2018-01-30

0030. Fim






Não posso reter o tempo nem tão pouco o pensamento...
Um rouba-me uma vida de excelência…
O outro a excelência[1] de uma vida.

Limito-me à efemeridade de sentir e contemplar esta constante metamorfose…
Absorto em Porquês…
De Princípios, Meios, Fins...
Para os quais me falta tempo, fé e pensamento.

Ao ver as Lágrimas Finais de Dali[2] percebi o “seu-medo-do-Fim”
O Fim que ainda não senti!...
Tão somente o medo do seu medo… do Fim.

Limito-me à contemplação efémera destas cinzas…
Ausência absoluta…
Simples grãos de nada que resplandecem sob o olhar do dia a dia...

Limito-me à reflexão do Agora...
Um tempo…
Cujo tempo…
Se perderá irremediavelmente na efemeridade do próprio tempo...
Tempo ao destempo…
Como se tempo não existisse...
Nada!

Limito-me a perpetuar o pensamento…
Noutro tempo…
Noutra palavra de Vida…
Ainda que a vida da minha palavra já se tenha apagado.
Outro Tempo será!
--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1995-08-04
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---





[1]Tranquilidade
[2]Salvador Dali – imagens que vi pouco antes do seu Fim.



[1]Tranquilidade
[2]Salvador Dali – imagens que vi pouco antes do seu Fim.
[3]Lágrimas



2018-01-29

0029. Resta-me





Resta-me esta imprecisão…
Resta-me a pureza destas simples palavras que naturalmente brotam das entranhas do meu ser...
Não tenho “engenho” nem “arte” para epopeias ou estruturas rígidas e refletidas...
Gosto do prazer imediato que o mundo interior me confere, cultivando com naturalidade a possível racionalidade… a possível coerência humana…
Gosto de procurar o caminho que julgo mais próximo[1], mais calmo, em oposição à louca correria[2] do mundo exterior que ninguém sabe como terminará…

Gosto do momento deste Sentimento[3]...
Gosto de soltar a relatividade da sua imagem...

Gosto do momento deste Pensamento…
Gosto da claridade deste contemplar, a substância[4] que me permite pensar e desfrutar toda a impotência-do-conhecimento…
Gosto de conhecer… e desconhecer tudo o que me rodeia…

Gosto do que Vivo…
Gosto do que Vejo…
O quão pequeno sou…
O quão pequeno é o meu mundo perante a imensidão do Universo...

Resta-me interferir com realidade que me rodeia…
Resta-me interferir com o que posso alcançar…
Neste precioso momento….
Neste precioso tempo…

Resta-me desenhar este mundo de imagens…
Resta-me articular e artificiar este mundo de sinais e símbolos sem me preocupar com regras, Porquês, Verdades ou Fins... -ténue imagem literal de vida[5]...
Algo será![6]

Resta-me o Sonho...
Uma débil ponte entre uma vida de místico êxtase[7] e a extasiante realidade do dia-a-dia...
Como se de um sonho se tratasse…
Quero simplesmente viver plenamente a realidade deste mundo!

Resta-me essencialmente viver!
Resta-me essencialmente amar!
Resta-me esta arte[8] de comunicar!


  --- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-XX
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---






[1]Correto
[2]Falso progresso
[3]Constatar
[4]Vida
[5]De livro
[6]Este mundo
[7] Pessoana
[8]Necessidade




2018-01-28

0028. Sentir-pensar-criar






Eis-me, mais uma vez, perante mim…
Eis-me, mais uma vez, manifestando toda esta cognoscente necessidade de exteriorizar…
Impulsos recônditos embebidos de emoção...
Trazer todas estas imagens à luz da consciência e manifesta-las neste intelecto, deixa nos lábios um delicioso sabor a arte...
Tornar comuns, todos estes vocábulos…
Aperfeiçoar o gesto de sentir-pensar-criar, como o natural hábito de respirar, tornar o mais límpido possível o abstrato, aproximar a Possível-verdade... vivendo simplesmente o presente com todas as suas naturais omissões -até as mais ocultas, onde usualmente inscrevo apenas as mais secretas imagens mentais de realidade -e vendo nascer um suposto livro de natural estrutura de vida, dividido por Capítulos de Tempo é desejo imediato, imperfeito, ainda que ficcionar seja já em si errar (um erro a juntar a tantos erros!)… eis a que aspiro!
A melhor arte literal, a mais pura, a mais autêntica, é esta autêntica realidade!

*

Às vezes sinto que não me divido o suficiente, que não participo, ou não cuido da imagem intelectual dada por entre um copito e dois dedos de conversa, que me permitiria afirmar-me perante o circulo de amizades que me envolve... chego mesmo a distanciar-me, criando apenas o círculo restrito e algo selecionado; na verdade gosto de me afastar e divertir-me comigo mesmo. Nessas ocasiões sou mais intenso, mais profundo... como se convivesse com a mais perfeita e interessante das companhias.
--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1995-11-12
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
--- / ---








2018-01-27

0027. Sensação de liberdade







Vivo sem medo…
Escrevo sem medo…
Liberdade plena.
Experimento uma vasta plenitude intelectual… uma vasta sensação de liberdade e de espaço...

Por vezes um qualquer som exterior irrompe, mas passa como o vento no deserto, não despertando em mim mais do que uma banal indiferença...
É este Silêncio que me absorve e me perturba…
É esta Liberdade que me abre as portas da imensurabilidade… da meditação plena…
O ponteiro do tempo continua a sua imparável correria e não adianta quebrá-lo ou retê-lo na palavra porque foge… foge como o vento. Se estivesse no campo ou na praia, com certeza que o sentiria tocar-me -e tão-somente tal, já que possivelmente não o pensaria, como agora o faço, mergulhado nestas quatro paredes de um quarto[1]... de tempo!
Um quarto de hora de liberdade… de silêncio… e tão-somente restam alguns insignificantes ruídos de pensamento já irremediavelmente ofuscados no passado. Da sua essência resta esta letra...
Mas eis que nesta efémera e momentânea frequência emerge a suprema sensação:
A consciência plena do Ser-Algo. A satisfação plena do neste preciso momento ser Eu.
Emoção plena.

*

Regresso à realidade ainda algo embebido no que realmente sinto...
Por vezes nem o que sinto, ou pelo menos penso, sei... algo sinto quando me belisco, como agora o faço... -a dor física é prova disso!
Sinto a liberdade desta admirável luta intelectual no mais íntimo do meu Ser... poderia neste momento abandonar-me e esquecer-me do tempo no seio do meu universo de amizades, ou tão-somente esvoaçar pelo mundo como uma andorinha que livremente rompe o céu... -como seria fácil!... mas não consigo... não posso!
Gosto de sentir-me assim!
Gosto desta Liberdade suprema!
Gosto de Pensar-me!
Gosto de Acariciar-me!
Gosto de aproximar-me da Possível-Verdade!
Gosto de aproximar-me da Possível-Realidade!
(ainda que tão levianamente o faça)
Não sei até que ponto a irei abarcar…
Mas que importa…
Bastar-me-á esta voluptuosa satisfação de continuamente tentar… esta persistente liberdade de sentir… pensar... amar…
Bastar-me-á esta liberdade deste desmedido desassossego.


--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-25
Imagem: Internet
Obs: Sensação de liberdade…
Direitos reservados.

--- / ---




[1]Físico





2018-01-26

0026. Linguística








Descobri a Linguística...
Depois da Língua, descobri a Linguística… e neste agradável esforço cognitivo de compor, comecei também a ponderar o próprio desempenho linguístico (especialmente a verbalidade), na possibilidade de não me limitar a pensar de forma simples e libertina que descuidadamente tenho vindo a adotar…
Um exíguo esforço... (porque não?) por uma linguagem algo mais estruturada, mais metódica e sobretudo mais cuidada...
Usar adequadamente a língua é inegavelmente benéfico não só à dimensão do Meu-mundo, mas especialmente à assimilação de quem eventualmente o deseje abraçar e abarcar…
Usar adequadamente a língua é inegavelmente indispensável ao domínio e articulação... ao desenvolvimento e organização de capacidades intelectuais e fundamentalmente a uma maior facilidade de assimilação e conhecimento, de intervenção na realidade exterior e interior...  -consequentemente uma melhor e mais perfeita comunicação…
“A linguagem define o homem” - li algures - “é através dela que o homem se assume perante o seu mundo”; o seu pensamento, as suas ações, os seus sentimentos...
Enfim, quem diria... eu aqui fazendo uma pequena e metódica divagação sobre o meu próprio discurso… procurando comunicar o melhor possível para satisfazer toda esta insaciável necessidade, este estado de emoção psíquica... e transformar em palavras audíveis todos os conteúdos de consciência, que, em determinados momentos, a vida nos oferece pensar...

*

Que desmedida satisfação esta de escrever sobre o que escrevo e sobre a forma mais ou menos correta como o faço!
Não é, realmente, fácil estabelecer objetivamente uma correspondência formal entre a linguagem e a realidade interior[1] e uma eventual exterior[2], mas é uma delícia este lutar constante com as regras e ver como dos signos emergem mares de conteúdo...
Agora…
Não quero sofrer a incapacidade…
Não quero sofrer a complexidade...
Não quero sofrer a imensidade...
Agora…
Apenas pretendo evitar a incorreção… descrever o mais concretamente possível a simples proposição: Água… e a vontade inerente, objetiva, mais elementar e transparente dos líquidos: a sede… a sede de viver!
E tenho sede!... tenho muita sede!
Tenho necessidade não apenas do precioso líquido, mas, sobretudo, tenho sede de expressar e compreender logicamente o que sinto e penso!
Não é de todo perfeitamente linear transmitir conceitos abstratos, sem induzir interpretações divergentes, ou mesmo até conduzir ao próprio erro, mas, o uso da forma mais correta possível da linguagem escrita ou verbal, simplifica a sua assimilação uma vez que é através dela que acabamos por esclarecer/compreender conceitos como Razão, Lógica, Verdade…  até mesmo o equívoco ou a própria banalidade do pensamento!
O signo é hoje pouco “conhecido”, de muito difícil formulação e de mais difícil assimilação... e é do seu desconhecimento que muitas palavras como estas não são minimamente percetíveis!


--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1996-11-19
Imagem: Internet
Obs: Tenho sede… tenho muita sede!
Direitos reservados.

--- / ---




[1] Pensamento
[2] Mundo exterior… realidade…






2018-01-25

0025. Universo intelectual






Perante toda a realidade humana, que se perpetua no mais maravilhoso mistério…
Perante toda a amplitude Universal, que se perpetua no mais deslumbrante mistério…
Perante toda esta consciente incapacidade de abarcar sequer a minha insignificante realidade...
Resigno-me.
Resigno-me e limito-me a saborear a Vida!
Resigno-me e limito-me a delinear todo este precioso universo de intelectualidade onde constantemente me debato.
Mergulho sem saber se a algum lado chegarei... ou sequer ao Fim que terei!
Mergulho acompanhado por Mim... neste admirável vastidão, na mais pura e ampla liberdade (a reflexão clama por calma, plenitude não apenas exterior mas sobretudo interior) …
Eis que afloram, numa incrível sobreposição de conteúdos, imagens reais e imaginárias…
Eis que afloram, num magnificente atropelo psíquico pintando toda esta paisagem de sonho/realidade…

Independentemente do seu próprio significado, ou do sabor que despertam, eis que fica a relatividade destas associações simbólicas deixadas ao sabor da futura realidade...



--- / ---
Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-??
Imagem: Internet
Obs: Resigno-me…
Direitos reservados.

--- / ---