2023-11-25

0386. Popularidade

 


John Lennon disse um dia que “os Beatles são mais populares que Jesus Cristo”.

 

É natural que John Lennon, um ser livre e perfeitamente racional, tenha dito que “os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo”… afinal, adorava música e abominava a hipocrisia das crenças religiosas.

Na altura, as suas declarações, tal como “God” e “Imagine”, foram vistas como uma autêntica afronta; uma ofensa apocalíptica para a maioria das religiões de todo o mundo.

“Imagine um mundo sem religião com todas as pessoas vivendo as suas vidas em paz?”

Era uma “blasfémia” … uma perfeita utopia…  ou eventualmente um inquestionável desafio a qualquer mente minimamente racional!

Além duma acérrima crítica à religião, “Imagine” é sobretudo um autêntico hino à paz… e transformar-se-ia também num grande êxito mundial.

Mas Lennon, não se ficaria por aqui…

Afirmaria também que “o Cristianismo iria acabar; encolher e desaparecer…”.

Tais palavras implicariam graves consequências para os Beatles e em particular para Lennon, que, como sabemos, acabaria por ser assassinado em 1980; facto ainda hoje interpretado por alguns radicais religiosos como “castigo divino”. Apesar de não terem grande impacto no seu país, nos Estados Unidos, sobretudo a nível dos católicos mais conservadores, gerariam uma autêntica onda de indignação e revolta, levando à queima de discos, a ameaças e a tentativas de agressão durante a sua digressão.

A pressão de seitas religiosas radicais como KKK e sobretudo do Vaticano que através do Papa emitiria uma nota de protesto, seria de tal forma violenta que o cantor seria forçado a retratar-se publicamente. Numa primeira fase, Lennon, negar-se-ia a pedir desculpa; no entanto, sob a ameaça de que, em caso de negação, estaria em risco toda a digressão pelo território americano, acabaria por fazê-lo…

 

“Nunca quis comparar os Beatles a Jesus Cristo… (…) a ideia era que, para muitos jovens, a música é mais importante do que a religião… (…) “não sou contra Deus ou contra a religião… (…) 

“Nunca quis que soasse como uma coisa vil e antirreligiosa…. se querem que eu peça desculpas, se isso os deixará felizes, então ok: desculpem-me.”

 

Tendo em conta o atual contexto político português, onde Estado e religião católica vivem e convivem de mãos dadas…

Espero nunca ser constrangido a afirmar o contrário do que penso…

Espero nunca ter que pedir desculpa por dizer o que penso… ou apenas porque tal, eventualmente, ofenda a crença de alguma seita no seu fiel amigo imaginário.

 

Afinal, tal como Lennon, apenas quero “paz num mundo sem fronteiras nem religiões”.

Mas quero mais do que “imaginar”!

Quero viver esse mundo na realidade e em plena liberdade!

Quero!… e é precisamente o que tenho vivido até agora!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-11-22
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2023-11-15

0385. "Deus está morto"

 


Muita gente terá questionado o que realmente pretendia Nietzsche dizer com a célebre frase do seu Livro III da Gaia Ciência…

 

“Deus está Morto” 

 

“Deus não morre porque é eterno e todo-poderoso…” -comentam alguns crentes.

 

“Se Deus não existe, logo não pode morrer!...” -comentam alguns descrentes.

 

Pensando no que eventualmente Nietzsche teria pensado…

Penso que simplesmente previa o princípio da morte abstrata de “deus”.

Penso que simplesmente previa o princípio do fim da religião, em particular o cristianismo, pelo facto de analisar, raciocinar e percecionar que a religião está a perder o lugar de destaque na cultura ocidental e a entrar num irreversível espiral de declínio.

 

No passado “Deus” era praticamente o “centro do mundo”!

No presente, a cada dia que passa, cada vez mais, deixa de ser o centro cultural do mundo e sobretudo o centro do ser humano.

No futuro apenas uma recordação de alguém… depois, não será absolutamente nada!

 

Cada vez mais precocemente o homem se liberta da sua prisão mental…

Cada vez mais “a ciência, a filosofia, a literatura, a arte, a música, a educação… e a vida social quotidiana…” se libertam da religião…

Cada vez mais o poder estatal, seu milenar aliado, se separa da religião…

Cada vez mais o cidadão comum rejeita ou simplesmente ignora a “religião” para evitar cair no ridículo de justificar o injustificável, observar e invisível, ou concluir o inconclusivo.

 

Ainda existem milhões de pessoas em todo o mundo que são profundamente religiosas fruto da constante doutrinação… -é um facto!

Muitas delas acreditam piamente que o seu Deus está realmente vivo.

Grande parte não sabe, não lê, não percebe… e nem sequer pensa ou questiona se o seu “deus” estará realmente morto!... apenas acredita que existe porque tem fé… como se a sua fé o fizesse existir.

A tradicional imagem que cada ser em particular tem de “deus”, e o Cristianismo em geral (movido pelo ideal de poder, de domínio e sobretudo ganância económica), sempre fez parte do quotidiano e do pensamento filosófico humano; praticamente todos os sistemas educacionais e sociais eram geridos pela religião ao ponto de ainda hoje quase toda a gente ser “batizada, casada ou sepultada pela igreja, frequentando-a com alguma regularidade durante toda a vida”.

 

O que tem realmente causado a “morte de deus” é o pensamento racional!…

O que tem realmente causado a “morte de deus” é a explosão do conhecimento… a liberdade da literatura e de tantos génios como Nietzsche…

 

A globalização e a revolução científica têm vindo a permitir a explicação objetiva de inúmeros fenómenos naturais que acabam por deitar por terra as escrituras e dogmas religiosos que, em alguns casos, serviam de lei ou de inquestionáveis mandamentos.

O iluminismo do séc. XVIII, com a ideia de “razão” em detrimento de “tradição”, a Revolução Industrial do séc. XIX, com o crescente poder tecnológico e económico desencadeado pela ciência, a evolução da medicina, a melhoraria significativa das condições de vida da maioria da população mundial, também foram fatores determinantes para o declínio da ideia de “deus”.

 

Durante milhares de anos, reinou a “suprema ideia de Deus”.

O omnipotente, o omnisciente, omnipresente era o criador da terra e do céu... o pai; o fiel amigo; a moral; a lei fundamental...  a base de todo o pensamento humano; o determinante do obediente dos fiéis, a eternidade… o limiar do paraíso... ou inferno, a punição de todos o que ousassem não seguir o seu caminho.

 

“Deus está morto!” -afirmou Nietzsche…

Talvez se trate mesmo de um processo de extinção simples e natural… afinal, todos os conceitos acabam por expirar na consciência de todas as civilizações porque na realidade apenas existem na mente de quem neles crê.

 

Simples espectadores como eu…

Pensadores, escritores, artistas…

Apenas voam em liberdade…

Apenas observam e descrevem a realidade!

 

Deus está morto! -subscrevo-o obviamente.

Podem até pensar que esteja louco por também o afirmar ainda no presente!

Talvez também tenha estado por aqui cedo demais e não seja este ainda o meu tempo.

Talvez a maior parte só o entenda um pouco mais à frente…

Talvez até nunca o entenda…

Afinal, tudo precisa de tempo para ser observado… provado e comprovado!

 

 

 

Nota:

A propósito da “morte de deus” e da sua milenar encenação, já o Papa Leão X referia que “a fábula de Cristo é de tal modo lucrativa que seria uma loucura advertir os ignorantes do seu erro”.

Curiosamente, em países como Portugal ainda hoje se realizam Jornadas Mundiais de Juventude católicas, cujo maior “embaixador” é um presidente católico duma República laica!

Ah… e todos acreditam que “deus está vivo”!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2023-11-14
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2023-11-08

0384. Pai

 


Pai

 

É quando estou assim perdido sobre a tua lápide

Devastado perante toda a indiferença da realidade

Assolado pelo silêncio e inércia da tua imagem

Esmagado pela implacável frieza desta breve passagem

 

É quando estou aqui, tão próximo e tão distante de ti

Que em mim afloram instantes que contigo vivi

Que mais sinto a falta dos teus traços e laços

Que mais sinto a falta dos teus beijos e abraços

 

É quando estou assim, observando-te sem te poder ver

Quando te tenho dentro de mim sem te poder ter

Quando perdido neste vazio que ninguém pode preencher

Quando mergulhado nestas lágrimas que ninguém pode suster

 

Que mais sinto a tua falta

Que mais queria voltar a abraçar-te

Que mais queria voltar a beijar-te

Que mais queria voltar apenas a chamar-te

 

Pai

 

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2022-05-20
Imagem: Pai
Obs.:
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2023-11-06

0383. Ficção religiosa

 


Quando abres um dos mais primitivos livros da humanidade e constatas que a personagem principal, apresentada de forma fictícia e com poderes sobrenaturais, é “ciumenta e orgulhosa, controladora e mesquinha, injusta e intransigente, genocida e vingativa, sedenta de sangue, perseguidora, homofóbica, racista, infanticida, filicida, pestilenta, megalomaníaca, sadomasoquista, malévola... [1]

Quando constatas que contém inúmeros factos científicos que são comprovadamente falsos, com “grotescos erros de Geografia, Botânica, Biologia, Zoologia e Astronomia…[2]

Quando constatas que no livro são descritos fenómenos extraordinários que nunca ninguém observou, “animais que não existem, personalidades e factos que historicamente nunca existiram, profecias que nunca vieram a acontecer, contradições e versões divergentes, inúmeros absurdos e exageros...[3]

Quando constatas que contém “torturas, apedrejamentos, enforcamentos, empalamentos e outras crueldades, escravatura, racismo, xenofobia, homofobia, misoginia, incesto, prostituição, adultério, poligamia…[4]

Quando constatas que contém “cobiças, ciúmes, traições, ódios, genocídios, guerras, assassinatos de crianças e de outras pessoas inocentes, discriminações sociais, grandes injustiças económicas, seres humanos queimados em fogueira…[5]

Quando constatas que inspirou inquisidores, criou instrumentos de tortura, masmorras, prisões, correntes que rasgavam e mutilavam carne humana de supostos pecadores, produzindo sofrimentos horrendos e atrozes…

Quando constatas que grande parte de todo o horror nele descrito foi realmente executado em nome duma hedionda personagem principal, criada maquiavelicamente pelo próprio homem com o vil propósito de dominar e amedrontar o seu semelhante…

Quando constatas que essa personagem omnisciente, omnipotente e omnipresente, é apresentada como criador da humanidade e de toda a biodiversidade, da terra e do universo, num espaço de tempo relativamente curto e depois não faria absolutamente mais nada…

Quando constatas todo o ódio que semeou e semeia entre famílias, povos e nações, alimentando guerras, fome, pobreza e desgraça…

Quando constatas que, ainda hoje, metade do mundo continua a afirmar e a doutrinar a outra metade no sentido que todo o mundo acredite piamente que o conteúdo desse livro é de inspiração divina, realmente autêntico, e que se deve continuar a fazer rigorosamente o que nele se descreve…

Quando constatas os seres humanos que foram perseguidos, presos e condenados à morte apenas por discordarem ou questionarem esse livro…

 

Quando finalmente tens a liberdade, o direito e o privilégio de pensar e constatar todo o sofrimento que a humanidade já padeceu e continua a padecer em nome desse livro…

Quando finalmente és livre de pensar e escolher o que realmente queres e desejas ler…

Quando finalmente sentes que não podes ficar calado nem parado perante toda esta insanidade mental…

Quando finalmente a tua mente sente que uma palavra… um gesto… um grito de revolta… pode salvar uma vida… muitas vidas…

 

Então não podes ficar parado…

É urgente escrever… é urgente agir e gritar bem alto até que a voz te doa:

 

Desperta Humanidade!

 

Autor: Carlos Silva
Data: 2022-12-17
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[1] Richard Dawkins

[2] Victor Correia

[3] Idem

[4] Idem

[5] Idem


2023-11-03

0382. Clareza I

 



Tão clara é a clareza da minha natureza

Como clara é a clareza da minha certeza

Tão clara é a clareza da minha natureza

Como clara é a clareza da minha fraqueza

 

Tão clara é a clareza da minha imperfeição

Como clara é a clareza da minha desilusão

Tão clara é a clareza da minha ilusão

Como clara é a clareza da minha razão

 

Tão clara é a clareza da minha razão

Como clara é a clareza da minha inquietação

Como clara é a clareza da sua transformação

 

Tão clara é a clareza da minha natureza

Como clara é a clareza da minha clareza

Como claro é o Fim e a clareza da certeza


Autor: Carlos Silva
Data: 2023-02-08
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