2018-02-01

0032. Realidade





Agora mesmo penso na impossibilidade de abarcar toda a Realidade...
A simples impossibilidade de abarcar a minha própria realidade abate-se sobre a consciência como uma nuvem negra sobre a noite escura...
Agora mesmo penso na essência, na substância consciente e em alguma arte projetada em imagens prosaicas como estas que do nada se vão libertando.
À medida que novas sensações e pensamentos vão aflorando, ocasionalmente, novas imagens surgem... mas a primordial continua…
Continua esta imensa impossibilidade de abarcar a realidade!
Continua esta imensa impossibilidade de abarcar a minha realidade!
Continua esta limitação perante a desmedida imensidade deste precioso momento em que penso...
Agora mesmo penso na sua efémera beleza…
Agora mesmo penso na sua perfeita sensação…
Pudera eu dar-lhe um qualquer eco exterior...
Pudera eu trasladar a sua verdadeira essência a outrem…

Pudera eu despertar alguém…


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-10-03
Imagem: Internet
Obs: Realidade
Direitos reservados.

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2018-01-31

0031. Saudade





Sinto uma certa saudade do tempo em que nem sequer com o tempo me preocupava...
Sinto uma certa saudade do tempo em que só o amor me importava...
Sinto uma certa saudade das genuínas emoções d’infância…
Sinto uma certa saudade das emocionantes controvérsias de adolescência que me deixavam os pelos em pé, dos insaciáveis desejos de perfeição...

Agora procuro essencialmente o bem-estar…
Agora procuro sobretudo o deleite da vida…
Agora, procuro não só o amor… procuro compreender o que aparentemente não se pode compreender no amor…
Agora procuro não só o requinte… procuro essencialmente sentir[1] o deslumbrante mundo desta admirável viagem…
Sinto uma certa saudade das imagens deslumbrantes da adolescência que continuamente afloram no meu ecrã mental… mas agora, que já se foi o recalcado medo de as ocultar à consciência, solto-as e deixo-as desfrutar o momento[2] do corpo…


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Autor: Carlos Silva
Data: 1996-01-12
Imagem: Internet
Obs: Saudade da infância
Direitos reservados.

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[1]Sentir e viver
[2]Presente




2018-01-30

0030. Fim






Não posso reter o tempo nem tão pouco o pensamento...
Um rouba-me uma vida de excelência…
O outro a excelência[1] de uma vida.

Limito-me à efemeridade de sentir e contemplar esta constante metamorfose…
Absorto em Porquês…
De Princípios, Meios, Fins...
Para os quais me falta tempo, fé e pensamento.

Ao ver as Lágrimas Finais de Dali[2] percebi o “seu-medo-do-Fim”
O Fim que ainda não senti!...
Tão somente o medo do seu medo… do Fim.

Limito-me à contemplação efémera destas cinzas…
Ausência absoluta…
Simples grãos de nada que resplandecem sob o olhar do dia a dia...

Limito-me à reflexão do Agora...
Um tempo…
Cujo tempo…
Se perderá irremediavelmente na efemeridade do próprio tempo...
Tempo ao destempo…
Como se tempo não existisse...
Nada!

Limito-me a perpetuar o pensamento…
Noutro tempo…
Noutra palavra de Vida…
Ainda que a vida da minha palavra já se tenha apagado.
Outro Tempo será!
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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-08-04
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Tranquilidade
[2]Salvador Dali – imagens que vi pouco antes do seu Fim.



[1]Tranquilidade
[2]Salvador Dali – imagens que vi pouco antes do seu Fim.
[3]Lágrimas



2018-01-29

0029. Resta-me





Resta-me esta imprecisão…
Resta-me a pureza destas simples palavras que naturalmente brotam das entranhas do meu ser...
Não tenho “engenho” nem “arte” para epopeias ou estruturas rígidas e refletidas...
Gosto do prazer imediato que o mundo interior me confere, cultivando com naturalidade a possível racionalidade… a possível coerência humana…
Gosto de procurar o caminho que julgo mais próximo[1], mais calmo, em oposição à louca correria[2] do mundo exterior que ninguém sabe como terminará…

Gosto do momento deste Sentimento[3]...
Gosto de soltar a relatividade da sua imagem...

Gosto do momento deste Pensamento…
Gosto da claridade deste contemplar, a substância[4] que me permite pensar e desfrutar toda a impotência-do-conhecimento…
Gosto de conhecer… e desconhecer tudo o que me rodeia…

Gosto do que Vivo…
Gosto do que Vejo…
O quão pequeno sou…
O quão pequeno é o meu mundo perante a imensidão do Universo...

Resta-me interferir com realidade que me rodeia…
Resta-me interferir com o que posso alcançar…
Neste precioso momento….
Neste precioso tempo…

Resta-me desenhar este mundo de imagens…
Resta-me articular e artificiar este mundo de sinais e símbolos sem me preocupar com regras, Porquês, Verdades ou Fins... -ténue imagem literal de vida[5]...
Algo será![6]

Resta-me o Sonho...
Uma débil ponte entre uma vida de místico êxtase[7] e a extasiante realidade do dia-a-dia...
Como se de um sonho se tratasse…
Quero simplesmente viver plenamente a realidade deste mundo!

Resta-me essencialmente viver!
Resta-me essencialmente amar!
Resta-me esta arte[8] de comunicar!


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-XX
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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[1]Correto
[2]Falso progresso
[3]Constatar
[4]Vida
[5]De livro
[6]Este mundo
[7] Pessoana
[8]Necessidade




2018-01-28

0028. Sentir-pensar-criar






Eis-me, mais uma vez, perante mim…
Eis-me, mais uma vez, manifestando toda esta cognoscente necessidade de exteriorizar…
Impulsos recônditos embebidos de emoção...
Trazer todas estas imagens à luz da consciência e manifesta-las neste intelecto, deixa nos lábios um delicioso sabor a arte...
Tornar comuns, todos estes vocábulos…
Aperfeiçoar o gesto de sentir-pensar-criar, como o natural hábito de respirar, tornar o mais límpido possível o abstrato, aproximar a Possível-verdade... vivendo simplesmente o presente com todas as suas naturais omissões -até as mais ocultas, onde usualmente inscrevo apenas as mais secretas imagens mentais de realidade -e vendo nascer um suposto livro de natural estrutura de vida, dividido por Capítulos de Tempo é desejo imediato, imperfeito, ainda que ficcionar seja já em si errar (um erro a juntar a tantos erros!)… eis a que aspiro!
A melhor arte literal, a mais pura, a mais autêntica, é esta autêntica realidade!

*

Às vezes sinto que não me divido o suficiente, que não participo, ou não cuido da imagem intelectual dada por entre um copito e dois dedos de conversa, que me permitiria afirmar-me perante o circulo de amizades que me envolve... chego mesmo a distanciar-me, criando apenas o círculo restrito e algo selecionado; na verdade gosto de me afastar e divertir-me comigo mesmo. Nessas ocasiões sou mais intenso, mais profundo... como se convivesse com a mais perfeita e interessante das companhias.
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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-11-12
Imagem: Internet
Obs:
Direitos reservados.
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2018-01-27

0027. Sensação de liberdade







Vivo sem medo…
Escrevo sem medo…
Liberdade plena.
Experimento uma vasta plenitude intelectual… uma vasta sensação de liberdade e de espaço...

Por vezes um qualquer som exterior irrompe, mas passa como o vento no deserto, não despertando em mim mais do que uma banal indiferença...
É este Silêncio que me absorve e me perturba…
É esta Liberdade que me abre as portas da imensurabilidade… da meditação plena…
O ponteiro do tempo continua a sua imparável correria e não adianta quebrá-lo ou retê-lo na palavra porque foge… foge como o vento. Se estivesse no campo ou na praia, com certeza que o sentiria tocar-me -e tão-somente tal, já que possivelmente não o pensaria, como agora o faço, mergulhado nestas quatro paredes de um quarto[1]... de tempo!
Um quarto de hora de liberdade… de silêncio… e tão-somente restam alguns insignificantes ruídos de pensamento já irremediavelmente ofuscados no passado. Da sua essência resta esta letra...
Mas eis que nesta efémera e momentânea frequência emerge a suprema sensação:
A consciência plena do Ser-Algo. A satisfação plena do neste preciso momento ser Eu.
Emoção plena.

*

Regresso à realidade ainda algo embebido no que realmente sinto...
Por vezes nem o que sinto, ou pelo menos penso, sei... algo sinto quando me belisco, como agora o faço... -a dor física é prova disso!
Sinto a liberdade desta admirável luta intelectual no mais íntimo do meu Ser... poderia neste momento abandonar-me e esquecer-me do tempo no seio do meu universo de amizades, ou tão-somente esvoaçar pelo mundo como uma andorinha que livremente rompe o céu... -como seria fácil!... mas não consigo... não posso!
Gosto de sentir-me assim!
Gosto desta Liberdade suprema!
Gosto de Pensar-me!
Gosto de Acariciar-me!
Gosto de aproximar-me da Possível-Verdade!
Gosto de aproximar-me da Possível-Realidade!
(ainda que tão levianamente o faça)
Não sei até que ponto a irei abarcar…
Mas que importa…
Bastar-me-á esta voluptuosa satisfação de continuamente tentar… esta persistente liberdade de sentir… pensar... amar…
Bastar-me-á esta liberdade deste desmedido desassossego.


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Autor: Carlos Silva
Data: 1995-07-25
Imagem: Internet
Obs: Sensação de liberdade…
Direitos reservados.

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[1]Físico