2020-02-06

0124. "Justiça divina"




O presidente da República encerrou hoje a cerimónia de abertura do ano judicial apelando a uma maior celeridade na resolução dos casos e lançando o desafio para um novo pacto de combate à corrupção…
Diz este que “a lentidão de alguns processos poderá mesmo significar concluir que a justiça humana poderá ser tão lenta, tão lenta, nos casos de especial complexidade, que para os crentes mais radicais passará a ombrear com a justiça divina, por definição intemporal”.

Não sei se o presidente crê radicalmente em algo, apenas sei, pelas suas palavras e atitudes que é realmente “crente”.

Concordo plenamente quando diz que a justiça é muito lenta sobretudo nos casos de “especial complexidade”, mas quanto à “justiça divina”, e esta é apenas uma opinião pessoal, que vale o que vale… fico, mais uma vez, verdadeiramente dececionado.
Enquanto tivermos um presidente que constantemente se ajoelha perante supostas divindades, no beija-mão ao papa, ou constantemente apregoa “justiça divina”, teremos consequentemente também um povo eternamente condenado à ignorância.

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-05
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2020-02-04

0123. Ataque





A inteligência dos homens revela-se nos seus atos…
Só mesmo um idiota[1] ataca ou mata fisicamente o seu semelhante!
Um verdadeiro homem ataca ideais e não pessoas!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-05
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[1] Assassino

2020-02-03

0122. Não sou





Não sou poeta ou poema, prosa ou poesia,
Não sou sequer esta leve e breve alegria,
Não sou sequer esta intensa e imensa dor,
Não sou sequer este quente e ardente amor.

Finjo tão completamente tão completamente,
Sonho tão absolutamente tão absolutamente,
Que chego a fingir e sonhar outro Tempo,
Como sinto e penso este breve Momento.

Sou simplesmente Realidade e Racionalidade,
Sou simplesmente Sensação e Reflexão,
Sou simplesmente Desassossego e Agitação.

Sou simplesmente Verdade e Liberdade,
Vivo, sendo o que sou e fui outrora,
Vivendo apenas (“Carpe Die”) este Agora!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-05
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2020-02-02

0121. Guerra





Surpreende-me que neste tempo presente parte da humanidade ainda viva em guerra e em barbárie não tendo consciência e sensibilidade para desfrutar plenamente desta preciosidade única que é a vida.
Não me surpreende que a maior parte dessas guerras sejam por motivos ditos religiosos que prematuramente amputam e cegam a mente humana.


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-02
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2020-01-31

0120. Papa bate na mão de fiel



O Papa bateu na mão de fiel depois desta o ter agarrado e puxado com alguma veemência.
Posteriormente viria a público pedir desculpa pelo ato.

A maior parte das pessoas dirá obviamente que o papa é humano e que toda a gente perde a paciência em algum momento da vida…
Mas a verdadeira questão não é esta.
A verdadeira questão é o gesto e a sua simbologia.

O gesto teve repercussão a nível global… praticamente em toda a comunicação social… e compreende-se porquê. O papa é o representante máximo de uma das maiores crenças religiosas, o que, decerto, terá deixado muita gente a pensar… religiosos e não religiosos.

Eu próprio pensei um pouco e escrevi estas palavras depois de ver as imagens num noticiário.

O papa como máximo representante de “Deus”, deveria estar num grau de paciência exemplar, acima de qualquer comum mortal, uma vez que é ele que aconselha a não agir de tal forma.

Mas, na realidade, o papa é apenas um ser humano, como qualquer outro ser humano.
O papa também perde a paciência e também erra, como qualquer outro ser humano.
O papa também morre como qualquer outro ser humano.

Se observarmos mais atentamente o gesto, talvez consigamos perceber que não será mais do que uma reação espontânea e natural, típica de qualquer ser vivo ao sentir-se acossado…
Todo os seres o fazem para se proteger.

Quem nunca fará ou reagirá a tal gesto será, obviamente, uma suposta divindade!


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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-01
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0119. Auschwitz




Ouvi[1], a propósito dos 75 anos da libertação de Auschwitz, que…

“Um homem não é homem sem visitar Auschwitz…” que “não se compreende o Holocausto sem visitar Auschwitz…”  e que “só assim se pode compreender a Natureza humana e os seus lados mais sombrios…”[2]

Auschwitz não se compreende.
Auschwitz nunca se compreenderá.
Compreende-se o que cada um compreende sobre Auschwitz.

Só quem, nessa altura, lá esteve,
Terá verdadeiramente compreendido,
Tendo ou não sobrevivido.

Ir lá,
Ver com os próprios olhos,
Ver aquele arrepiante local de morte e extermínio…
Ver aquela “máquina de triturar ser humanos…”[3]
Ajudará certamente a imaginar.

Ir lá,
Presenciar e pisar com os próprios pés,
Presenciar e sentir os destroços daquele passado,
Presenciar e pensar os monstros daquele pesadelo,
Ajudará certamente a imaginar.

Ir lá,
É precisamente, por enquanto, a minha intenção.

Quero sentir toda aquela dimensão,
Quero imaginar aquele horrível massacre,
Quero pensar aquele ignóbil genocídio,
Quero confirmar toda esta medonha história da humanidade.

Preciso realmente compreender melhor a natureza humana.
Preciso realmente compreender a mente de alguns humanos.
Preciso realmente compreender como e porquê, ali, naquele local,
Seres humanos,
Matavam vinte mil seres humanos por dia?
Matavam vinte mil semelhantes por dia?
Sem que sequer um alarme
Surgisse na sua mente, demente...

Auschwitz foi “levado a cabo por homens absolutamente comuns…”[4]
Auschwitz foi executado por “pessoa educadas… bons pais de família”[5]

É verdade!
Mas “cegaram”.
Cegaram absolutamente.

Cegaram pelo racismo entranhado…
Cegaram pela obediência indiscutível…
Cegaram pela disciplina férrea…
Cegaram pela crença inabalável…
Cegaram e transformaram a natureza humana,
Em natureza desumana.

“Não estamos livres que um dia tal se repita…”
É verdade!

Não estamos livres que um dia tal se repita!

Agora mesmo,
Neste momento presente,
Vemos seres humanos matar os seus semelhantes.

Por isso é preciso contar a toda a gente o que ali aconteceu.
Por isso é preciso que toda a gente saiba o que ali aconteceu,

Citando Saramago:
Auschwitz não está fechado, continua aberto e as suas chaminés continuam a soltar o fumo do crime que todos os dias se perpetra contra a humanidade mais débil. E posso assegurar-te que não quero ser cúmplice, com o meu cómodo silêncio, de nenhuma fogueira."[6]

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-27
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[1] Observador
[2] Observador
[3] Observador
[4] Observador
[5] Observador
[6] José Saramago, in "Conversaciones con Saramago", de Jorge Halperín