0412. Fado

Ainda que Património Cultural da Humanidade, o destino do fado nunca pode ser comercial, porque deixaria de ser fado…

 

O fado

Tem que ser entendido

Tem que ser vivido

Tem que ser sentido

Tem que ser amado

Tem que ser cantado

Tem que ser vadio e bem acompanhado

 

O fado

Tem que ter grandeza

Tem que ter tristeza

Tem que ter guitarra clássica e portuguesa

Tem que ter um solista

Tem que ter um artista

Tem que ter sobretudo um grande fadista

 

O fado

Precisa de silêncio para ser ouvido

Precisa de boémia para ser consumido

Precisa duma vénia para ser enaltecido

Precisa da inspiração da grande musa

Precisa da voz e culto de quem o usa

Precisa sobretudo desta nobre alma lusa

 

O fado

Precisa sobretudo do seu fado

Precisa sobretudo de ser fado

Porque só existe fado

Se deixarem “correr o fado”

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2019-10-22
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0411. Crenças idiotas

 

Todas as “Crenças ” são idiotas!

 

Obviamente que cada idiota acredita e segue a crença idiota que entende!

Toda a gente tem o direito de acreditar, ou não, no que entender… inclusivamente em crenças idiotas! Tal como pode optar por ser, ou não, idiota!

Obviamente que respeito o direito de quem acredita, ou não, em crenças idiotas, tal com respeito a opção de ser, ou não, idiota!

Obviamente que, por mais torto que seja, respeito esse direito… e a opção, por mais idiota que seja!

Respeito e defendo o livre-arbítrio… a liberdade de acreditar!

Cada idiota acredita na crença idiota que entende. O problema é que esta geração de idiotas, tal como as anteriores, ainda é demasiado idiota para perceber que está a ser usada e explorada sem o mínimo de piedade por uma espécie de espertalhões - a maioria fazendo-se passar por idiotas!

 

“Toda a gente tolera os idiotas úteis – que são, aliás, o melhor tipo de idiota. Os idiotas inúteis, pelo contrário, geram muito menos simpatia, uma vez que juntam a inutilidade à idiotice.”[1]

 

Não me “crucifiquem” por criticar ou não respeitar “crenças idiotas”!

Criticar “crenças idiotas” é um direito fundamental da nossa sociedade!

Não me obriguem a respeitar crenças idiotas e muito menos os idiotas que nelas acreditam!

Não sou obrigado a acreditar e muito menos respeitar seres mágicos, fictícios ou invisíveis!

Não sou obrigado a acreditar no “amigo imaginário” de quem quer que seja!

 

Não tenho nada contra quem se identifica com “crenças idiotas”… -trata-se apenas de um simples exercício de racionalidade inerente a uma mente sã no seu pleno direito de expressão num estado livre e democrático.

 

Não tenho que provar ou negar a existência de seres supranaturais, vulgo “deuses” de nenhuma crença idiota, porque a questão fundamental não é provar ou negar a sua existência, mas sim comprovar que a fé de um ou mil idiotas, não os faz existir, uma vez que só o que existe pode ser realmente provado.

 

Questionar “crenças idiotas” é o primeiro passo para a liberdade mental.

 

A Liberdade não começa quando saímos da prisão, mas sim quando descobrimos a prisão.

Já chegam dois milénios de doutrinas dogmáticas e crenças idiotas a tentar provar o improvável!

---

[1] Ricardo Araújo Pereira

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-05-28
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0410. Recordações

 

Não sei que ascendente meu esteve por aqui

Não sei que pretérito perfeito pois jamais o vi

Apenas sei que os restos jazem algures por aí

Apenas sei que não sei porque jamais conheci

 

Não sei quem por aqui residirá ou estará um dia

Não sei quem por aqui passará ou será um dia

Não sei sequer se apenas estará de passagem

Não sei sequer se apenas observará esta imagem

 

Apenas sei que tal dia poderá ser qualquer dia

Apenas sei que não saberá quem sou nesse dia

Apenas sei que recordará ou imaginará este dia

 

Serei então apenas retrato que idealizará um dia

Serei então apenas retrato na indiferença do dia

Serei retrato e depois nada do que sou neste dia

 

 

*

 

 

Serei apenas retrato

Depois nem retrato serei

Depois nada serei

Quando cair no esquecimento de todos os que me recordam

Nada serei

 

Agora que ainda sou imagem de viva

Agora que ainda dou vida a alguém

Observo e recordo o retrato de quem antes esteve por aqui

Observo e ressuscito o seu retrato

Observo e ressuscito a sua vida

Para um dia alguém recordar

Que alguém esteve por aqui

 

Para quê ter mais e mais

Para quê conquistar mais e mais

Para quê subjugar e conquistar o mundo

Para quê desperdiçar este precioso tempo

Quando tenho este tempo á minha frente

Quando tenho esta vida á minha face

 

É tão fácil sentir o mundo que me rodeia

É tão fácil gostar do que gosto

É tão fácil amar quem me ama

Ah quanto amores e desamores

Quantas amizades abraços e afagos

Quantos prantos e sorrisos

 

Quão pleno e cheio é este Agora

Quão perfeito é este Agora

 

Não sei o que alguém dele dirá um dia

Não sei seque se alguém estará onde agora estou

Apenas sei e desejo que seja feliz como sou… Agora

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-05-24
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0409. Perspetiva

 

Quando um predador captura e mata a sua presa, para o primeiro trata-se de um ato perfeitamente natural; uma questão de sobrevivência.

Para o segundo significa o fim da vida!

Eis a lei da natureza!

 

Quando um ser humano[1] invade o território e mata o semelhante[2] simplesmente para se apoderar dos seus bens…

Para a primeiro trata-se de um ato perfeitamente normal; uma simples “operação especial de desnazificação” para restabelecer a soberania…

Para o segundo, trata-se de uma invasão terrorista, de uma guerra; uma autêntica tragédia que pode significar não só a perda do território… mas também o fim da vida.

Uma tragédia que na realidade configura um crime horrível contra a humanidade!

 

É assim a natureza… indiferente a presa e predador!

É assim a natureza humana, observando comodamente o semelhante… indiferente a “operações especiais” ou a “guerras”!

 

Tudo depende da perspetiva de quem tenta exterminar… ou de quem luta pela sobrevivência…

Tudo depende de quem luta por território, por poder, por viver… ou por sobreviver!

 

Ambos animais…

Uns irracionais… outros, ditos racionais!

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[1] Rússia

[2] Ucrânia

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-02-20
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0408. Clareza III

 

Não existe nenhum santo nem santíssima trindade

Não existe nada para além desta simples realidade

Apenas existe a realidade do Princípio Meio e Fim

Apenas existe a realidade e o desassossego do Fim

 

Apenas existe este perfeito presente de presente

Apenas existe este ímpar e irrepetível instante

Apenas existe este assombroso e átimo alento

Apenas existe este mágico e magistral momento

 

Apenas existe este Agora e a certeza de findar

Apenas existe este Agora e o primor de pensar

Claramente o único Agora que posso significar

 

Apenas existe este Agora e a certeza de findar

Apenas existe este Agora e a natureza de amar

Claramente o único Agora que posso desfrutar

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-02-01
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0407. Analfabetismo católico

 

Para justificar algumas passagens mais violentas ou completamente absurdas da Bíblia, dizem alguns “teólogos” que “não a devemos interpretar linearmente”.

Ora, se “deus é amor”, é óbvio que teremos que a interpretar linearmente, ou pelo menos, de forma completamente literal.

No entanto, se “deus caminha sobre as águas”, já não a poderemos interpretar linearmente pois correríamos o risco de algum fiel imaginar que o dito se teria afogado. Teríamos de o fazer “de acordo com o contexto da época”, ainda que violando regras da física e neurónios de qualquer mente minimamente racional.

O mais difícil será se “deus mata”, ou se ordena que alguém “mate o seu filho”. Neste caso torna-se linearmente difícil explicar pois o ato/ordem implica uma justificação muito mais complexa e metafórica; daquelas completamente absurdas que deixam qualquer fiel de boca aberta e olhar enigmático… e qualquer pai imbuído pelo dilema de Abraão: “Que diabo de deus é este que proclama “não matarás” e simultaneamente ordena o sacrifício do meu filho?”

O principal problema destes fiéis leitores da Bíblia, no entanto, não é o facto de a fé eventualmente suprimir ou afetar o seu raciocínio ao ponto de desvalorizar a vida do próprio filho e aceitar o sacrifício como um ato legítimo de obediência à vontade de uma suposta entidade divina…

O principal problema é a forma como interpretam o que leem… -de acordo com a sua fé, ou da forma como foram doutrinados. Revelam graves carência de análise textual, sobretudo a nível semântico e sintático. Trata-se de analfabetismo funcional, de iletrismo; ou por outras palavras, não sabem escrever e revelam uma confrangedora incapacidade de perceber e interpretar o que leem.

Se a esta iliteracia juntarmos alguma incapacidade racional, podemos perfeitamente depreender porque acreditam cegamente no que lá está escrito; e, porque não, também concluir: a justificação da sua crença.

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-05-22
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