2020-05-08

0168. Vergonha





Diz um Relatório da “Oxfam, Public Good or Private Wealth, 2018” que…

“As vinte e seis pessoas mais ricas do mundo têm em seu poder tantos recursos como os 3,8 mil milhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial.

Vergonha…

Na vergonha, por momentos…
Quero sentir a dor…
Quero sentir o horror…
Quero sentir o sofrimento…
Quero ver o seu olhar…
Quero a tortura do momento…
Até que o sangue fique pálido…
Até que a respiração fique ténue…
Perante a inconsciência da morte.

Na vergonha, por momentos…
Não contenho estas lágrimas de revolta…
Não contenho estes gestos de impotência…
Neste silêncio imenso e atroz…
De não poder partilhar…
Por não poder sequer levantar.

Na vergonha, por momentos…
Quero vestir a sua pele…
Quero humilhar-me completamente…
Quero desassossegar-me profundamente…
Quero revoltar toda a minha consciência…
Quero conviver com a realidade.


*


Seres humanos fogem ao berço…
Seres humanos em pavor fogem da guerra, da miséria…
Crianças morrerem numa praia…
Crianças morrem de fome…

A maior parte não sabe sequer o que é um brinquedo…
A maior parte não sabe sequer o que é um livro…
A maior parte só conhece dor e sofrimento.


*


Como é que alguém que tem uma casa e um carro…
Que tem uma vida profissional estável… família e amigos…
Que pode sonhar e ter objetivos nesta vida…
Pode eventualmente afirmar:
“Não me sinto satisfeito!”

Como é que alguém que pode plenamente decidir a sua vida…
Que pode fazer o que muito bem entender… que alguém que usufrui de plena liberdade de expressão e movimentos…
Pode eventualmente afirmar:
“Não me sinto feliz!”


*


Está na hora de valorizar o que é realmente importante para nos sentirmos felizes e satisfeitos nesta vida!
Está na hora de dirigir esforços no intuito duma maior igualdade e melhor distribuição da riqueza que a terra produz…
Está na hora que tenhamos a perfeita noção do que é verdadeiramente necessário fazer para o bem comum…
Está na hora de impedir que os nossos líderes e representantes alimentem apenas os conflitos e as guerras…
Está na hora da ação!

Não basta apenas sentir esta vergonha!
É tempo de repartir!…
É tempo de ajudar!…

“Condenar uma criança a toda uma vida de sofrimento é uma crueldade incomensurável.”


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-25
Imagem: Carlos Silva
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0167. Humanos




Por vezes somos conscientemente humanos,
Por vezes somos inconscientemente desumanos,
Por vezes amamos por prazer e por viver,
Por vezes matamos por dever e por poder,

Por vezes amamos deuses de personalidade,
Por vezes matamos deuses de irmandade,
Por vezes amamos deuses de felicidade,
Por vezes matamos deuses de inutilidade,

Por vezes amamos pela emoção e pela ilusão,
Por vezes matamos pela nação e pela religião,
Por vezes amamos pela razão e pelo coração,

Por vezes somos conscientemente humanos,
Por vezes somos inconscientemente desumanos,
Somos sempre, afinal, o ser humano que criamos.

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-07
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2020-05-06

0166. Vida sagrada



Muito se tem falado de “Eutanásia” …
E como não podia deixar de ser…


Em pele de lobo,
E tom ameno e probo,
Diz a igreja mascarada,
“A vida é sagrada!”

Sacrifícios, execuções, mutilações…
Martírios, torturas, violações…
Que negaram, profanaram e destroçaram…
Que sagraram almas e ilusões…

Em Cruzadas, Autos de Fé, Inquisições…
Pecados sagrados, divinamente capitais…
Crimes hediondos, verdadeiramente infernais…
Que sagraram vidas e corações…

Em pele de lobo,
E tom ameno e probo,
Diz a igreja descarada,
Que “a vida é sagrada!”

Autêntica imoralidade!


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-22
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0165. Trabalho



Cansado, dizia-me um amigo…

“Trabalho, trabalho, trabalho!... é só trabalho!
Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado…
E por vezes até domingo…
Sempre a trabalhar!...”

Não lhe respondi…

O trabalho dignifica, glorifica, liberta…
Desperta emoções, vocações, ambições…
Mas o dever, a obrigação, a escravidão…
De trabalhar…
Pode matar o corpo a alma e a ilusão…
Pode transforma o ser humano…
Numa simples máquina, num instrumento, num objeto...

A vida não acontece simplesmente para trabalhar…
Para prestar vassalagem a patrões ou entidades…
Para prestar submissão a reis ou ricos…
Para desperdiçar com ilusões e devoções estéreis e inúteis…
Com ambições desmedidas, guerras fratricidas e absurdas…

Vida é…
Tempo de lazer e prazer…
Tempo para pensar e amar…
Tempo de sonhar e saborear

A vida é feita para VIVER!
Agora!... neste único, preciso e precioso tempo!
É preciso aproveitar! 
O tempo chega sem avisar!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-01
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2020-05-05

0164. Língua portuguesa



A minha pátria não é apenas a língua portuguesa


A minha pátria é o mundo e a racionalidade
A minha pátria é o amor a paz e a liberdade
A minha pátria é o êxtase deste meu presente
A minha pátria sou eu em mim inteiramente

Nunca fui preso a devoções ou obrigações
Nunca fui ligado a partidos ou aplicações
Nunca fui escravo de indivíduos ou entidades
Nunca me subjuguei a divindades ou irmandades

Vivo apenas o momento de não saber o que sou
Vivo apenas o momento de não saber porque sou
Vivo absolutamente sem nunca saber quem sou

Vivo o momento possuído nesta admirável beleza
Pertenço completamente a esta minha natureza
Pertenço ao verso desta pátria língua portuguesa

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-05-05
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2020-05-02

0163. Celebração (25 Abril)



O Presidente da República esteve ao lado do Presidente da Assembleia da República na que foi, eventualmente, a mais polémica celebração da Liberdade…

A maior parte do seu discurso foi dedicado a justificar a celebração em detrimento da dramatização da pandemia Covid-19…

-   “Não comemorar o 25 de Abril no tempo, provavelmente, em que mais precisamos dele seria um absurdo cívico”;
-   “Seria um péssimo sinal de falta de unidade nacional”;
-   “Seria verdadeiramente incompreensível e vergonhoso a Assembleia da República demitir-se de exercer todos os seus poderes”;
-   “É precisamente em situações excecionais que se impõe costumes e rituais”;
-   “Não se trata de uma festa de políticos alheia ao clima e de privação vivido na sociedade portuguesa”;
-   “Evocar 25 de Abril é falar deste tempo, não é ignorá-lo”;
-   “Os políticos nesta sala não vieram de outra galáxia, foram uma livre escolha dos portugueses”;
-   “O Parlamento nunca deixou de funcionar, seguindo as indicações sanitárias”;
-   “Quanto maiores os poderes do Governo, maiores os poderes da Assembleia da República para o controlar”;
-   “Esta sessão é um bom e não um mau exemplo”;

Será que é mesmo um bom exemplo, Sr. Presidente?!

O exemplo que o Sr. Presidente me está a dizer é:

“Faz o que eu digo… não faças o que eu faço!”

Estou certo que inúmeros portugueses como eu fizeram esta questão…
Esta, Sr. Presidente, é que é realmente a questão principal:

É correto (não direi “legítimo” pois estou certo que será) os deputados e os convidados estarem ali a comemorar o dia da Liberdade?! Mesmo em número reduzido… mesmo respeitado a distância de segurança e as medidas da Direção Geral de Saúde…

Era realmente imprescindível celebrar o 25 de Abril?
Era realmente imprescindível como imprescindível foi o funcionamento da AR para fazer aprovar medidas que permitiram fazer face ao estado de calamidade pública?

Perderíamos… ou desrespeitávamos a nossa liberdade se nesta situação gravíssima de pandemia não a tivéssemos evocado?

Atendendo à presente situação de risco de agravamento da pandemia em que ainda vivemos… 
Permita-me Sr. Presidente…
Na minha humilde opinião de cidadão português, penso que…  talvez não!

Quando a maioria dos portugueses têm que estar confinados às suas casas…

Quando naquele momento, outros tantos portugueses, noutros campos de batalha estão a lutar por nos salvar… por salvar a vida de tantos outros portugueses… que realmente estão a lutar pela vida?

Quando centenas de portugueses já morreram (sem poderem celebrar!) às mãos deste terrível inimigo… e outros tantos, estão desesperadamente a lutar pela vida…

Estar ali a comemorar… a liberdade… será o mais correto?

Sr. Presidente…
Por mais convincente que tenha sido toda a sua extensa argumentação…
Por muito boas que tenham sido as suas…
Por muito bonito que tenha sido, no final do discurso ter incitado o Sr. Presidente da AR e os deputados…
“Vamos ao essencial, vamos vencer as crises que temos de vencer"…

Sem menosprezo pelos militares de abril…
Sem menosprezo pela liberdade, sem a qual decerto não estaria aqui a escrever estas palavras…
Na minha opinião de mero cidadão…
Creio que…
Foi sobretudo uma grande falta de responsabilidade!
Foi sobretudo uma falta de respeito pelos que agora estão na frente de batalha (médicos, enfermeiros, auxiliares…) a lutar precisamente pela nossa liberdade… pela nossa vida!
Foi sobretudo uma falta de respeito pelos que já morreram!

Telmo Monteiro disse que “discordava desta cerimónia…”
André Ventura afirmou que “não devíamos estar aqui” …

Devíamos estar TODOS em casa nesse dia a comemorar o 25 de Abril e a Liberdade!

Foi afinal isso que pediu aos TODOS os portugueses:

“FIQUEM EM CASA!”



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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-04-25
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