Fiquei particularmente emocionado com a
atitude de Saramago, que hoje recebeu o prémio Nobel, ao recordar os 50 anos da
Declaração Universal dos Direitos
do Homem.
Fiquei sobretudo emocionado pela forma
como apontou os culpados sem apontar o dedo a ninguém...
*
Afasto-me mais uma vez da correria do
mundo-do-pequeno-ecrã....
Desfruto então o instante...
Sinto contemplativamente…
À superfície afloram as mais aprazíveis
recordações...
A Declaração Universal dos Direitos do
Homem aflora o desejo de debate interior e desperta-me para uma outra realidade...
a humana!
Mais uma vez não resisti a reproduzir alguns
retalhos que aferram o confronto com a realidade humana…
“Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. (...)”
“Todos os seres
humanos podem invocar os direitos e as liberdades (...) sem distinção alguma,
nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou qualquer outra
situação.”
“Todo o indivíduo
tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
“Ninguém será
submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.”
“Todos são iguais
perante a lei...”
“Toda a pessoa tem
direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião...”
“Toda a pessoa tem
direito à educação...
A educação deve
visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do
homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade... (...) bem como o desenvolvimento das atividades para
a manutenção da paz.”
“Toda a pessoa tem
direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz
de tornar plenamente efetivos os direitos e liberdades enunciados na presente
Declaração.”
O perfume das palavras envolve-me…
Solto as asas…
E finalmente pouso sobre a realidade…
Como é possível que a realidade humana ainda
esteja tão distante?
Como é possível caminhar
indiferentemente, permitindo realidades tão ignóbeis sem que, de certa forma,
nos sentirmos culpados ou cúmplices dos culpados, que eventualmente, nalguns
casos, elegemos democraticamente?
Indignemo-nos pela forma como conduzimos
o nosso próprio destino...
Indignemo-nos por ainda não termos
reformulado valores, por ainda não termos consciência de que antes de qualquer
comunidade, antes de qualquer patriotismo, está a Pátria-terra e os direitos fundamentais do homem… e dos demais
seres…
Indignemo-nos com a fome na nossa
Terra... muito especialmente com a fome das nossas crianças… Como é possível
que se sancionem povos por produzirem demasiado e outros morram de fome?... Como
é possível que se continuem a fabricar tantas e tão mortíferas armas que,
traduzidas em géneros, saciariam praticamente todos os estômagos?
Indignemo-nos com todas estas ganâncias
económicas, em detrimento dos reais interesses da humanidade…
Indignemo-nos com todo este abandono e
indiferença pelos nos nossos idosos…
Indignemo-nos com a guerra… com todas
as guerras que incompreensivelmente
ainda hoje perduram na terra…
Indignemo-nos com esta sociedade que às
portas do terceiro milénio se autoproclama evoluída e gera níveis de violência
e crueldade inimagináveis...
Indignemo-nos com as florestas que
delapidamos, com a poluição que produzimos, com todo o tipo de destruição que
conscientemente provocamos...
Indignemo-nos (como eu me indigno) pelo
pouco que fazemos…
*
Fazer da Terra uma escola de sabedoria
e equilíbrio onde todos nos sintamos bem é obrigação de todos!
Somos inegavelmente mais evoluídos,
mais inteligentes... mas somos sobretudo mais perigosos e selvagens…
Abramos aos nossos filhos as portas da
vida... -o respeito pela vida, é essencial ao equilíbrio do homem inserido na
natureza.
Abramos, antes de mais nada, as portas
da consciência humana porque na realidade justiça e paz em todo o mundo são
hoje ilusões de um ser humano inconsciente, cego e indiferente às suas próprias
feridas e aos antídotos para as sarar.
As portas do Universo começam também a
abrir-se ao nosso mundo... assombremo-nos e ilusionemo-nos com esses novos
mundos que se anunciam...
É preciso Educar!
É preciso Despertar!
É preciso Agir!
Afinal, hoje ainda é tempo de
Primavera!
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Autor:
Carlos Silva
Data: 1998-10-08
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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