2023-05-02

0338. Eutanásia

 


Diz a Declaração Universal dos Direitos do Homem que “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”.

Ora, o sofrimento, tal como o prazer e a própria morte são indissociáveis da vida.

O sofrimento, porém, quando sem alternativa, pode tornar-se intolerável e insuportável, quer fisicamente quer psicologicamente, fazendo com que a vida se transforme numa autêntica tortura.

Assim, muito além do que defina a DUDH, está o individuo, a quem, ainda em plena capacidade, cabe decidir se quer ou não viver os seus últimos dias num estado de sofrimento atroz.

 

Esta decisão pessoal é inalienável e inescrutável.

 

A decisão sobre o direito à vida, ou morte, pertence ao próprio individuo e não a qualquer pessoa ou entidade.

Não existe estado ou religião, poder legislativo ou judicial, que prevaleça sobre a decisão individual de pôr termo à própria vida, quando, por força do sofrimento, esta deixe de ter qualquer sentido.

A estes poderes, apenas compete legislar e regulamentar as condições em que o pode fazer, para que não existam dúvidas ou violações sobre o direito fundamental.

Por isso, caro Marcelo, pode realmente enviar as vezes que entender a Lei da Eutanásia para a Assembleia da República para esclarecer as suas dúvidas sobre a letra…

Não faz qualquer sentido continuar a discutir, ano após ano, a Lei da Eutanásia!

Trata-se de um direito individual.

Trata-se de uma decisão individual e sobre esta decisão, o Presidente ou o Parlamento não têm qualquer competência.

Espero, pois, que a regulamentem de forma adequada porque é-me indiferente o que decidam.

 

Sobre a minha vida, sou eu que decido!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-04-22
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2023-04-28

0337. Fé

 

 

Gosto de pessoas com fé… religiosas, ou não!

Gosto de pessoas que acreditam nas suas capacidades!

Gosto de pessoas que acreditam que são capazes de vencer, ainda que, à priori, não tenham a certeza das convicções porque só à posteriori as podem confirmar.

 

Podemos ter fé de que vamos vencer uma prova…

No entanto, nada nos garante a vitória, porque são inúmeros os condicionalismos... os nossos adversários podem ter a mesma fé e nada nos garante que não tenham treinado tanto ou mais que nós… e que, na realidade, sejam realmente melhores!

Podemos ter fé que ficaremos bem num exame porque estudamos muito e sentimos que iremos passar. No entanto, nada nos garante que tenhamos êxito. Poderá não correr como imaginávamos.

Podemos também ter fé em milagres ou na existência de seres divinos!

No entanto, contrariamente às primeiras convicções, estas não têm qualquer base científica sólida que as sustente e não podem ser observadas ou confirmadas.

Se à posteriori, poderemos realmente confirmar a vitória ou o êxito no exame, obviamente fruto das nossas capacidades, do esforço, do querer… neste último caso, é impossível, uma vez que a nossa fé, ou o acreditar não faz nada acontecer ou existir!

Há, pois, a fé fundamentada no esforço e na dedicação que à posteriori pode ser realizada, e a fé religiosa, imaginada, que jamais poderá ser testada ou confirmada.

Podemos prever que amanhã vai chover ou estar sol…

Se estivermos no verão, a probabilidade de estar sol será bastante elevada, enquanto que, no inverno, a probabilidade será bastante reduzida. É perfeitamente espectável.

Podemos também prever, embora mais raro, um fenómeno atmosférico que normalmente ocorre quando o sol atravessa nuvens de cristais de gelo e reparte a luz (parélio), criando a ilusão ótica de diversos “sóis” em movimento, numa espécie de dança nupcial com as nuvens. Para os mais crédulos, terá sido este o fenómeno extraordinário ocorrido na Cova da Iria que estaria na origem do “milagre de Fátima” -a célebre “dança do sol” que serviu de prova às ditas aparições!

Para os mais informados, não terá sido mais do que um simples fenómeno atmosférico, que, de resto, poderá acontecer em qualquer lugar do mundo onde as condições atmosféricas sejam as mais propícias.

Considerar esta célebre “dança do sol”, ou por outras palavras, movimento gravitacional, uma realidade, teríamos que admitir que nesta altura estaríamos todos na companhia dos “anjinhos” a navegar eternamente no espaço sideral!

Claro que se à posteriori qualquer uma destas possibilidades se pode verificar (um belo dia de sol…  um acinzentado dia de chuva… ou, ainda que menos provável, um inesperado parélio) … no entanto, não faria qualquer sentido atribuí-las à ação de supostas divindades e muito menos a um qualquer fenómeno milagroso!

Qualquer pessoa minimamente racional que queira fazer este tipo de previsão com a maior probabilidade possível de acertar, certamente que previamente se informará sobre as condições meteorológicas e não se fundamentará apenas num mero processo empírico baseado em crenças pessoais.

Normalmente as pessoas que mais êxito alcançam nas suas previsões são aquelas que se apoiam em dados científicos, que possuem capacidade para os analisar e retirar deles conclusões objetivas.

Existem inúmeras pessoas que se vangloriam de ter acertado nas suas previsões, sobretudo quando as probabilidades eram reduzidas… são os “adivinhos”, ou por outras palavras os “charlatães”, que se aproveitam da inocência dos interlocutores para retirarem proveitos financeiros desses seus dotes supostamente sobrenaturais.

 

Há pessoas que precisam da fé, sobretudo religiosa, para se sentirem bem ou sentirem que têm êxito na vida, sobretudo por pensarem que tal é uma virtude… procuram convencer os demais a acreditar no seu credo como fórmula de êxito e resolução pessoal, associando muitas vezes a devoção ao ideal de bem e de ajuda ao próximo. No entanto, é preciso clarificar que a fé religiosa acaba invariavelmente por culminar no mero acreditar, ou pelo menos, no que se acredita saber; nunca num facto objetivo ou conclusão, porque jamais pode ser confirmada, o que normalmente pode levar à frustração ou desilusão pessoal, muitas vezes com consequências dramáticas e irreversíveis para o futuro do crente. Em casos extremos pode mesmo levá-lo a acreditar que os seus problemas se resolverão através da fé… do acreditar… não apenas em si, mas também no ser imaginário que venera, que supostamente o protege e ajuda a ter êxito na vida.

 

Gosto de pessoas com fé… religiosas, ou não!

Gosto sobretudo de pessoas que têm fé no seu esforço, no seu trabalho, na sua dedicação para assim alcançarem os êxitos e objetivos previamente traçados.

 

Obviamente, desde que possível, qualquer um pode acertar numa determinada previsão…

 

Não será por acaso que alguém acerta na chave do sorteio do Euromilhões!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-04-17
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2023-03-09

0336. "Lista de nomes"

 


Pergunta a Antena 1, aos seus ouvintes, em Antena Aberta, se “os abusos sexuais correm o risco de cair no esquecimento?”

 

A resposta, obviamente, só pode ser uma… Não!

Claro que não!

 

Após o Bispo José Ornelas ter afirmado que o que tinha sido entregue pela Comissão Independente era apenas uma “lista de nomes”, tornou-se evidente que a Igreja Católica não vai denunciar os pedófilos escusando-se no seu “Direito Canónico”, na falta de provas e sobretudo no argumento de que se pode estar a condenar um inocente.

A Igreja Católica não vai afastar os suspeitos, porque, supostamente, é mais importante a presunção de inocência dos abusadores que o sofrimento das crianças!

Todos temos o direito à presunção de “inocência” … mas, perante a lei, um sacerdote não é mais nem menos que um treinador, um político, ou qualquer outro… pelo que é perfeitamente lícito proceder à suspensão e afastamento preventivo de um suspeito enquanto decorrem as averiguações.

“A suspensão não é uma condenação. É importante suspender porque, do ponto de vista psiquiátrico, há grandes probabilidades de estas pessoas repetirem o comportamento” .

Posteriormente, é sempre possível reintegrar no caso de inocência, ou condenar no caso de culpa.

 

Na realidade não se trata de uma simples “lista de nomes” que “caiu do céu” …

Trata-se de uma lista “obtida a partir de denúncias de vítimas” e da “consulta dos arquivos secretos da igreja” que tem como resultado final a junção de ambas.

 

Qualquer bispo tem autonomia para afastar preventivamente os suspeitos…

No entanto, mais uma vez, a maioria optou por não o fazer… pela ocultação… pela prescrição… pelo prolongamento no tempo no intuito que caia no esquecimento…

 

Alguns propuseram o perdão a condenados na justiça, tendo em conta o seu arrependimento e tentativa de mudança de comportamento… afinal, “todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas!”.

Outros justificaram o não afastamento com um estado depressivo… que não pressupõe que seja considerado “pedófilo compulsivo” … digamos apenas… “pedófilo de ocasião”… o que de certa forma, para o coitado, será uma “dor que ficará para toda a vida!”.

 

Não!...

A sociedade civil não só não vai esquecer como também não se irá calar enquanto não forem afastados, julgados e punidos os responsáveis pela violação de crianças.

 

 

*

 

A finalizar, o Bispo José Ornelas, anunciou que no decorrer das “Jornadas da Juventude” irá ser criado um “Memorial às vítimas de abusos sexuais na Igreja” e posteriormente perpetuado num espaço exterior em Fátima.

 

“Memorial às vítimas”?!

 

Só se for um Memorial da Vergonha!

 

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-03-11
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2023-03-05

0335. O comboio não volta mais

 


O comboio do amor passou e não volta mais

Não adianta recordar ou suplicar a mil fés

Não adianta cruzar os braços pernas e pés

 

Quando perdes o comboio do primeiro amor

Perdes a perfeição da única viagem da tua vida

Perdes a perfeição e ficarás para sempre perdida

 

Não adianta procurar conforto e consolo na saudade

Não adianta imaginar o amor que apenas podes desejar

Não adianta desejar o ser que apenas podes imaginar

 

Quando perdes a loucura de amar assim perdidamente

Resta apenas ficar só acompanhada e eternamente ausente

Resta apenas ficar nua ardente e completamente carente

 

Resta a perfeição duma ilusão perdida e uma amarga desilusão

Resta um amor-perfeito desperdiçado em prantos e cantos banais

Resta apenas o comboio do amor que passou e não volta mais

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2022-10-07
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2023-03-03

0334. "Impossível"

 


Porque é que é possível um homem ser ordenado “padre” ou “bispo” e uma mulher impossível?!

 

Quando a comunicação social questiona algum líder religioso sobre o que pensa sobre o "celibato ou o casamento dos padres", as "mulheres serem ordenadas padres ou bispos", os "recasados efetuarem a comunhão", ou os "homossexuais terem os mesmos direitos que qualquer outra pessoa", normalmente as respostas são evasivas, para não dizer controversas, e muitas vezes, contra as diretrizes do próprio Vaticano.

 

Tomemos como exemplo as palavras de Monsenhor Duarte da Cunha, Pároco de Santa Joana Princesa, Lisboa…

 

“Acho impossível a ordenação de mulheres” … “por causa da identificação com Jesus Cristo”.

“Há diferenças entre os dois sexos. Não é que uns sejam melhores do que outros, são complementares.

(…)

Há coisas que posso responder com conveniências, como diria São Tomás de Aquino. São Tomás usava muito: ‘Não sei porquê, mas vejo que havia conveniências’.

Foi o que Deus decidiu.

Ultimamente a doutrina da Igreja sobre o sacerdócio exclusivo para os sacerdotes está enraizada numa autoridade que é maior do que a nossa capacidade de compreender.

Jesus escolheu assim.

Sou alguém para poder mudar o que Jesus escolheu?”

 

Ora, Monsenhor Duarte da Cunha, acha que é impossível… porque foi “Deus” que decidiu e escolheu que assim seja!

Não concordo que tal decisão esteja além da “capacidade de compreensão humana” … pelo contrário, creio que até é bastante fácil explicar e sobretudo entender.

É evidente que, ao longo de séculos, a Igreja Católica sempre discriminou, menosprezou e subjugou a mulher atribuindo-lhe um papel secundário…

Quando, numa sociedade livre e democrática como a atual, é confrontada com a acusação de discriminação… o que é que faz?

Simplesmente remete a culpa para a “escolha de Deus” … e nunca para as escolhas ou decisões humanas, afinal, os criadores das entidades divinas!

 

Nunca é demais recordar que…

A igualdade de direitos das mulheres constitui um princípio essencial das Nações Unidas e são parte inalienável dos Direitos Humanos universais.

 

“A participação plena das mulheres, em condições de igualdade, na vida política, civil, económica, social e cultural, bem como a erradicação de todas as formas de discriminação com base no sexo, constituem objetivos prioritários da comunidade internacional.”

 

“Em praticamente todas as sociedades e em todos os domínios de atividade, as mulheres são vítimas de desigualdades de direito e de facto.

Esta situação tem origem e é agravada pela discriminação que existe no seio da família, da comunidade e no local de trabalho. Apesar das causas e consequências não serem as mesmas em todos os países, a discriminação contra as mulheres existe por todo o lado, sendo perpetuada pela subsistência de estereótipos, práticas e convicções tradicionais de natureza cultural e religiosa prejudiciais às mulheres.”

 

Claro que é possível!

 

Basta crer… e querer!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-03-01
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