2020-01-29

0116. Missa




Fui acompanhar a Luísa e a mãe à missa[1] por “alma do meu falecido sogro” …
Às vezes entro na igreja com elas, como entro em qualquer lugar, mas desta vez ficaria à porta a falar com um amigo que, entretanto, me abordara.
No final, mostrando algum desagrado, a Luísa comentou comigo:
“Durante a missa pediram-nos dinheiro duas vezes… e à saída, outra vez!”
Não respondi, mas pensei… 4 vezes! -uma vez que para mencionar o nome dos defuntos em memória de quem a missa se realiza, cada familiar paga uma determinada quantia. Tal significa que, numa missa, um paroquiano, pode ter que pagar, pelo menos 4 vezes uma quantia em dinheiro.

Observei que a Luísa também trazia na mão um “Boletim Paroquial da Unidade Pastoral”[2], onde, curiosamente, na capa constava o texto “distribuição gratuita”. Sem perceber bem porquê, entregou-mo. Passando consequentemente os olhos por cima, dois títulos do mesmo despertaram-me a atenção:
O primeiro, dizia…
“Maria não veio a Fátima para que a víssemos, mas para avisar sobre o Inferno que é a vida sem Deus”.
Pareceu-me uma espécie de ameaça encapotada aos que encararem a vida sem o dito “Deus”. Decerto que na eternidade serão encaminhados para o dito “inferno”, em detrimento dos que na terra “vivem com Deus”, (ou pelo menos pensam que vivem!), esses certamente com lugar certo no dito “paraíso”.
Os que na terra “vivem sem Deus”, obviamente que nunca poderão ser boas pessoas!
Mais curioso ainda é que a dita “Maria” tenha vindo a Fátima não apenas para ser vista pelos que a avistam, mas para avisar sobre esse “inferno”!

O segundo dizia…
“Domingo do Bom Pastor”. Dedicado aos sacerdotes…
“Ao entrar na sacristia (cito), o pároco encontra um envelope que por fora dizia “Bom Pastor” e dentro continha alguns euros” de um grupo de anónimos paroquianos que assim quiseram mimar o seu Pastor”.

Afinal também há ofertas em dinheiro aos “Bons Pastores”!
5 vezes! -pensei. Tal significa que numa missa se pode pagar 5 e não apenas 4 vezes!

Há pouco ouvi o Papa Francisco, também numa missa[3] dizer que “não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Ou um ou outro. O dinheiro faz adoecer o pensamento e a fé faz-nos ir por outros caminhos…”


--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 2017-05-??
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---








[1] Igreja de Borba
[2] De Borba, Ano 1 Nº 3 Maio 2017
[3] Santa Marta

2020-01-28

0115. Agora




Vive Agora
Vive agora o teu Agora
Aproveita-o plenamente
Devora-o completamente

Não o deixes realizar sem sequer sonhar
Não o deixes terminar sem sequer amar
Não o deixes fugir sem sequer ouvir
Não o deixes partir sem sequer sentir

Este é o tempo do Contentamento[1]
Vive-o sem tormento ou desalento
Vive-o sem medo ou segredo
Vive-o em paz amor e sossego

Vive-o como se não tivesses tempo
Vive-o libertando o teu sentimento
Vive-o libertando o teu pensamento
Vive-o a cada momento

--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-28
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---





[1] Satisfação

2018-05-21

0114. Realidade virtual





Há uma centena de anos não se falava em realidade virtual.
Mas há milhões que, inconscientemente, se vivia em realidade virtual.

Outrora a realidade virtual era gerada por religiões, seitas, economias ou ideologias dominantes…
Hoje a realidade virtual é gerada por máquinas…nuvens… computadores…

Outrora era preciso rezar mil “ave-marias”, ir cem vezes à igreja, privar de ter sexo por toda a vida e seguir fielmente determinados mandamentos sob pena de se não alcançar o céu, ou portando mal, ser eternamente enviado para o inferno…

Hoje é preciso ganhar bué de milhões de pontos e passar infindos níveis para ganhar o “game” e atingir o fundamental objetivo surrealista…
Hoje é preciso também ter o carro de luxo x, a posição principal y, a casa de sonho z… e a mulher perfeita w para atingir o topo da carreira, ou assim, alcançar a plena felicidade…

Hoje, tal como Outrora, continuamos sonolentamente a viver esta “realidade virtual”…
Pouco ou nada mudou!
Continuamos a renegar a condição humana, o rigor lógico e o pensamento racional…
E até a própria realidade!
--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 2018-05-20
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---




2018-05-19

0113. O sono da razão








Titula um dos mais célebres desenhos de Goya que…

O sono da razão produz monstros”.

 

Sobre o mesmo já na altura Freud observava…

“É uma crítica à Espanha dominada pela ignorância, pelo despotismo, pelo desrespeito pela vida humana, pelo fanatismo religioso, pela miséria e pela falta de perspetivas” ...

 

Na realidade, Goya alertava-nos para os “monstros” que advêm do “sono” do ser.

Para o facto desse “sono”, terem resultado algumas das maiores tragédias da humanidade.

Para o facto desse “sono”, aflorarem religiões, crenças, seitas e mitos, normalmente perpetradas por deuses, profetas ou videntes

Para a necessidade de lutar contra a superstição e a ignorância…

E tal tem sido a sonolência que, nos dois últimos milénios, surgiram gigantescos mantos de obscurantismo e fanatismo que ensombraram praticamente toda a sociedade.

Em pleno século XXI, estes “monstros” continuam…

Observam-se multidões em delírio e completamente possuídas… lutas fratricidas entre hipotéticos “bem” e “mal” … prometem-se “paraísos”, “infernos” e “virgens” … assiste-se a “salvações divinas”, a “punições públicas”, a maior parte das vezes com contornos sanguinários e de estrema crueldade; algumas absolutamente ridículas e irracionais, incompatíveis com o pensamento racional e com o rigor científico.

Não é preciso retroceder assim tanto na histórica da humanidade para identificar alguns “monstros” que resultaram deste “sono” …

As Cruzadas com seu espírito belicista, expansionista e de inspiração cristã

O Jihadismo islâmico com as suas lutas radicais em nome da “” e da “perfeição” …

Mais recentemente, “Mahaj Ji, Sun Myung Moon, entre tantos…

“Religiões”, “seitas”, “crenças”, “tradições” … têm, ainda hoje, profundas raízes culturais e ancestrais, vincadas e institucionalizadas no tecido social, de tal forma tidas como verdades absolutas, que, questioná-las ou desacreditá-las seria sacrilégio ou imoralidade… nalguns casos punidos com a própria vida!

Normalmente instituem como prática corrente a violência, corrigem e punem severamente os transviados. Exercem implacavelmente a autoridade, a submissão à ordem estabelecida, a exploração económica, o fundamentalismo, o paternalismo… em último caso, assumindo-se como representantes do bem, da moral pública e da verdade absoluta.

Quase todas perpetuam cultos ou ritos baseados nos mitos que produzem…

Quase todas condenam e desclassificam os “infiéis” ou os “hereges” que não as seguem…

Quase todas geram servilismo, ignorância e parasitismo…

Monstruosidades cujas feridas ainda nem sequer sararam completamente e que não podemos ignorar ou esquecer…

Auschwitz, na Polónia…

O maior símbolo do Holocausto perpetrado pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Nunca antes se tinha visto, de forma tão estrema, tão descomunal fascínio pela morte, tão descomunal desprezo pela vida humana… Seres humanos a incinerar seres humanos (ditos judeus, comunistas…) em fornos crematórios…  a exterminar etnias e culturas… convictos que eram inimigos do “regime” e que cumpriam o dever de defender a sua Pátria.

 

É, inequivocamente, deste “sono” que resultam os “monstros”!





Autor: Carlos Silva
Data: 2018-06-18
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.


2018-05-10

0112. Agora





A vida é vivida “Agora”!
Quem agora não entender, poderá despertar tardiamente para a realidade… ou eventualmente nunca chegar a despertar!
Vivo agora o meu “Agora” porque o ontem já foi e o amanhã nunca será este deslumbrante “Agora”!

--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 2016-02-23
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.

--- / ---




2018-05-05

0111. Sr. Presidente





Sr. Presidente,
Não!...
Não é para pedir uma selfie!

Ainda a propósito da “acusação da Operação Marquês que diz que, em 5 anos, foram pagos quase 36 milhões de euros de luvas a José Sócrates. A maior fatia veio do Grupo Espírito Santo. O Ministério Público fala em pagamentos por decisões políticas sobre negócios da PT, alegadamente em benefício de Ricardo Salgado” … -estava eu há pouco a questionar:
“Estamos à espera de quê?”
E eis que sou surpreendido por mais dois “títulos” sobre os nossos generosos “Bancos”!

Diz a imprensa de hoje que…

1. “A injeção de verbas no Novo Banco vai pesar 0,4% do PIB no défice deste ano…” “devido ao apoio dado ao Fundo de Resolução para reforço do capital do Novo Banco…” “… “O Novo Banco vai receber 792 milhões de euros por via do Fundo de Resolução, 450 milhões dos quais financiados pelo Estado.”

2. "O Millennium BCP e o Novo Banco terão perdoado 94,5 milhões de euros a um clube desportivo…"

Se bem entendo…
O Estado continua a injetar dinheiro dos contribuintes nos bancos…
Os Bancos perdoam dívidas aos clubes de futebol…
O Estado recebe dinheiro dos contribuintes, entrega-o aos bancos, estes emprestam-no a um clube e depois, assim sem mais nem menos, perdoam-lhe uma dividazita de 100 milhões…
O contribuinte paga e não recebe de volta… para salvar um clube de futebol!
Nesse clube de futebol há dirigentes que anunciam títulos, lucros e pagam a funcionários milhões de euros por ano…
Nesses bancos há dirigentes que ganham muitos milhões e recebem reformas de 174 mil euros por mês…
Nesses bancos há despedimentos coletivos e rendimentos congelados...
Nesses bancos têm acontecido inúmeras fraudes sobre o património dos contribuintes…
Nesses bancos tem desaparecido muito dinheiro que por milagre se transfere para contas offshore de “políticos” e “amigos” …

A propósito, li inúmeros comentários e adjetivos como “vergonha” … “revolta” … “indignação” …

Confesso que fiquei sem palavras...
Confesso que fiquei preocupado porque também li algures por aqui que em 2017, 1.480 famílias foram despejadas nos primeiros nove meses do ano por não conseguirem pagar o crédito à habitação… cinco por dia!

O Sr. Presidente…
Não podia pedir também aos bancos que perdoassem a este singular contribuinte os anos que restam de pagamento do empréstimo da sua casinha?
Sei que estou a falar apenas de uns trocos, mas é que dava imenso jeito!

Ah… e já agora, faça também o favorzinho de não dizer nada lá ao pessoal da Assembleia ou ao “Banco de Portugal”, nem à CMVP e muito menos ao M.P. …
Não quero problemas!


--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 2018-05-04
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---