muitas...
Temos laços, família… sentimento… prazer… e dor!
Temos as mesmas cinzas!
Como podemos ainda hoje matar-nos assim?
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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-12-17
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[1]Guerras”




2018-02-13

0044. Imperceção





A consciência da imperceção infere uma certa angústia...
Invejo os seres que simplesmente adoram o Sol... invejo-os especialmente por acreditam nele… e por serem supostamente felizes!
Invejo os seres que simplesmente adoram os ditos deuses… invejo-os particularmente por acreditarem… e serem supostamente felizes!

Sentir e pensar analiticamente... o mais perfeitamente possível o ser, as suas particularidades é tudo quanto posso fazer, por agora...

É fundamental sentir o mais sensivelmente, pensar o mais analiticamente, e artificar o mais perfeitamente possível.

A consciência da imperceção chega momentaneamente a saber a felicidade.


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-11-12
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Obs:
Direitos reservados.
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2018-02-12

0043. Eterna questão




Porque se apaga toda esta massa celular que constato?
Porque tem que haver um Fim?... -não consigo deixar de abordar a eterna questão da humanidade.
Existe com certeza uma resposta, mas parece ainda distante… tão distante que no raciocínio urge imediatamente uma dor caótica, desmesurável...  como que uma certa recusa à sua atual essência finita.
Urge uma estranha necessidade de soltar o corpo e a mente para a realidade da Vida, para a exaltação máxima dos sentidos...
Urge abandonar Metafísicas e todas as presumíveis respostas para aquele pensamento assustador...
Urge fugir… enFim!


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-25
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Direitos reservados.
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2018-02-11

0042. A realidade de religião






É um desperdício temporal[1] pensar em “Religião”!

Não existe!

Não existe[2] em mim!

Não existe fora de mim!

A única utilidade reside na Imagem[3]… no debate sobre a influência que atualmente ainda tem no ser humano.

Não é meu propósito ferir suscetibilidades…

Apenas não quero[4] conter a minha racionalidade… a minha condição humana, indubitavelmente.

Não quero quebrar ideal-cálice-milenar, cujo néctar tantos beberam…

Apenas dele não quero beber[5], podendo eu matar minha sede na mais pura e natural das águas…

Apensa quero conhecer a verdade possível e continuar a raciocinar plenamente!

 

*

 

Nos seus primórdios o Homem era supostamente religioso… sobretudo pela necessidade de resposta à perceção dos mais diversos fenómenos naturais, astronómicos...

Como Sapiens, o Homem era ainda supostamente religioso… sobretudo pelo anseio de salvação, pela necessidade de cura para os seus males… e pelos constantes surtos epidémicos aquando da formação dos primeiros aglomerados populacionais...

O Homem da Idade Média era ainda supostamente religioso… sobretudo pelo poder de aniquilar o mal… um suposto bem que não era mais do que expansionismo bárbaro e cruel, perpetrado em nome de espíritos divinos que, definitivamente, apenas salvavam os mais nobres e os mais puros…

Hoje o “Homem” é ainda “religioso” … supostamente porque já nasceu assim… porque está na moda e sobretudo porque é socialmente correto e aceite. É de bom grado ser-se religioso. É virtuoso o que promete algo e depois o atesta ainda que o preço seja normalmente pago para toda uma vida… normalmente com um enorme sofrimento (a forma mais explicita de exibir a devoção).

Hoje, abominavelmente, também já existe o suposto “Homem racionalmente religioso” … o que pratica e explica a sua religião (teimando em afirmar que tal mistério não tem explicação, apenas se tem que aceitar como mistério!), como se explicação tivesse!

Talvez esta seja apenas mais uma suposta opinião que não mudará o curso da história do suposto pensamento religioso e a sua consequente evolução, mas pelo menos, levará a pensar um pouco mais… ou pelo menos a que cada um pense por si…

 

*

 

O termo “religião” sabe-me a pobreza física e mental...

Ainda que associado à ideia de excelência, de generosidade, de perfeição espiritual, o que não é propriamente sinónimo de lucidez ou racionalidade…

O termo “religião” sabe-me a barbaridade…

Basta olhar, hoje, objetivamente, para inúmeras áreas do nosso planeta, mas em especial para o Médio Oriente e constatar…

Sangue, sofrimento, ódio...

Miséria, pobreza, práticas de crueldade que chegam às mais aberrantes mutilações!...

Como é possível que à entrada do 3º milénio a “religião”[6]ainda seja a maior das ‘ciências’ e um “suposto supremo espírito santo” a resposta absoluta para todas as questões?... para a suprema questão…  a Vida?

Razão terá certamente quem “droga milenar” lhe chamou!

 

*

 

Surge irreversivelmente a necessidade de meditar a sua negação… ou pelo menos, a sua improbabilidade…

Porque não duvidar[7] ou desacreditar todas as eternidades que até hoje se (i) revelaram, sem que tal, realmente, se assemelhe[8] a punição?

Que maior punição pode ter um qualquer ‘espírito humano[9], por mais crente que seja, que o refúgio cego nesse ‘espírito santo[10]’; nesse “infinito-maestro-de-perfeição-absoluta” que, pelo próprio crer, tudo resolve e conduz invariavelmente à certeza absoluta da imortalidade... como se o “acreditar” assumisse forma de conhecimento de um mistério cujo fim o colocará inevitavelmente às portas do mais quixotesco dos abismos:

O Eterno-desconhecido que inexplicavelmente tudo explica!

 

Por uma coerente necessidade de verticalidade, não posso devotar-me a um mistério absoluto que me sabe a ilusão... uma ilusão de perfeição para toda a imperfeição da espécie humana.

 

Perdoem-me a inconsciência, a imperfeição e a “irreligião[11].

Perdoem-me tudo o que a liberdade de pensamento me pode permitir... mas é precisamente o que no momento sinto… e o que só ainda consigo compreender!

Não sei até onde tal sensação me pode levar, mas, inegavelmente, prefiro-a a uma simples ilusão de perfeição.

Se pelo menos houvesse um pouco de razão em toda essa fé!

 

*

 

Existe, ainda hoje, inegavelmente, no animal humano um instinto doentio que o atrai e o guia para a entrega total ao dito espírito-supremo-todo-poderoso dotado de inteligência capaz de criar tudo e todos...

É um ritual que se repete geração após geração; mudando apenas os homens e o objeto de culto. Mas o desenvolvimento científico, o desabrochar do pensamento, a consciência da verdade… começam a esbater[12] esse “espírito” e a gerar um novo… talvez o mais abismal mistério humano:

O “Espírito Humano”![13]

 

Prefiro debruçar-me sobre o “Espírito Humano”, ou melhor, sobre o “Espírito Animal”. É mais estimulante sentir esta massa biológica palpável; observar e tentar compreender o porquê dos gestos, das palavras, das ações, dos ritos que ainda hoje perduram... a génese… os novos desafios do genoma…

 

*

 

Tenho fé em mim[14]...

Tenho fé na vida que contemplo...

Sou imperfeitamente humano e por enquanto, um simples mortal irremediavelmente condenado a esta multiplicidade de pensamento até ao fim da Vida.

Ainda não posso ir mais além[15]

O único epílogo que me posso permitir é que este suposto “deus” não criou qualquer homem!… o Homem, esse sim terá criado um “deus” … aliás, inúmeros “deuses”!...

 

*

 

Questiono se toda esta minha indevoção espiritual não devotará numa exacerbada devoção materialista?

Sou devoto da suficiência... mas até que ponto posso necessitar?... Eventualmente até ao elementar ponto[16] dos demais mortais…

Questiono se toda esta minha indevoção espiritual não resultará duma natural ansiedade pelo conhecimento… ou, simplesmente procurar viver, sentir, pensar… procurando reproduzir o que realmente sinto e o que realmente vejo à minha volta...

Mesmo quando abarco a realidade, exterior e interior… normalmente apenas me resta a minha (in) feliz luta interior.

Encerra e culmina a realidade.

E eventualmente devotará em... Nada… como Tudo!

Amanhã serei tão-somente simples pensamento d’outrem, que eventualmente também meditará no que será, quando algo deixar de ser. De mim restarão tão-somente estas palavras-de-vida... outra vida será…

Não sei se pela minha relativa felicidade humana, ainda não tive tempo de sentir ou pensar seriamente em tal…



[1]Sensação mental

[2]Religião

[3]Imagem mental de Religião

[4]Não consigo

[5]Saber

[6]Todas as formas...

[7]Quem duvida

[8]A quem sente

[9]Crente

[10]Deus, Buda, Maomé...

[11]De nem sequer uma religião ter -respeitando quem a tem...

[12] Desacreditar

[13]A Consciência e descoberta da sua condição humana

[14]Cidadão do mundo, humanista e universalista

[15]Pensar

[16]Limite


Autor: Carlos Silva
Data: 1995--07-??
Imagem: Internet
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