2018-02-05

0036. Culpados





Fiquei particularmente emocionado com a atitude de Saramago, que hoje recebeu o prémio Nobel, ao recordar os 50 anos da Declaração Universal dos Direitos
 do Homem.
Fiquei sobretudo emocionado pela forma como apontou os culpados sem apontar o dedo a ninguém...

*

Afasto-me mais uma vez da correria do mundo-do-pequeno-ecrã....
Afasto-me mais uma vez da vida[1] para estar um pouco a sós comigo...

Desfruto então o instante...
Sinto contemplativamente…
À superfície afloram as mais aprazíveis recordações...

A Declaração Universal dos Direitos do Homem aflora o desejo de debate interior e desperta-me para uma outra realidade... a humana!
Mais uma vez não resisti a reproduzir alguns retalhos que aferram o confronto com a realidade humana…

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. (...)”
“Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades (...) sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou qualquer outra situação.”
“Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
“Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.”
“Todos são iguais perante a lei...”
“Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião...”
“Toda a pessoa tem direito à educação...
A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade... (...) bem como o desenvolvimento das atividades para a manutenção da paz.”
“Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e liberdades enunciados na presente Declaração.”

O perfume das palavras envolve-me…
Solto as asas…

E finalmente pouso sobre a realidade…

Como é possível que a realidade humana ainda esteja tão distante?

Como é possível caminhar indiferentemente, permitindo realidades tão ignóbeis sem que, de certa forma, nos sentirmos culpados ou cúmplices dos culpados, que eventualmente, nalguns casos, elegemos democraticamente?

Indignemo-nos pela forma como conduzimos o nosso próprio destino...
Indignemo-nos por ainda não termos reformulado valores, por ainda não termos consciência de que antes de qualquer comunidade, antes de qualquer patriotismo, está a Pátria-terra e os direitos fundamentais do homem… e dos demais seres…
Indignemo-nos com a fome na nossa Terra... muito especialmente com a fome das nossas crianças… Como é possível que se sancionem povos por produzirem demasiado e outros morram de fome?... Como é possível que se continuem a fabricar tantas e tão mortíferas armas que, traduzidas em géneros, saciariam praticamente todos os estômagos?
Indignemo-nos com todas estas ganâncias económicas, em detrimento dos reais interesses da humanidade…
Indignemo-nos com todo este abandono e indiferença pelos nos nossos idosos…
Indignemo-nos com a guerra… com todas as guerras que incompreensivelmente ainda hoje perduram na terra…
Indignemo-nos com esta sociedade que às portas do terceiro milénio se autoproclama evoluída e gera níveis de violência e crueldade inimagináveis...
Indignemo-nos com as florestas que delapidamos, com a poluição que produzimos, com todo o tipo de destruição que conscientemente provocamos...
Indignemo-nos (como eu me indigno) pelo pouco que fazemos…

*

Fazer da Terra uma escola de sabedoria e equilíbrio onde todos nos sintamos bem é obrigação de todos!
Somos inegavelmente mais evoluídos, mais inteligentes... mas somos sobretudo mais perigosos e selvagens…
Abramos aos nossos filhos as portas da vida... -o respeito pela vida, é essencial ao equilíbrio do homem inserido na natureza.
Abramos, antes de mais nada, as portas da consciência humana porque na realidade justiça e paz em todo o mundo são hoje ilusões de um ser humano inconsciente, cego e indiferente às suas próprias feridas e aos antídotos para as sarar.
As portas do Universo começam também a abrir-se ao nosso mundo... assombremo-nos e ilusionemo-nos com esses novos mundos que se anunciam...

É preciso Educar!
É preciso Despertar!
É preciso Agir!

Afinal, hoje ainda é tempo de Primavera!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1998-10-08
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Agregado familiar





 

2018-02-04

0035. A José Saramago





"Nada disto existiu, está claro, são mitos inventados pelos homens, tal como Deus é uma criação dos homens. Eu limito-me a levantar as pedras e a mostrar esta realidade escondida atrás delas"
(José Saramago)

Óbvio como uma pedra!
Pelo menos a tal sabe!
Sabe tão bem levantar pedras!...
Sabe tão bem descobrir o mistério que se esconde por detrás de cada uma!
José Saramago
Foi hoje atribuído a José Saramago o Prémio Nobel da Literatura...
Reconheço a minha insciência para emitir uma opinião minimamente realista sobre a pessoa...
Reconheço que, à data, ainda só passei os olhos por cima do “Evangelho”, mas, como ele mesmo disse no Telejornal[1] “ler alguém não é uma obrigação, mas sim uma necessidade motivada por um prazer pessoal…” e, com toda a naturalidade do mundo, confesso que, por enquanto, sinto e continuo a sentir mais contentamento por Pessoa.
Mas, voltando ao homem do Nobel, aqui fica o meu simples testemunho; um incógnito gesto de felicitações pelo prémio que deu a Portugal... quem sabe, assim o mundo desperte, um pouco mais para a Literatura e para tantos jovens valores que nela despontam.

Retenho em mente duas frases...
 “A da contagem pelos dedos...” -curiosamente também eu sempre senti a minha mão cheia... diria mais, extravasando vida… e a do “escritor ser um homem como os outros... com sonhos” -também eu sempre fui um sonhador!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1998-10-08
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.

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[1]Noticiário da SIC



   

2018-02-03

0034. Tudo está em mim...





Tudo está em mim...
Tenho em Mim toda a imensidão interior e exterior…
Tenho Quase-Tudo o que qualquer ser humano normalmente deseja ter… em Mim!
Mas…
Sinto-me anormalmente insatisfeito...
Sinto-me pequeno perante estas monstruosas teias de pensamento… -nada me satisfaz plenamente! Tudo o que registo parece-me absolutamente leviano...
Queria acreditar em Algo ou Alguém, mas tudo acaba por se vergar aos ténues espectros da minha razão…
Sinto que… por-entre-Tudo… nada alcancei, nada tenho, nada sou...
Nada Tive de Mim.
Nada Serei de Mim.

Nada Terei no Fim.
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-01
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.

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2018-02-02

0033. Consciência






A consciência da existência prolonga a minha consciência…
É inevitável Ser…
É inevitável caminhar pela sua vastidão…
É inevitável tentar abarcá-la…
Tão longa a ponte que separa a sua essência[1] da massa sensorial que a gera…
Tão ténue a conclusão que invariavelmente a distância me deixa…
Tão infinita a consciência da sua descomunal imensurabilidade…
É meu desígnio primário dar asas a este simples “Algo”…
É meu desígnio primário voar espontaneamente ao sabor desta deslumbrante sensação…
Sendo o mais possível, ainda que tão efemeramente...
Neste preciso momento em que livremente voo…
Sinto-me, ainda que não queira, preso a este abominável assombro…
De Ser-Algo…
De Compreender-Algo…
Para quê gritar em vão?
Contenta-me esta extasiante cópula mental, sem sequer procurar atingir um clímax…
Contenta-me estes conscientes fragmentos de vida...

A minha filha sorri ao ver-me olhar perdido no horizonte…
Por momento volto à realidade para sorrir ao seu sorriso…

Curiosamente é neste preciso momento que tenho a perfeita consciência que sou-Algo!
É nele que tenho a perfeita sensação que Existo!
É nele que sinto-Algo!
É nele que penso-Algo!

Que Algo-sou!

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-02-12
Imagem: Internet
Obs: Consciência de ser algo
Direitos reservados.
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[1]Realidade


2018-02-01

0032. Realidade





Agora mesmo penso na impossibilidade de abarcar toda a Realidade...
A simples impossibilidade de abarcar a minha própria realidade abate-se sobre a consciência como uma nuvem negra sobre a noite escura...
Agora mesmo penso na essência, na substância consciente e em alguma arte projetada em imagens prosaicas como estas que do nada se vão libertando.
À medida que novas sensações e pensamentos vão aflorando, ocasionalmente, novas imagens surgem... mas a primordial continua…
Continua esta imensa impossibilidade de abarcar a realidade!
Continua esta imensa impossibilidade de abarcar a minha realidade!
Continua esta limitação perante a desmedida imensidade deste precioso momento em que penso...
Agora mesmo penso na sua efémera beleza…
Agora mesmo penso na sua perfeita sensação…
Pudera eu dar-lhe um qualquer eco exterior...
Pudera eu trasladar a sua verdadeira essência a outrem…

Pudera eu despertar alguém…


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-10-03
Imagem: Internet
Obs: Realidade
Direitos reservados.

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2018-01-31

0031. Saudade





Sinto uma certa saudade do tempo em que nem sequer com o tempo me preocupava...
Sinto uma certa saudade do tempo em que só o amor me importava...
Sinto uma certa saudade das genuínas emoções d’infância…
Sinto uma certa saudade das emocionantes controvérsias de adolescência que me deixavam os pelos em pé, dos insaciáveis desejos de perfeição...

Agora procuro essencialmente o bem-estar…
Agora procuro sobretudo o deleite da vida…
Agora, procuro não só o amor… procuro compreender o que aparentemente não se pode compreender no amor…
Agora procuro não só o requinte… procuro essencialmente sentir[1] o deslumbrante mundo desta admirável viagem…
Sinto uma certa saudade das imagens deslumbrantes da adolescência que continuamente afloram no meu ecrã mental… mas agora, que já se foi o recalcado medo de as ocultar à consciência, solto-as e deixo-as desfrutar o momento[2] do corpo…


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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-01-12
Imagem: Internet
Obs: Saudade da infância
Direitos reservados.

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[1]Sentir e viver
[2]Presente