2018-01-27

0027. Sensação de liberdade







Vivo sem medo…
Escrevo sem medo…
Liberdade plena.
Experimento uma vasta plenitude intelectual… uma vasta sensação de liberdade e de espaço...

Por vezes um qualquer som exterior irrompe, mas passa como o vento no deserto, não despertando em mim mais do que uma banal indiferença...
É este Silêncio que me absorve e me perturba…
É esta Liberdade que me abre as portas da imensurabilidade… da meditação plena…
O ponteiro do tempo continua a sua imparável correria e não adianta quebrá-lo ou retê-lo na palavra porque foge… foge como o vento. Se estivesse no campo ou na praia, com certeza que o sentiria tocar-me -e tão-somente tal, já que possivelmente não o pensaria, como agora o faço, mergulhado nestas quatro paredes de um quarto[1]... de tempo!
Um quarto de hora de liberdade… de silêncio… e tão-somente restam alguns insignificantes ruídos de pensamento já irremediavelmente ofuscados no passado. Da sua essência resta esta letra...
Mas eis que nesta efémera e momentânea frequência emerge a suprema sensação:
A consciência plena do Ser-Algo. A satisfação plena do neste preciso momento ser Eu.
Emoção plena.

*

Regresso à realidade ainda algo embebido no que realmente sinto...
Por vezes nem o que sinto, ou pelo menos penso, sei... algo sinto quando me belisco, como agora o faço... -a dor física é prova disso!
Sinto a liberdade desta admirável luta intelectual no mais íntimo do meu Ser... poderia neste momento abandonar-me e esquecer-me do tempo no seio do meu universo de amizades, ou tão-somente esvoaçar pelo mundo como uma andorinha que livremente rompe o céu... -como seria fácil!... mas não consigo... não posso!
Gosto de sentir-me assim!
Gosto desta Liberdade suprema!
Gosto de Pensar-me!
Gosto de Acariciar-me!
Gosto de aproximar-me da Possível-Verdade!
Gosto de aproximar-me da Possível-Realidade!
(ainda que tão levianamente o faça)
Não sei até que ponto a irei abarcar…
Mas que importa…
Bastar-me-á esta voluptuosa satisfação de continuamente tentar… esta persistente liberdade de sentir… pensar... amar…
Bastar-me-á esta liberdade deste desmedido desassossego.


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-25
Imagem: Internet
Obs: Sensação de liberdade…
Direitos reservados.

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[1]Físico





2018-01-26

0026. Linguística








Descobri a Linguística...
Depois da Língua, descobri a Linguística… e neste agradável esforço cognitivo de compor, comecei também a ponderar o próprio desempenho linguístico (especialmente a verbalidade), na possibilidade de não me limitar a pensar de forma simples e libertina que descuidadamente tenho vindo a adotar…
Um exíguo esforço... (porque não?) por uma linguagem algo mais estruturada, mais metódica e sobretudo mais cuidada...
Usar adequadamente a língua é inegavelmente benéfico não só à dimensão do Meu-mundo, mas especialmente à assimilação de quem eventualmente o deseje abraçar e abarcar…
Usar adequadamente a língua é inegavelmente indispensável ao domínio e articulação... ao desenvolvimento e organização de capacidades intelectuais e fundamentalmente a uma maior facilidade de assimilação e conhecimento, de intervenção na realidade exterior e interior...  -consequentemente uma melhor e mais perfeita comunicação…
“A linguagem define o homem” - li algures - “é através dela que o homem se assume perante o seu mundo”; o seu pensamento, as suas ações, os seus sentimentos...
Enfim, quem diria... eu aqui fazendo uma pequena e metódica divagação sobre o meu próprio discurso… procurando comunicar o melhor possível para satisfazer toda esta insaciável necessidade, este estado de emoção psíquica... e transformar em palavras audíveis todos os conteúdos de consciência, que, em determinados momentos, a vida nos oferece pensar...

*

Que desmedida satisfação esta de escrever sobre o que escrevo e sobre a forma mais ou menos correta como o faço!
Não é, realmente, fácil estabelecer objetivamente uma correspondência formal entre a linguagem e a realidade interior[1] e uma eventual exterior[2], mas é uma delícia este lutar constante com as regras e ver como dos signos emergem mares de conteúdo...
Agora…
Não quero sofrer a incapacidade…
Não quero sofrer a complexidade...
Não quero sofrer a imensidade...
Agora…
Apenas pretendo evitar a incorreção… descrever o mais concretamente possível a simples proposição: Água… e a vontade inerente, objetiva, mais elementar e transparente dos líquidos: a sede… a sede de viver!
E tenho sede!... tenho muita sede!
Tenho necessidade não apenas do precioso líquido, mas, sobretudo, tenho sede de expressar e compreender logicamente o que sinto e penso!
Não é de todo perfeitamente linear transmitir conceitos abstratos, sem induzir interpretações divergentes, ou mesmo até conduzir ao próprio erro, mas, o uso da forma mais correta possível da linguagem escrita ou verbal, simplifica a sua assimilação uma vez que é através dela que acabamos por esclarecer/compreender conceitos como Razão, Lógica, Verdade…  até mesmo o equívoco ou a própria banalidade do pensamento!
O signo é hoje pouco “conhecido”, de muito difícil formulação e de mais difícil assimilação... e é do seu desconhecimento que muitas palavras como estas não são minimamente percetíveis!


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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-11-19
Imagem: Internet
Obs: Tenho sede… tenho muita sede!
Direitos reservados.

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[1] Pensamento
[2] Mundo exterior… realidade…






2018-01-25

0025. Universo intelectual






Perante toda a realidade humana, que se perpetua no mais maravilhoso mistério…
Perante toda a amplitude Universal, que se perpetua no mais deslumbrante mistério…
Perante toda esta consciente incapacidade de abarcar sequer a minha insignificante realidade...
Resigno-me.
Resigno-me e limito-me a saborear a Vida!
Resigno-me e limito-me a delinear todo este precioso universo de intelectualidade onde constantemente me debato.
Mergulho sem saber se a algum lado chegarei... ou sequer ao Fim que terei!
Mergulho acompanhado por Mim... neste admirável vastidão, na mais pura e ampla liberdade (a reflexão clama por calma, plenitude não apenas exterior mas sobretudo interior) …
Eis que afloram, numa incrível sobreposição de conteúdos, imagens reais e imaginárias…
Eis que afloram, num magnificente atropelo psíquico pintando toda esta paisagem de sonho/realidade…

Independentemente do seu próprio significado, ou do sabor que despertam, eis que fica a relatividade destas associações simbólicas deixadas ao sabor da futura realidade...



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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Resigno-me…
Direitos reservados.

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2018-01-24

0024. Mundo







Quem não pensa, ainda que ocasionalmente, na perda do seu Mundo?[1]
Outros-mundos-continuarão, mas pela minha perda Nada serão!...
Não haverá Meu-Mundo do Mundo... tão somente Mundo fora do Meu-Mundo-perdido!
Urge uma dor caótica, imensa, uma recusa metafísica à essência, um pavoroso fechar d’ olhos, um devolver da mente e corpo... à legitimidade da Vida!

Penso o corpo da realidade...
Penso a exaltação máxima dos sentidos...
Penso abandonar todas as Metafísicas e todas as possíveis respostas para aquele atemorizador pensamento inicial...
Penso naquele rosto de mulher e imagino infielmente as suas palavras nuas e cruas…
Penso na banalidade de palavras como estas…
Mas apenas para deixar de pensar na sensação de pensar na perda do meu Mundo existencial.

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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-08-22
Imagem: Internet
Obs: Perda do “mundo-existencial”
Direitos reservados.
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[1]Eu

2018-01-23

0023. Canto e encanto





Este encanto que naturalmente canto
Encanta o canto e o pranto que vivem em mim
Encanta desde o princípio meio até ao fim
Encanta admiravelmente porque assim o canto

Encanta este alegre palhaço de puro sentimento
Encanta este livre pássaro que voa plenamente
Encanta quem quiser rir e voar superficialmente
Encanta quem quiser apenas viver este momento

Porque é neste momento que pode ser alguém
Porque é neste momento que pode amar alguém
Não sendo canto nem encanto de ninguém

Canto que canta e encanta leva-o o vento
Leva o canto e encanto deste mero pensamento
Leva o canto e encanto do mero entendimento


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Conhecimento…
Direitos reservados.
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2018-01-22

0022. Nada






Por momentos admiti[1] a Verdade do Fim…

Quem não pensou já na finitude do seu Eu… em Nada?!
Quem não sentiu já a imagem da perda do seu Mundo-existencial? (o Nada-do-Nosso-Mundo derramado pelo Mundo... em Cinzas-de-nada... -só um insensível não o admitirá... até o mais integro e perfeito dos ascetas se terá interpelado: “e depois?!”).

Por momentos admiti[2] a Verdade do Fim.

Admiti a mortalidade.

Admiti ser um simples animal do mundo.

Admiti ser tão-somente este Presente.

Perante o chão da minha consciência deparo com o eterno abismo Humano.

Perante a consciência do meu chão deparo com a efémera realidade da Vida.

Magoa pensar a Verdade-Possível do nosso Ser... 
Afrontar esta simples abstração… eis a minha única fé!
Enfrentar esta simples e efémera sensação de Ser que admite contemplar... contemplá-la... é algo maravilhoso!

Beijos, abraços…
Emoções físicas e psicológicas...
Todas as imensas sensações do dia…

Nada...

A mente perdeu-se em banais-nadas… eventualmente rejeitando a crueldade do… Nada!


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Nada…
Direitos reservados.

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[1]Senti
[2]Senti