2020-02-14

0129. Eutanásia



Não havendo qualquer conflito de interesses…
Estando eu, eventualmente um dia, numa situação de doença prolongada ou incurável que me infira um sofrimento atroz ou dor insuportável…
Estando eu num estado de plena lucidez, com plena capacidade de decisão sobre a minha vida, ou sobre a minha morte…
A minha vontade, a minha liberdade, sobrepõe-se inquestionavelmente a qualquer moral comum, referendo ou entidade, ordem ou conferência episcopal, crença ou suposta entidade divina!
Nenhum estado ou lei, crença ou ordem, se pode sobrepor e muito menos impor ao meu livre arbítrio, ao meu direito fundamental de optar e decidir morrer de forma assistida ou da forma que entender.
Eu sou o único dono da minha vida… e da minha morte!

*

Sobre a atualidade…

A Ordem dos Médicos é contra a legalização da morte assistida, ou “Eutanásia”.
O seu código, no artigo 65º, nº 2, refere que “ao médico é vedada a ajuda ao suicídio, à eutanásia e a distanásia.”
Seria uma “mudança radical da sociedade em que vivemos… passaria a ser legal matar e a partir daí nunca mais seria possível definir uma fronteira” -refere o bastonário.

Mas também há quem esteja contra esta posição da Ordem dos Médicos. Júlio Machado Vaz (psiquiatra) integra um movimento a favor da morte assistida e refere que “no limite é aceitável um referendo”. “Estamos a falar da vida de uma pessoa, que lucidamente decide, por uma questão de dignidade, terminar a vida.”

Para Alexandre Quintanilha (cientista), “trata-se de uma questão de direito e liberdade individual… é errado utilizar os cuidados paliativos como argumento contra a eutanásia. É um direito de cada um de nós… se estiver consciente e tiver uma doença incurável… num sofrimento duradouro e insuportável…”

Igreja é como sempre foi contra a eutanásia e curiosamente apoia referendo… o que implicará obviamente, o adiamento da decisão da Assembleia da República…

D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, é contra a eutanásia:
"A opção mais digna contra a eutanásia está nos cuidados paliativos, como compromisso de proximidade, respeito e cuidado da vida humana até ao seu fim natural"…

O PCP vai votar contra a eutanásia, como tem votando sempre…
Jerónimo de Sousa pede “mais investimento nos cuidados paliativos” … “a vida e a morte não são referendáveis. A vida (e a morte) é um assunto muito sensível… não matem, procurem que o prolongamento da vida se concretize”

PS e PSD são a favor da despenalização da eutanásia, dando liberdade de voto aos seus deputados…
O CDS refere que a eutanásia é um retrocesso social e apoia o referendo…

Oito “religiões” tomaram uma posição conjunta contra a eutanásia: consideram ilegítima a morte assistida!

Tendo em conta a nota da Presidência da República e a acentuada “religiosidade” do Presidente da Républica (que se encontra de visita à Índia), não será muito difícil adivinhar qual a sua posição nesta matéria!

A opinião da deputada Isabel Moreira do PS, chamou-me a atenção. Creio que vale a pena ouvir, para poder formular também uma opinião pessoal de forma mais consistente.


Nota: Não tomo partido de qualquer partido. Tomo partido da opinião de pessoas e normalmente voto nas pessoas e não em partidos.

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-14
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2020-02-13

0128. "Livrai-nos da guerra"



“Livrai-nos da Guerra” é o título de uma “grande reportagem” cuja primeira parte (de duas) foi hoje emitida pela SIC em horário nobre, a seguir ao Jornal da Noite.

Segundo esta estação trata-se de um “exaustivo trabalho de investigação” jornalístico sobre o arquivo de Fátima que contém mais de oito milhões de mensagens escritas pelos seus devotos… e os autores, leram, pelo menos “cerca de 50 mil cartas com… desejos dos fiéis”.
Ler 50 mil cartas, nem que seja superficialmente, com “desejos dos fiéis à senhora de Fátima” é realmente obra… e certamente não foi tarefa fácil!

O título “Livrai-nos da Guerra” é apenas um dos muitos pedidos contidos nas cartas devocionais que os “crentes” dirigiram à “Senhora de Fátima”,
A maioria referia-se a Saúde… doença… guerra… violência familiar… angústias pessoais…

“Criticar uma crença ou qualquer ideal, é um direito fundamental do cidadão em qualquer sociedade…”[1] -embora normalmente, quem o faça, acabe crucificado, humilhado ou bombardeado com mensagens ofensivas na praça pública ou nas redes sociais.

Colocar em causa a “crença” da dita “Nossa Senhora de Fátima”, será decerto um sacrilégio, no entanto, esse não é o principal intuito destas palavras.
Na perspetiva de mero espectador, que estava a ver o noticiário com a atualidade do país e do mundo, de um momento para o outro sou surpreendido com uma “Grande Reportagem” que de “grande conteúdo jornalístico” pouco ou nada teve a não ser o trabalho exaustivo que os jornalistas responsáveis pela mesma tiveram a lerem uma pequena parte de todas aquelas cartas.

Como tal, nessa mesma perspetiva, sugiro a realização de uma “terceira parte”.
Porque não uma investigação séria e exaustiva sobre o fenómeno de “Fátima” e tudo o que daria origem ao mesmo, tal como mostra o texto (em baixo) do “Observador”.
Porque não?!

Porque não uma investigação séria e exaustiva sobre os portugueses que não conseguiram “livrar-se da guerra” e perderam em Angola?
Porque não também uma entrevista ao Sr. Carlos Rosa, um português que atualmente trabalha em Angola, que tem passado os últimos seis anos da sua vida empenhado em trazer para Portugal os corpos dos militares que perderam a vida durante a guerra.
Seria realmente interessante e sobretudo importante para as suas famílias, identificar, recuperar e trazer para Portugal os corpos dos seus entes queridos que por lá ainda continuam…

Estou certo que também seria importante para Portugal trazer de volta os portugueses que foram enviados com toda a glória e agora simplesmente esquecidos!


Entrevistas com histórias de vida de pessoas a darem “graças” à dita “Nossa Senhora” por supostamente esta as ter salvado de morrerem numa guerra… é realmente comovente… sobretudo para os crentes…  
É, atrevo-me a dizer, demasiado fácil!

Entrevistas aos que lá morreram e por lá continuam enterrados… é impossível. No entanto, seria muito interessante saber a opinião dos seus familiares (crentes ou descrentes da dita “Nossa Senhora”) ou simplesmente porque esta não terá salvado também os seus entes queridos.
Isso sim, seria uma tarefa difícil!

Eventualmente não teria tanta audiência e sobretudo incomodaria muita gente…
 No entanto, na minha modesta opinião de espectador, creio que esta eventual terceira parte seria muito mais interessante que as duas primeiras.
É apenas a minha opinião, que de jornalismo pouco ou nada sei!

Não é notícia os que foram ignorados pela dita Nossa Senhora!
Não é notícia os que perderam a vida pelo país e agora jazem abandonados pelos nossos políticos!

Já agora, se eventualmente levarem mesmo a sério a minha sugestão de espectador e pensarem concretizar essa “terceira parte”, não se esqueçam também de a emitir em horário nobre, a seguir ao Telejornal!
Assim poderia assistir com toda a família reunida.

“Livrai-nos da Guerra” Parte 1

“Livrai-nos da Guerra” Parte 2

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-09
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[1] Rowan Atkinson




2020-02-10

0127. Deus -sou eu



Deus?!
Sou Eu!
Sim, Eu!...

Num determinado momento da minha vida que já não consigo precisar, o intelecto permitiu-me “reparar”[1] que o ser com quem diariamente falava e a quem chamava deus: era, afinal, eu próprio!

Foi precisamente nessa altura que acabaria por assimilar que a minha consciência de deus é precisamente a mesma que eu, ser humano, tenho de mim próprio!
Tal significa logicamente que o meu-deus, ou o conceito que dele tenho, é precisamente o mesmo que o da imagem abstrata que obviamente morrerá quando eu morrer; tal como morrerão todos os deuses de todos os seres humanos, sejam eles crentes ou não!

“O pior cego é aquele que não quer ver…”

É um facto que a maioria das pessoas não aceita… não quer ver a realidade que vê. Algumas não admitem não ver… e a maioria não consegue realmente ver. São as que “vêm e não reparam” porque cegaram.

O intuito destas duras palavras, que decerto incomodarão algumas mentes mais dormentes, não é desrespeitar; não é ferir nem ridicularizar pessoas ou crenças com as quais se identificam. Muito menos tentar convencer alguém!
O intuito destas palavras é apenas expressar livremente a minha opinião.
O intuito destas palavras é apenas expressar livremente a minha opinião, que vale o que vale; ou seja, o mesmo que as demais; sejam elas convergentes ou divergentes. Todas são suscetíveis de crítica!
É uma mera opinião sobre o que considero completamente despropositado e intolerável na sociedade atual: a Religião -eventualmente a maior mentira da humanidade que, “por mil vezes repetida”, se transformou na maior verdade adquirida.
Tivera eu proferido estas palavras há 500 anos atrás e no dia seguinte decerto estaria atado a um poste para ser queimado vivo em plena praça pública!
Não tenho a menor dúvida!

José Saramago, escritor marcadamente ateísta, foi “crucificado” e “queimado” simplesmente por dizer publicamente que “não acreditava em nenhum deus nem em mundos imaginários, como o céu e o inferno…”.
A forma incisiva como o fez, acabaria por colocar a nu algumas das mais aberrantes barbaridades da religião, nomeadamente nas obras ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’ e ‘Ensaio sobre a Cegueira’, gerando um autêntico mar de críticas, que em abono da verdade, mais pareciam inocentes e incoerentes tempestades de verão lideradas por pastores e virgens ofendidas a caminho do céu.
A sua longa experiência de vida permitiu-lhe prematuramente alcançar que esse “deus não precisa do homem para nada, exceto para ser deus[2]. Mais do que destacar a frase, importa salientar a sua extraordinária genialidade e lucidez de raciocínio.

Realmente, poucos “podem olhar e ver[3]”… e muito poucos “podem ver e reparar[4]”!

Que me perdoe” quem lê, mas também me apetece repetir:
“Se puderem ver, reparem!”

Sentir, sinta quem sente!
Pensar, pense quem quiser!
Continuar a ler… siga quem gostar… ou não…

Faz algum sentido (e cito novamente Saramago), que “antes da criação do universo, deus não tenha feito nada, e um dia, não se sabe bem porquê, decida criar o universo. Segundo a Bíblia, fez o universo em seis dias. Seis dias só! Descansou ao sétimo dia… e até hoje nunca mais fez nada. Isto faz algum sentido?”

Faz algum sentido que exista um deus invisível, criado à imagem humana, que viveu na terra e mora no céu… (que céu?) que tudo sabe e vigia… que criou uma lista de mandamentos completamente ancestrais que exige que se sigam na atualidade, e simultaneamente ameaça quem não os cumprir?

Faz algum sentido que exista na realidade um deus invisível que ama se for seguido e odeia ou mata se for recusado? Um ser autoritário que além de amor, adoração e dedicação incondicional, precisa constantemente de dinheiro, de muito muito dinheiro!… -esse vil metal a que o líder máximo[5] invocou como “fonte de pecado”?

Não faz sentido!...
Não só não faz sentido, como desperta em qualquer mente minimamente pensante um mar de interrogações…

Não é fácil a qualquer ser humano aceitar esta realidade!
Não é fácil recusar ou refutar o ideal do divino, porque implica, desde logo punição, negação de expectativas de perfeição e imortalidade!
Não é fácil reduzir a vida a simples partículas de matéria… -poucos são os que aceitarão esta realidade. Poucos são os que aceitarão o fim.
Não é fácil aceitar o falecimento absoluto do ser… do Eu.
Não é fácil aceitar o falecimento do corpo, da mente (também ela um órgão) e sobretudo da “alma”, porque também a sua casa morre!
Não é fácil!
Eu diria que é dramático para todos os seres. Crentes e não crentes.

A natureza, alheia a todas estas questões, é obviamente implacável com todos os seus seres… humanos e não humanos.
Dá-lhes vida…
Alimenta-os, alimenta os seus sonhos e desejos…
Ajuda-os a reproduzir…
Ajuda-os a viver e a sobreviver…

Mas…
Não os ouve!
Não os vê!
Não os distingue!
Não os compreende!
E mata-os!

É, pois, no mínimo incoerente, procurar encontrar um “espírito divino” fora da natureza humana!

É perfeitamente compreensível que por todo o planeta existam as mais diversas formas, teorias e explicações para todo o tipo de crenças…
Já não o será, a criação humana de “deuses” para serem e representarem o que não é, ou para explicar o que não sabe ou não consegue saber… é um perfeito absurdo!

Não se trata de reduzir a crença a um mero conceito antropológico; trata-se de raciocinar, de reparar, de perguntar… e sobretudo aceitar a realidade seja ela qual for… nua e crua!

A humanidade terá tido origem num processo perfeitamente natural (tal pode-se constatar através das ossadas dos nossos antepassados… de todos os fósseis descobertos…).
A cultura foi-se enraizando em cada tribo… as sociedades foram evoluindo moldadas pelo ambiente, pela necessidade de sobrevivência, dando origem às mais diversas civilizações nas mais diversas regiões do planeta…
Muitas destas civilizações extinguiram-se, algumas chegaram aos nossos dias com as suas normas, as suas tradições, os seus usos e costumes adaptados à realidade atual. A própria religião é uma dessas evidências culturais, que marcou e ainda continua a marcar catastroficamente toda a história da humanidade, tal a forma viral como se propagou praticamente por todo o planeta sobretudo nos dois últimos milénios.

Para que possamos entender qualquer crença, temos previamente que “reparar” que a consciência que temos de qualquer divindade é a mesma que temos de nós próprios. Todas as crenças não são mais do que o reflexo material e imaterial do mundo interior do ser humano…
O exteriorizar de medos e desejos vitais e elementares…
O exteriorizar de aspirações que não consegue realizar ou materializar como consequência da sua limitação…
A ânsia de saber ou de não poder saber tudo…
A ânsia de poder, de dominar, do que não tem ou não consegue alcançar…
O medo do ser mortal e consequentemente limitado no tempo… que lhe foge.

A criação, a adoração, a projeção, a relação com o ser divino, ou com a sua imagem… é precisamente a mesma que temos com os nossos semelhantes!
Os seus “mandamentos divinos” não são mais do que as regras de conduta humana elaboradas por humanos em nome da liberdade e da justiça social… da moral e do respeito que têm que ter para com os demais para que socialmente possam coexistir… hoje consideravelmente melhoradas em algumas democráticas “constituições”.

É inevitável que um dia todos “reparemos” um pouco melhor nesta realidade.

Tal como um dia disse o nosso Fernando Pessoa…
Que todos possamos “ouvir o olhar” e com esse “olhar adivinhar os sentimentos”!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-01
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[1] “Reparar” (Saramago). Retirou-me a venda… capacitou-me a visão… conferiu-me a perceção.
[2] Saramago
[3] Idem, anterior
[4] Idem, anterior
[5] Papa

2020-02-08

0126. Religião


Não pretendo iluminar a religião de ninguém!

Não pretendo apagar a religião de ninguém!

Tão-somente expressar a fé que tenho no Amor,

Tão-somente celebrar o prazer que tenho no Amor!

 

Tão-somente amar sempre assim perdidamente…

Tão-somente amar sempre assim intensamente…

Tão-somente amar sempre este perfeito instante.

Tão-somente amar sempre esta Deusa[1] de presente.

 

Tão-somente respirar sempre assim este encanto…

Tão-somente sentir sempre assim suave, suavemente…

Tão-somente tocar sempre assim leve, levemente…

 

Tão-somente Viver sempre simplesmente o momento[2]

Tão-somente Amar e ver sempre perfeitamente…

Tão-somente Agora… e sempre, naturalmente!



[1] Mulher

[2] Carpe Die



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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-05
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0125. Mulher


És meu anjo da guarda, minha única certeza!
És minha fiel natureza, minha única deusa!
Nos teus braços, és minha única perdição!
Inspiração da minha vida, fogo do meu coração!

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-02-08
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2020-02-06

0124. "Justiça divina"




O presidente da República encerrou hoje a cerimónia de abertura do ano judicial apelando a uma maior celeridade na resolução dos casos e lançando o desafio para um novo pacto de combate à corrupção…
Diz este que “a lentidão de alguns processos poderá mesmo significar concluir que a justiça humana poderá ser tão lenta, tão lenta, nos casos de especial complexidade, que para os crentes mais radicais passará a ombrear com a justiça divina, por definição intemporal”.

Não sei se o presidente crê radicalmente em algo, apenas sei, pelas suas palavras e atitudes que é realmente “crente”.

Concordo plenamente quando diz que a justiça é muito lenta sobretudo nos casos de “especial complexidade”, mas quanto à “justiça divina”, e esta é apenas uma opinião pessoal, que vale o que vale… fico, mais uma vez, verdadeiramente dececionado.
Enquanto tivermos um presidente que constantemente se ajoelha perante supostas divindades, no beija-mão ao papa, ou constantemente apregoa “justiça divina”, teremos consequentemente também um povo eternamente condenado à ignorância.

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Autor: Carlos Silva
Data: 2020-01-05
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