2025-01-15

0421. Quando vier a primavera

 




Quando vier a primavera e eu já não estiver

Digam à primavera que a amei assim ela quiser

Digam que flori e caí como as flores da primavera

Por ter perecido não acaba a primavera apenas as flores que fruí

Tal como as flores da primavera apenas brotei e expirei

A vida segue sem mim tal como as flores da primavera

Desabrochei e fechei feliz tal como as flores na primavera

Foi a minha perfeita estação de primavera

Foi o meu volátil perfume de flor da primavera

Toda a beleza que despontei e despertei foi realmente um presente

Por isso desfolhei e findei contente

Sobre o meu túmulo podem dizer o que aspirarem

Podem colocar as flores que desejarem

É-me completamente indiferente tal como às flores da primavera

Só não quero que chorem porque sempre sorri

Sempre sorri e vivi como as flores da primavera

Podem dançar e cantar à volta da minha sepultura

“Não tenho preferências porque já não terei preferências”

E mesmo que as tivesse seria completamente indiferente

Podem entoar o hino de Lennon[1] e sorrir desafogadamente à primavera

Podem sorrir plenamente à vossa primavera

Fico feliz por o fazerem assim naturalmente

O que agora for quando for que seja o que é

Espero que vivam como eu vivi

Espero que vivam como as flores da primavera

 

“Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma”

“Não desejei senão estar ao sol ou à chuva”

Tal como as flores da primavera



[1] Imagine

 

 

Nota: Escrito logo após a leitura de “Quando vier a Primavera” (F. Pessoa)


 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-12-01
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Obs.:
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2024-12-03

0420. Absurdo


 

"O problema não é um deus, que não existe, mas a religião que o proclama"

José Saramago

 

Assoberbado por este reconfortante e enigmático silêncio, observo serenamente o brilho das estrelas…

É completamente absurdo sequer imaginar que toda esta perfeita e magnificente imensidão tenha sido criada por uma suposta criatura sobrenatural que tudo controla… incluindo o que agora mesmo penso ou sinto… e que, ousando discordar, ou comportando-me mal, me castigaria por toda a suposta eternidade.

 

Como é que alguém pode sequer equacionar este absurdo?

Como é que alguém pode viver… matar e até morrer em nome deste autêntico absurdo?

 

Não se compreende que o ser humano continue preso a crenças primitivas que durante séculos martirizaram, obstruíram e destruíram civilizações e gerações…

Compreende-se perfeitamente o desejo de eternidade, a busca de perfeição e de justiça, a necessidade de explicação de fenómenos naturais…

Compreende-se perfeitamente o desejo de viver melhor, o medo e a necessidade de consolo perante a morte… a dor da perda de seres queridos… a ausência de um sentido de vida…

 

O que não se compreende é este absurdo!

Não se compreende esta incessante e massacrante doutrinação religiosa infantil!

Não se compreende esta contínua endoutrinação de dogmas da religião, assimilados como virtudes ou verdades absolutas…

Não se compreende a forma como são impostos à sociedade… como justificam guerras e motivam paz e bem-estar eterno.

Não se compreende como as religiões continuam a parasitar o patriotismo como forma de obter proteção ou benefícios do poder instalado…

Não se compreende como as religiões continuam a justificar a esmola e a ajuda aos mais pobres e desfavorecidos como forma de extorsão financeira…

Não se compreende como as religiões continuam a segregar povos em função da crença, da raça ou da etnia… como continuam a marginalizar homossexuais e diminuir o papel da mulher na sociedade submetendo-a à uma mera condição de objeto ou de reprodução…

Não se compreende como as religiões se apropriam da ética, da moral e dos costumes… das mais nobres virtudes humanas… como se fossem suas… e muito menos que as usem mesquinhamente para viver à custa do sangue suor e lágrimas dos mais pobres e desfavorecidos.

 

Nas religiões nada se compreende, nada se questiona… simplesmente acredita-se!

 

Nenhuma religião torna o mundo melhor ou as pessoas mais felizes!

 

Afinal… todas dependem da ação humana e o absurdo está nos homens que as criam e proclamam!

 

Na realidade… pode-se ser feliz sem religião!

 

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2024-02-12
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Obs.:
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2024-11-17

0419. Mensagem de Natal da IC na RTP

 


Atribuir à Igreja Católica ou a qualquer outra confissão religiosa tempo de antena em canais de televisão públicos, pagos pelo contribuinte, viola o princípio constitucionalmente definido da Laicidade da República Portuguesa.

Havendo um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, segundo o qual "toda a publicidade destinada a promover uma confissão religiosa, ou que tenha por objeto ideias religiosas, deverá ser considerada ilícita, incorrendo o infrator em responsabilidade contraordenacional", não se compreende, porque não foi tomada qualquer ação por quem de direito.

Se ao Provedor (a) do Ouvinte e do Telespectador compete “representar e defender, no contacto com as Empresas de Serviço Público de Rádio e de Televisão, as perspetivas dos Ouvintes e dos Telespectadores diante da oferta radiofónica e televisiva”, o que é que o mesmo fez para evitar tal ilicitude?

Católicos, evangélicos, muçulmanos, hindus, judeus, budistas… qualquer crença têm o direito de transmitir a suas “mensagens”, mas, obviamente, nos locais e canais próprios, para os seus fiéis seguidores, ou para aqueles que veneram amigos imaginários e paguem o dízimo ou esmola… não para a população em geral e muito menos para pessoas minimamente lucidas e racionais, que normalmente estão vacinadas contra os seus dogmas.

Não o podem fazer numa televisão pública paga por todos os contribuintes, sobretudo aqueles que respeitam a separação e laicidade do Estado.

Não é lícito!… muito menos moral, o Estado favorecer, publicitar e patrocinar uma religião específica (IC) a quem atribui inúmeras regalias e sobretudo isenções de impostos.

 

Já chega de discursos “politiqueiros” … “jornadas religiosas” … “lutas contra o aborto” … “lutas contra a eutanásia” … “lutas contra a homossexualidade” …

 

Só falta mesmo que lutem contra a pedofilia e indemnizarem as vítimas.

Só falta mesmo levantarem que os cuzinhos gordinhos dos bancos das igrejas, e em vez de discursos e orações inúteis, saírem para a rua para ajudar os mais pobres e desfavorecidos.

Só falta mesmo começarem a distribuir parte da riqueza que acumularam ao longo de séculos para ajudarem a matar a fome no mundo.

 

A RTP, enquanto órgão de informação, tem obrigação de oferecer aos seus telespectadores e contribuintes um serviço público livre e independente do poder político, económico e religioso.

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-12-24
Imagem: Internet
Obs.:
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2024-11-14

1050. Eu queria

 



Eu queria...

Eu queria ter o Mundo ante mim,

Desde o Princípio, Meio, até ao Fim.

 

Eu queria...

Eu queria colocar Tudo[1] num poema assim,

E depois lê-lo vezes sem fim.

 

Eu queria...

Eu queria saber qual o meu Fim[2],

Conhecer o Outro e entrar dentro de mim.

 

Eu queria...

Eu queria dizer-Te[3] que sim,

E acreditar também em mim.

 

Eu queria...

Eu queria alcançar a Unidade[4], enfim

Tantas coisas assim.

 



[1] A totalidade do Real, tudo o que existe...

[2] O objetivo/função da minha vida

[3] Deus

[4] Realização pessoal, poética, total...


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1049. Antítese

 


I

 

Olhei para a desolação dum pequeno jardim deserto

E vi que algo não estava certo

Uma pobre moça abandonada

Longe do rapaz que simplesmente a adorava

O céu estava lúgubre agreste ameaçador

A noite escura uma paisagem de terror

Ao longe um velhote deitado no chão

Coberto com um simples jornal que detinha na mão

A seu lado um passarinho gelado

Pulava no solo molhado

As árvores estavam nuas vazias mortas

E as folhas secas imóveis mortas

Perto notava-se um pequeno charco

A água tinha um aspeto turvo amargo

Taciturno perguntei o que se passava

Respondeu tão-somente que não a amava

 

A solidão chegara conquistara e reinava

 

 

II

 

Olhei para o esplendor dum grande jardim coberto

De um verde belo e vi algo lindo decerto

Uma bonita moça estava acompanhada

Pelo rapaz que tanto amava

O céu claro límpido de mil-e-uma-cor

Iluminava o local com ternura e amor

Ao longe uma criança brincava com um cão

Ao lado o irmão que a levava pela mão

Perto um passarinho doirado

Voava indo poisar no beiral do telhado

As árvores fofas cheias cobertas

Por folhas de vida e tão abertas

Perto situava-se um pequeno lago

Cuja água límpida e clara era algo

Maravilhoso Passei e num sorriso de salva

Olhando para trás notei que ele a beijava

 

O amor chegara conquistara e reinava

 



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1048. Poesia

 



A

 

Unidade fragmentada por poetas desejosos de unidade

 

Infinidade magistral onde divagam platonismos de Ser para o Ser

 

Realismo circular onde se criam paisagens de sonho na monotonia da Realidade

 

Esquecimento onde se abandona Ser e Não-Ser de cada ser

 

Mar tempestuoso superiormente estético onde navegam corações d'almas agitadas

 

Ser

 

Z



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