2018-02-23

0054. Desenhar




Adoro desenhar-me…
Adoro transportar-me...
Adoro interferir com estas imagens internas e externas da minha viagem mental mesmo desconhecendo as imperfeições com que as delimito…
Que importa a linha se é o sentimento do momento, o arquitetar do sonho que me move e que as sustenta!...
Que me importa o resultado se não as quero pintar como um qualquer Guérnica literal suscetível de arrebatar horror ou beleza… uma qualquer tela visual como esta!
Decerto poucos se importarão com o que sinto…
Mas…
Se sentirem como eu sinto…
Se sentirem algo parecido com o que eu sinto...
Se interferirem como eu interfiro…
Se desenharem como eu desenho…

Algo criaremos!

Tal significa que poderemos tornar[1] este mundo um pouco melhor!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-22
Imagem: Carlos Silva
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Mudar

2018-02-22

0053. Tradição





Vi, há alguns dias atrás, pelo pequeno ecrã, um animal[1] furtado à sua natureza e enclausurado numa qualquer praça redonda...
À sua volta outros animais[2], por tradição, bradavam, incitando um outro da mesma espécie que enfrentava o primeiro… -aflorando em mim similar imagem de uma qualquer praça romana  guardada algures no meu subconsciente…
O animal aparentemente menos perspicaz, ou que pelo menos tal parecia, mas indiscutivelmente superior em força física, investiu contra o primeiro, que, como aparente defesa, usava uma simples capa de forma a ludibriar essa mesma ação...
Durante alguns momentos o segundo conseguiria os seus intentos, mas, a determinada altura seria colhido mortalmente por um dos cornos do primeiro...
Surgiu então um jorro de sangue e um colossal ‘ohhh!’ dos animais[3] que das bancadas assistiam...
Como consequência de tal desfecho o primeiro seria transportado para um matadouro e o segundo para uma dita morgue...
A vida acabara de fugir a ambos.
Normalmente na natureza, em confronto, também a vida foge, ainda que só a uma das espécies…
A espécie humana, ao contrário das demais, que naturalmente se enfrentam pela sobrevivência, a maior parte das vezes, fá-lo por divertimento, por aventura, por valores materiais, por poder… e (dizem alguns) por tradição!...
Imagens como estas despertam a consciência… incomodam profundamente qualquer ser minimamente sensível…
Imagens como estas fazem-nos questionar… fazem-nos reconsiderar sobre o real valor da “Vida”…
Valerá a pena perder vidas assim?

Ambos perderam a vida… perderam a tradição… perderem tudo!

Li algures, num artigo de um defensor de tal dita tradição, que “determinado tipo de animais, tinham que morrer com dignidade, numa praça, não num matadouro...” mas, realmente, em ambos os casos, não consigo entender a ‘dignidade da morte”... se pelo menos falasse em necessidade ou eventualmente em “dignidade da vida”...

Enfim, a tradição ainda continua a ser o que era!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-22
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Touro
[2]Humanos
[3]Racionais




2018-02-21

0052. Acreditar






Acredito plenamente na Verdade e na Liberdade
Acredito plenamente no que Sinto e Pressinto
Acredito plenamente no Início e Fim da Personalidade
Acredito em tudo o que Vejo e Observo na Realidade

Acredito plenamente no Poeta e na Literatura
Acredito plenamente no que Sonho e Componho
Acredito plenamente no Agora e nesta efémera Eternidade
Acredito em tudo o que Vivo e Revivo na Realidade

Acredito plenamente nesta Prosa e neste Verso
Acredito na Terra no Mar e no Universo
Acredito em tudo o que é realmente Verdade

Acredito plenamente no que Penso e Repenso
Acredito no contentamento deste perfeito Momento
Acredito naturalmente em toda a minha Realidade

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-07
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.

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2018-02-20

0051. Vida





Acompanhado por pessoas que inegavelmente me são queridas...
Mergulho na essência deste deslumbrante pensamento:
Que admirável é esta Vida!

Recuso debruçar-me sobre Princípios, Meios ou Fins?
Resigno-me eventualmente por não encontrar respostas…
Resigno-me eventualmente por não encontrar o caminho da sua plenitude que eventualmente me levasse a uma possível Verdade.

Abdico da ansiedade de querer conhecer mais, mais… e mais!
Abdico da ansiedade de compreender mais, mais… e mais!

Limito-me a despertar o mais perfeitamente possível…
Limito-me a Viver Este Momento o mais naturalmente possível …



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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-01
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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2018-02-19

0050. Fuga





Às vezes fujo à uniformidade de algumas das minhas mais estreitas amizades…
Não o faço por desdém…
Simplesmente para estar a sós comigo…
Isolado no mais puro e pleno silêncio contemplativo…

Fujo da desassossegada correria do mundo…
Refugio-me no confortável desassossego do meu mundo….
Aqui, cada momento é um momento intenso, de relativa satisfação...
Aqui, artifíco sentimentos… pensamentos…
Aqui, dou forma a uma qualquer vivência… como é o caso da amizade!

Fujo e prolongo o momento... este momento.
A minha vida não me permitirá fazê-lo senão apenas por uns quantos anos, mas ao dar forma a este simples pensamento, com certeza que o estenderei… outros prolongarei…

Outros que como eu, solitários, se refugiam neste silêncio….
Outros que como eu, debruçados sobre uma folha de papel ou sobre um texto[1], produzem outro qualquer pensamento como o meu…

Neste preciso momento todos são este presente pensamento.
Todos são este Presente Amigo.
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-07-15
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1] Livro



2018-02-18

0049. Ser





Estava eu completamente esquecido de mim, quando mais umas horripilantes imagens irrompem pelo meu globo mental...
Vejo animais humanos a decapitarem os seus semelhantes, não para se alimentarem, mas simplesmente para se recrearem e ostentarem cabeças como troféus, tal como fazem alguns caçadores[1] com outros animais a que, por inteligência própria, chamam irracionais.
Por momentos fico chocado… agoniado…
Por momentos fico apavorado com a brutalidade humana...
Tais imagens começam a banalizar o meu quotidiano mental… a impotência e a limitação agitam descomunalmente…
Quase todos temos consciência da nossa própria animalidade…
Quase todos temos capacidade suficiente para distinguir o bem do mal…
No entanto, caminhamos alheios ao sofrimento alheio, à dor que provocamos… à vida que espoliamos…

Que fazer para sensibilizar estes pobres animais[2]?
Como ajudar a ser simplesmente humanos?

Obviamente oferecendo-lhes paz!
Obviamente oferecendo-lhes conforto, civilidade para que os seus filhos nasçam e cresçam num mundo melhor…
Obviamente dando-lhes oportunidade para sonhar!
Obviamente dando-lhes oportunidade de sonhar e viver em plena liberdade como eu vivo neste inverso pedaço de planeta… nesta ordem natural e equilibrada de subsistência…

São apenas palavras que não espelham o meu horror…
São apenas palavras que não refletem o seu horror…
Palavras de alerta…

“Genocídio esquecido? Cinco milhões de mortos na República Democrática do Congo passam despercebidos?” 

“A violência atinge uma intensidade rara… e em dez meses o conflito entre os apoiantes do chefe tradicional Kamuina Nsapu e as forças de segurança abrange cinco províncias. São encontradas pelo menos 42 valas comuns.”

“São assassinados dezenas ou centenas de milhares de refugiados hutus ruandeses e civis congoleses no caminho que seguia a Aliança das forças democráticas em prol da libertação do Congo.”
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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-05-15
Imagem: Internet
Obs:
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[1]Humanos
[2]Homens