Muita gente
terá questionado o que realmente pretendia Nietzsche dizer com a célebre
frase do seu Livro III da Gaia Ciência…
“Deus está
Morto”
“Deus não
morre porque é eterno e todo-poderoso…” -comentam
alguns crentes.
“Se Deus não
existe, logo não pode morrer!...” -comentam alguns descrentes.
Pensando no
que eventualmente Nietzsche teria pensado…
Penso que
simplesmente previa o princípio da morte abstrata de “deus”.
Penso que
simplesmente previa o princípio do fim da religião, em particular o
cristianismo, pelo facto de analisar, raciocinar e percecionar que a religião está a perder o lugar de destaque na cultura ocidental e a entrar num irreversível
espiral de declínio.
No passado
“Deus” era praticamente o “centro do mundo”!
No presente,
a cada dia que passa, cada vez mais, deixa de ser o centro cultural do mundo e sobretudo
o centro do ser humano.
No futuro
apenas uma recordação de alguém… depois, não será absolutamente nada!
Cada vez mais precocemente o homem se liberta da sua prisão mental…
Cada vez mais
“a ciência, a filosofia, a literatura, a arte, a música, a educação… e a vida
social quotidiana…” se libertam da religião…
Cada vez mais
o poder estatal, seu milenar aliado, se separa da religião…
Cada vez mais
o cidadão comum rejeita ou simplesmente ignora a “religião” para evitar cair no
ridículo de justificar o injustificável, observar e invisível, ou concluir o inconclusivo.
Ainda existem
milhões de pessoas em todo o mundo que são profundamente religiosas fruto da
constante doutrinação… -é um facto!
Muitas delas
acreditam piamente que o seu Deus está realmente vivo.
Grande parte
não sabe, não lê, não percebe… e nem sequer pensa ou questiona se o seu “deus”
estará realmente morto!... apenas acredita que existe porque tem fé… como se a
sua fé o fizesse existir.
A tradicional
imagem que cada ser em particular tem de “deus”, e o Cristianismo em geral
(movido pelo ideal de poder, de domínio e sobretudo ganância económica), sempre
fez parte do quotidiano e do pensamento filosófico humano; praticamente todos
os sistemas educacionais e sociais eram geridos pela religião ao ponto de ainda
hoje quase toda a gente ser “batizada, casada ou sepultada pela igreja,
frequentando-a com alguma regularidade durante toda a vida”.
O que tem
realmente causado a “morte de deus” é o pensamento racional!…
O que tem
realmente causado a “morte de deus” é a explosão do conhecimento… a liberdade
da literatura e de tantos génios como Nietzsche…
A
globalização e a revolução científica têm vindo a permitir a explicação
objetiva de inúmeros fenómenos naturais que acabam por deitar por terra as
escrituras e dogmas religiosos que, em alguns casos, serviam de lei ou de
inquestionáveis mandamentos.
O iluminismo
do séc. XVIII, com a ideia de “razão” em detrimento de “tradição”, a Revolução
Industrial do séc. XIX, com o crescente poder tecnológico e económico
desencadeado pela ciência, a evolução da medicina, a melhoraria significativa
das condições de vida da maioria da população mundial, também foram fatores
determinantes para o declínio da ideia de “deus”.
Durante
milhares de anos, reinou a “suprema ideia de Deus”.
O omnipotente, o omnisciente, omnipresente era o criador da terra e do céu... o pai; o fiel amigo; a moral; a lei fundamental... a base de todo o pensamento humano; o determinante do obediente dos fiéis, a eternidade… o limiar do paraíso... ou inferno, a punição de todos o que ousassem não seguir o seu caminho.
“Deus está
morto!” -afirmou Nietzsche…
Talvez se
trate mesmo de um processo de extinção simples e natural… afinal, todos os
conceitos acabam por expirar na consciência de todas as civilizações porque na
realidade apenas existem na mente de quem neles crê.
Simples
espectadores como eu…
Pensadores,
escritores, artistas…
Apenas voam
em liberdade…
Apenas
observam e descrevem a realidade!
Deus está
morto! -subscrevo-o obviamente.
Podem até
pensar que esteja louco por também o afirmar ainda no presente!
Talvez também
tenha estado por aqui cedo demais e não seja este ainda o meu tempo.
Talvez a
maior parte só o entenda um pouco mais à frente…
Talvez até
nunca o entenda…
Afinal, tudo
precisa de tempo para ser observado… provado e comprovado!
Nota:
A propósito
da “morte de deus” e da sua milenar encenação, já o Papa Leão X referia que “a
fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que seria uma loucura advertir os
ignorantes do seu erro”.
Curiosamente,
em países como Portugal ainda hoje se realizam Jornadas Mundiais de Juventude
católicas, cujo maior “embaixador” é um presidente católico duma República
laica!
Ah… e todos acreditam que “deus está vivo”!
Autor: Carlos Silva
Data: 2023-11-14
Imagem: Internet
Obs.:
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