2024-04-30

0403. Livro (Amo-te)

 







 

Sobre “Amo-te”

Disse a editora

Que fora o primeiro autor

Que sem o menor pudor

Revelara que o comércio não importava

Tão-somente o que sentira

Tão-somente o que amara

 

Onde está o espanto

 

Se “Amo-te”

Se esse primeiro suspiro

Não é literalmente um livro

Não é realmente um produto comercial

 

“Amo-te”

São apenas lágrimas e sorrisos do primeiro amor

São apenas sentimentos puros e genuínos

Que estavam guardados numa gaveta

Que pediam para ser revelados

Que pediam para ser libertados

 

 

“Amo-te”

São apenas pedaços dum amor impossível

Recordações de tudo e quase nada

Recordações da sua principal culpada

 

“Amo-te”

Não foi escrito para ser melhor nem pior

Apenas para ser o que é

Apenas para ser o momento que foi escrito

Sem procurar qualquer meta

Sem aspirar a qualquer louro

 

“Amo-te”

Já alcançou tudo o que tinha para alcançar

Alcançou a felicidade de sentir

Alcançou a felicidade de redigir

Sem qualquer primor literal

Com todo o sentimento do mundo

Com todo o prazer do mundo

Com todo o desejo do mundo

Com todo o amor do mundo

 

Onde está o encanto

 

Enfim

Já foi um êxito em mim

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2021-09-13
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2024-04-01

0402. Instantes

 


Somos seres absolutamente deslumbrantes

Ainda que simplesmente sejamos insignificantes

Ao descobrimos que somos apenas instantes

Ao descobrimos que somos apenas amantes

 

Amamos simplesmente esse sublime instante

Quando amamos loucamente o nosso semelhante

Descobrimos a simplicidade desta efémera realidade

E partilhamo-la com a humanidade para a eternidade

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2021-09-10
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2024-03-31

0401. Apostasia

 






Batizaram-me quando apenas tinha três meses de vida!

Mergulharam-me em água benta com a promessa que tal me purificaria e abriria o caminho para a eternidade.

Mergulharam-me em água benta com a convicção que tal me uniria eternamente ao seu deus (“Pai, Filho e Espírito Santo”) que por mim morrera e ressuscitara -tornando-me, assim, para sempre, seu filho e fiel servidor.

Marcaram-me como “cristão” quando ainda nem sequer sabia o que era ilusão, como quem marca um cordeiro recém-nascido do seu rebanho.

Marcaram-me num ritual eclesial mascarado de festa de família e amigos, onde selaram uma espécie de contrato que, supostamente, manifestaria a vontade dos meus pais em me doutrinar de acordo com os valores e princípios morais da religião católica.

Assinaram uma espécie de contrato que definia o presente e decidia o meu futuro… que impunha não pensar, não sentir… e sobretudo não questionar ou renegar.

Como é que uma mente minimamente decente pode celebrar ou validar um contrato entre uma suposta divindade e uma inocente criança?

Não pode!

Ninguém pode decidir o futuro de uma inocente criança sem conhecimento de causa… e muito menos com um outorgante fictício!

 

Diz a Igreja Católica que “Deus dá-nos o Seu Espírito e adota-nos como seus filhos, antes mesmo de O conhecermos” … “Deus ama as crianças ainda antes de estas O conhecerem” … e não é por acaso que o manifesta em Mt19, 14: “deixai vir a Mim as criancinhas e não as impeçam…”

 

Como é que um ser fictício, fruto da imaginação humana, pode adotar uma criança, ainda antes desta ter consciência da sua… inexistência?

Não pode!

Mais do que um abuso de confiança, este “contrato divino” a que chamam “Batismo”, é uma ofensa à inteligência de qualquer mente minimamente racional.

Mais um dos muitos dogmas absurdos da Igreja Católica que importa desmistificar… e anular.

Assim, existindo tal contrato que me define como “cristão”, que para efeitos estatísticos do meu país me coloca como membro da Igreja Católica Apostólica Romana…

É de forma consciente e de livre vontade que o venho anular através do ato de Apostasia.





Nota:

Independentemente da resposta que me vier a ser dada… (até ao momento, apesar de reiterado, o pedido foi ignorado), aqui fica publicamente expressa a nulidade deste vínculo absurdo a que me submeteram quando ainda nem sequer tinha atingido a idade dos porquês.

 

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2024-02-10
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Obs.:
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2024-02-07

0400. Prenda de Natal


 

Depois do acidente…

Depois de acordar do coma…

Depois de uma longa recuperação…

O meu pai já não é a mesma pessoa!

No entanto,

O meu pai,

É e será sempre o meu pai!

E hoje, esta pessoa, o meu pai,

Surpreendeu-me de tal forma,

Que a surpresa aqui tive que deixar:

A prenda de Natal que ele me deu…

E a prenda de Natal que eu lhe dei.

Ao perguntar que prenda queria,

De imediato respondeu:

“Um beijo!”

E foi precisamente o que fiz.

Dei-lhe, não um, mas dois beijos…

Dei-lhe duas Prendas de Natal!

E também lhe irei dar uma prenda…

Uma Prenda de Natal…

Daquelas que toda a gente dá.

O quê?!

Ainda não sei…

Mas também pouco importa!

Cada vez que estou com ele,

Mesmo não sendo Natal,

Ao vê-lo… e ao despedir-me…

Dou-lhe sempre duas Prendas de Natal!...

Daquelas que só um filho dá a um pai!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2017-12-24
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2024-01-31

0399. A noção de correto


 

“Uma gramática que pretenda registar e analisar os factos da língua culta deve fundar-se num claro conceito de norma e de correção idiomática”.

Para Norren há três critérios principais de correção, por ele denominados “histórico-literário, histórico-natural e racional”, o último, obviamente, o seu preferido.

De acordo com o critério “histórico-literário”, a correção assenta essencialmente em conformar-se com o uso encontrado nos escritores de uma época pretérita. É o critério tradicional de correção, fundado em exemplos clássicos.

O segundo critério, o “histórico-cultural”, baseia-se na doutrina de que a linguagem é um organismo que se desenvolve muito melhor em estado de completa liberdade, sem entraves.

O terceiro critério, o “racional”, é o que pode ser apreendido mais exata e rapidamente pela audiência presente e pode ser produzido mais facilmente por aquele que fala”;

“Na linguagem é importante o polo da variedade, que corresponde à expressão individual, mas também o é da unidade, que corresponde à comunicação interindividual e é garantia de intercompreensão”.

A norma não corresponde ao que se pode ou deve dizer, mas “ao que já se disse e tradicionalmente se diz na comunidade considerada”.

“Não se repreende de leve num povo o que geralmente agrada a todos” disse com singeleza o poeta Gonçalves Dias.

Com efeito, por cima de qualquer critério de correção, está a aceitabilidade social.

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2019-11-18
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2024-01-29

0398. Linguagem, Língua e Discurso

 


Linguagem é “um conjunto complexo de processos -resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social -que torna possível a aquisição e o emprego concreto de uma Língua qualquer”[1]. Usa-se também o termo para designar todo o sistema de sinais que serve de meio de comunicação entre os indivíduos. Desde que se atribua valor convencional a determinado sinal, existe uma Linguagem. À linguística interessa particularmente uma espécie de Linguagem, ou seja, a Linguagem Falada ou Articulada[2].

 

Língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão da consciência de uma coletividade, a Língua é o meio por que ela concebe o mundo que o cerca e sobre ele age. Utilização social da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem que viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que criou[3].

 

Discurso (fala) é a língua no ato, na execução individual. E, como cada indivíduo tem em si um ideal linguístico, procura ele extrair do sistema idiomático de que se serve as foram de enunciado que melhor lhe exprima o gosto e o pensamento. Essa escolha entre os diversos meios de expressão que lhe oferece o rico repertório de possibilidades, que é a língua, denomina-se Estilo[4].

 

Relação entre os três aspetos:

“A Língua é a criação, mas também o fundamento da Linguagem; é, simultaneamente o instrumento e o resultado da atividade de comunicação.

Por outro lado, a Linguagem, não pode existir, manifestar-se e de desenvolver-se a não ser pelo aprendizado e pela utilização de uma Língua qualquer.

A mais frequente forma de manifestação da Linguagem -constituída de uma complexidade de processos, de mecanismos, de meios expressivos -é a Linguagem Falada, concretizada no Discurso, ou seja, a realização verbal do processo de comunicação.

O Discurso, é um dos aspetos da Linguagem -o mais importante, e, ao mesmo tempo, a forma concreta sob a qual se manifesta a Língua. O Discurso define-se, pois, como o ato de utilização individual e concreto da Língua no quadro do processo complexo da Linguagem[5].

 

--- / ---

 

Qual a diferença entre fala, língua e linguagem?[6]

 

A fala se refere a forma como as pessoas se comunicam oralmente. Para que a fala seja compreendida, é necessário que o recetor (a pessoa que escuta) compreenda a língua em que a mensagem foi transmitida.

Por sua vez, a linguagem refere-se a toda a forma de comunicação, seja através da fala (verbal) ou mesmo gestos, sons, imagens, etc. (não-verbal).

 

 

O que é linguagem?

O conceito de linguagem refere-se ao processo de interação entre as pessoas, onde usamos mecanismos para transmitir nossas ideias, sentimentos e informações.

Qualquer conjunto de sinais ou signos é considerado linguagem, sejam códigos linguísticos, placas de rua, gestos corporais, entre outros. Através dela, é possível que pessoas de diferentes regiões ou culturas se comuniquem.

 

O que é língua?

O conceito de língua, por outro lado, se trata especificamente de um código verbal - um conjunto de palavras que detém significado para determinado grupo. Podemos dizer que a língua é um tipo de linguagem.

São exemplos a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa e a Língua Brasileira de Sinais, utilizada pelas comunidades surdas, dentre outras.

 

O que é a fala?

Já a fala é a forma como o indivíduo se comunica oralmente. Ela está diretamente relacionada com a língua. Entretanto, ela é considerada individual e comumente é afetada por vícios de linguagem, costumes locais e sotaques.

 

Gramática e Linguística

Para que ocorra uma melhor comunicação, é necessária uma estruturação da Língua. Por isso, cada língua possui um conjunto de regras e normas de combinação específicas, conhecida como Gramática.

 

Já a ciência que estuda a linguagem e suas características é conhecida como Linguística.

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2019-11-18
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[1] Tatiana Slama-Casacu. Language et contexte. Haia, Mouton, 1961, p. 20.

[2] CUNHA, C. & L. CINTRA 1996. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa. 12ª Edição. p. 1.

[3] CUNHA, C. & L. CINTRA 1996. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Lisboa: Sá da Costa. 12ª Edição. p. 1.

 [4] Aceitando a distinção de Jules Marouzeau, podemos dizer que a LÍNGUA é a “soma dos meios de expressão de que dispomos para formar o enunciado” e o ESTILO “o aspeto e a qualidade que resultam da escolha entre esses meios de expressão”.